A série de RPGs de estratégia "Fire Emblem" é uma das marcas mais tradicionais da Nintendo em solo japonês, mas apenas nos últimos anos aportou também em terreno ocidental também, cativando fãs do gênero com uma mecânica simples, mas de imensa profundidade, dezenas de possibilidades e dificuldade elevada.
"Fire Emblem: Shadow Dragon" ajuda a corrigir a falha ao apresentar em nosso lado do planeta o primeiro episódio da série, lançado originalmente para Famicom 8-bits em 1990 e em versão refeita para Super Famicom em 1994.
Uma releitura mais do que competente, "Shadow Dragon" sucede em recriar a contagiante experiência estratégia do título original ao mesmo tempo em que o atualiza em termos técnicos em todas as áreas possíveis.
Pedra, papel e tesoura medievalNo que se refere aos controles, a inovação é praticamente nula. O sistema de combate permanece inalterado e isso por si só é um grande trunfo. Com poucos elementos o jogo consegue criar uma legítima partida de xadrez digital. Tudo se fundamenta na relação entre os diferentes tipos de armas: espada vence machado, machado ganha de lança e lança é melhor que espada.
Em cima disso são jogadas as estatísticas básicas presentes em RPGs, como força, destreza e inteligência e habilidades específicas para cada classe. Cavaleiros andam bastante, soldados montados em Pegasus (o mítico cavalo alado das lendas gregas) passam por cima de qualquer terreno, piratas andam sobre água e assim vai.
Para completar a receita de sucesso, cada mapa oferece formatos e peculiaridades únicas, que atiçam o senso estratégico. Como usar um vale para ajudar o ataque de seu exército? Qual a melhor maneira de evitar ser encurralado pelo adversário, que chega em maior número? Um detalhe interessante é que há construções nos mapas, cada uma também com função definida. Casas podem ser visitadas para ganhar dicas, vilarejos fornecem itens, fortes recuperam energia e no depósito de armas pode-se comprar equipamentos.
A dificuldade começa moderada e cresce de forma generosa, mas consistente. Em níveis avançados o nível de complexidade é alto, o que pode ser um pouco frustrante. Algo que piora isso é o fato de não ser possível reviver aliados. Uma vez que um soldado morre ele se vai para sempre, mesmo que seja alguém importante para a história - excetuando-se o herói, o príncipe Marth.
Retoques para um clásicoAinda assim, as mudanças de "Fire Emblem: Shadow Dragon" são perceptíveis logo de cara. O visual foi todo refeito e atualizado, apresentando cores vívidas e personagens bem animados - ainda que com escassez de detalhes. Durante as conversas, destacam-se as artes de Masamune Shirow, que mesmo em ilustrações estáticas consegue definir bem o caráter de cada herói e vilão.
As composições musicais apresentam a competência típica da Nintendo, aqui demonstrando uma veia épica e suntuosa - tão marcante também em Super Smash Bros. Brawl - que só não se destaca mais por conta das limitações de capacidade do próprio DS. De qualquer maneira, difícil não se empolgar durante os combates.
Por se tratar da primeira tradução de um enredo escrito há quase vinte anos e já refeito uma vez, "Shadow Dragon" inclui diálogos bem cuidados e caracterizados. Personagens possuem trejeitos que reforçam suas personalidades e por mais que os diálogos transpareçam clichês batidos e mofados de contos medievais também é difícil caracterizá-los como ruins - eles são exatamente o que se espera deles.
Uma mostra de empenho bacana da Nintendo é a inclusão de personagens e até mesmo capítulos extras, a exemplo do prólogo que serve de tutorial e ainda detalha melhor os motivos para a insurreição bélica do príncipe Marth e seu empenho na reconquista do reino de Altea.
Isso se aplica também diretamente ao sistema de batalha na medida em que novas classes estão presentes e pode-se agora até trocar as profissões de cada soldado.
Seguindo o exemplo da série irmã "Advance Wars", "Fire Emblem: Shadow Dragon" traz ao DS a possibilidade de partidas multiplayer online, com suporte a conversas por voz via o microfone embutido no portátil. As limitações são grandes: apenas embates de um contra um, somente seis mapas disponíveis e exércitos de no máximo cinco unidades.
Ao menos, tudo isso é parcialmente compensado por estabilidade na conexão e ausência total de lag. Ainda assim, a diversão estratégia proporcionada é tamanha que acaba sendo uma falha ter um modo online tão fraquinho.
CONSIDERAÇÕES
Seguindo à risca a cartilha de como se fazer um ótimo remake, a Nintendo consegue com "Fire Emblem: Shadow Dragon" consolidar de vez no ocidente a série de RPG de estratégia. Visual agradável, músicas empolgantes e uma jornada desafiante pontuam a emocionante batalha de reconquista do príncipe Marth. Em meio a tanta competência, o modo online acaba destoando por ser tão escasso em opções. Ainda assim, a qualidade do pacote é tamanha que fica difícil não imaginar um novo "Fire Emblem" aparecendo em breve no DS.