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Seja inútil e envelheça sem crescer: 7 dicas para você ser mais criativo

Rodrigo Casarin

06/07/2017 16h02

Quer ser mais criativo? Que tal ser ruim de verdade em alguma coisa?

É o que propõe Rod Judkins em "A Arte da Criatividade", lançado há pouco no Brasil pela Rocco. O autor é artista e professor da Saint Martin's College of Art, uma das escolas de arte mais importantes do mundo. Na obra, Rod utiliza exemplos de exponentes da criatividade como Salvador Dalí, Einstein, James Joyce e Pablo Picasso para mostrar diversos caminhos férteis ao processo criativo e à busca por soluções inovadoras.

"Em muitos anos ajudando alunos, empresas e negócios de diferentes indústrias e pessoas de várias áreas, de cientistas a burocratas, eu vi em primeira mão como pensar criativamente pode transformar a vida cotidiana. Mostrei como princípios de improvisação do jazz podem fazer a administração de um escritório fluir melhor, como ajudar um empreendedor cuja empresa de mergulho estava ameaçando entrar em falência porque tubarões haviam infestado sua área (resumindo a história: transformamos isso em seu mote de vendas mais interessante) e ajudei uma empresa a vender seus móveis de luxo ao promovê-los como sendo desconfortáveis", conta Rod na introdução da obra.

Em suas dicas, o autor passa por assuntos como arquitetura, literatura, filosofia e ciência, além de relembrar casos famosos no meio artístico, como a batalha de Robert de Niro para que algum diretor aceitasse filmar "O Touro Indomável", a luta diária dos "Beatles" na Alemanha antes da fama e os muitos dias que J. K. Rowling passou sentada em cafés escrevendo a saga de Harry Potter.

Logo nas primeiras linhas do livro, Rod também recorda da primeira vez que encontrou um ambiente realmente favorável ao desenvolvimento da criatividade: quando se tornou aluno de uma escola de arte. "O espírito era de que erros eram bons. Lá você poderia tentar e falhar. Não havia ênfase em 'acertar'. Ao meu redor havia pessoas experimentando só porque podiam, fazendo coisas que não faziam sentido ou porque não faziam sentido. Havia um ar de liberdade e desprendimento. Enquanto isso, em todo o resto do mundo, as pessoas estavam sendo irracionalmente razoáveis, fazendo algo porque era o que todo mundo estava fazendo. Paradoxalmente, o pensamento criativo da escola de arte me levou a mais feitos interessantes do que a abordagem sensata e lógica".

Veja sete dicas de Rod Judkins para aprimorar sua criatividade

Seja praticamente inútil: "Os inovadores genuínos são guiados por suas paixões e não por ambições racionais. Novas ideias vêm de interesses pessoais, mesmo que eles pareçam irrelevantes para as tarefas à mão. As pessoas inovadoras deixam as considerações lógicas de lado porque pensar em logística leva a pensar em lógica, o que freia os saltos que a mente precisa dar para criar algo único" – o comentário é baseado na análise do Juicy Salif, um famoso espremedor de limão que não funciona.

Envelheça sem crescer: "Pessoas criativas não podem se recusar a envelhecer, mas podem se recusar a crescer. Elas mantêm sua atitude brincalhona de criança a vida inteira. Elas entendem que algumas coisas são sérias demais para que sejam levadas a sério. Nunca perdem a vontade de atirar uma bola de neve em um homem de negócios. Toda a criatividade coloca a mente acima da matéria" – na dica, Rod lembra que Paul Cézanne e Alfred Hitchcock, por exemplo, só "vingaram" depois dos 50 anos.

O espremedor Juicy Salif.

Seja o mais incompetente possível: "Quando alguém enfatiza a técnica em vez do conceito, é uma prova de que ele não tem mais ideias. Os verdadeiros criativos não buscam demonstrar destreza, mas têm um interesse sincero em entender e expressar ideias sobre seus temas. Aqueles com mentes mecânicas buscam a técnica perfeita ao perguntar 'como?', mas aqueles com curiosidade buscam entender ao perguntas 'por quê?'.

Planeje mais acidentes: "As pessoas criativas, em vez de se incomodarem com acidentes, ficam intrigadas com eles. Os cientistas mais bem-sucedidos não pensam como cientistas – de uma forma lógica e linear -, mas mais como artistas. Se algo dá 'errado', eles olham para o 'certo' naquilo", escreve Rod para depois lembrar que o vidro que não estilhaça e a borracha vulcanizada, por exemplo, foram criados a partir de acidentes.

Duvide de tudo o tempo todo: "Liberdade para duvidar é o aspecto mais importante da nossa cultura. A dúvida deve ser promovida em toda organização e empresa. Muitos temem as consequências da dúvida, mas é uma porta para um novo potencial; não ter certeza lhe dá a chance de melhorar a situação. É absurdo pensar que nós podemos encontrar tudo o que há para saber apenas escutando especialistas, pais e autoridades sem duvidar ou nos testar". Henry Ford quase destruiu a própria empresa ao "ter certeza" de que todos consumidores iriam se satisfazer com carros pretos.

Seja teimoso, não ceda: "Nós todos sofremos pressão de nossos patrões, parentes e amigos para ceder, mas fazer algo único, algo extraordinário, quase sempre requer que você se negue a comprometer seus ideais. Você não tem nenhuma obrigação de seguir as expectativas dos outros, mas você é o responsável por seguir as suas próprias". Rod cita o escritor Paulo Coelho como exemplo de alguém que não cedeu às pressões

Se você não pode ser bom de verdade, seja ruim de verdade: "Coisas malfeitas podem ser inovadoras. Preparar-se para não estar na moda ou ser meio nerd pode ter seu charme. É uma forma de mostrar que você não se importa com o que os outros pensam. O mundo está cheio de pessoas que dedicam suas vidas a buscar aprovação. Focar a credibilidade crítica ou o sucesso comercial pode ser muito mais limitante do que contar com paixão e entusiasmo, o motor que abastece a criatividade".

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.