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Ele era apenas um fã de "Star Wars", hoje é fonte de pesquisa para roteiros

Pablo Hidalgo (dir.) cumprimenta o ator Mark Hamill durante a Star Wars Celebration 2016, em Londres - Ben A. Pruchnie/Getty Images for Walt Disney Studios
Pablo Hidalgo (dir.) cumprimenta o ator Mark Hamill durante a Star Wars Celebration 2016, em Londres Imagem: Ben A. Pruchnie/Getty Images for Walt Disney Studios

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

26/05/2017 04h00

Em 40 anos da existência da saga “Star Wars”, quantos planetas compõem a República e quantos compõem o Império? Quantos personagens já foram criados entre filmes, livros e séries animadas?

Podem parecer perguntas complexas, mas existe uma pessoa que é capaz de responder a todas essas questões com tanta propriedade que acabou sendo contratada pela Lucasfilm apenas para auxiliar os roteiristas da franquia a não cometer erros, repetir conflitos ou mesmo praticar imprecisões galácticas.

Para "Star Wars", o canadense Pablo Hidalgo é uma fonte inesgotável daquilo que muitos podem considerar “cultura inútil”, mas que tem papel fundamental em uma das indústrias mais lucrativas do mundo.

Hidalgo começou sua carreira de executivo de criação na produtora criada por George Lucas por volta do ano 2000. Até então, ele era apenas um geek fascinado pelas histórias dos Jedi, que tinha feito um trabalho de freelancer para um dos editores que escrevia livros sobre a saga. Contratado inicialmente como redator do site da Lucasfilm, seu trabalho era responder dúvidas de fãs.

Ele conversou com a reportagem por telefone para falar um pouco sobre os 40 anos desta franquia e contou, entre outras coisas, o que jamais saberemos sobre “Star Wars”, onde encontra respostas para as questões mais obscuras e por que Darth Vader consegue ser mais popular que os próprios Jedi.

UOL - Quando foi a primeira vez que você viu “Star Wars”? Foi obsessão à primeira vista?
Pablo Hidalgo -
Na verdade, eu não me lembro de quando foi a primeira vez, porque o filme foi lançado quando eu tinha apenas dois anos. Eu acho que foi acontecendo a cada vez que o filme era relançado. E naquela época era algo que toda criança era fã. Então eu não me reconheço como fã até mais ou menos o final dos anos 1980, quando mantive meu interesse pelos filmes, enquanto outras pessoas seguiram a vida.

O que te faz gostar tanto de “Star Wars”?
Para mim, o que sempre me chamou a atenção nem era tanto a história, mas as naves e a tecnologia. E especialmente meu personagem favorito, o R2-D2. Era mais o visual mesmo. À medida que fui crescendo, no entanto, eu comecei a apreciar a história. E isso me despertou o interesse sobre como os filmes eram feitos e como o seu visual era criado.

Como você conseguiu seu emprego na Lucasfilm?
Eu fiz um trabalho como freelancer para um dos editores dos livros. Então escrevi alguma coisa sobre. Em 2000 eu vi um anúncio no site da Lucasfilm. Eles estavam procurando um redator para o site deles. Me inscrevi e consegui o trabalho. Meu trabalho mudou muito ao longo dos anos.

Seu trabalho inicial era responder “questões profundas sobre o universo 'Star Wars'” aos fãs, certo? Quais eram as perguntas mais comuns?
Dependendo do filme que havia sido lançado na época, as pessoas perguntavam coisas sobre aquele filme, que seriam respondidas no filme seguinte, o que me impedia de responder.

Darth Vader - Reprodução/Comic Book - Reprodução/Comic Book
Para Pablo Hidalgo, Darth Vader é mais popular do que Jedi por conta de seu design
Imagem: Reprodução/Comic Book

E quais eram perguntas mais obscuras?
As pessoas querem muito saber a história do Yoda. Querem saber de onde ele veio, a qual espécie pertence. Esta é uma história que George Lucas decidiu nunca detalhar. E nós temos mantido isso na saga, porque não queremos desmistificar Yoda.

E por que você acha que as pessoas parecem gostar mais do Darth Vader que dos Jedi?
Honestamente eu acho que é por causa do visual. O design dele é muito bom…

É por causa de moda e poder, então?
Exatamente. Preto brilhante tem muito mais apelo que algodão marrom.

Qual é seu trabalho agora?
Executivo de criação.

E o que você faz exatamente?
Eu faço parte do grupo de desenvolvimento das histórias. Ajudo a criar as histórias, definindo em conjunto quem estará na história, onde ela vai acontecer e como. Meu dia a dia é responder perguntas dos roteiristas como “qual o futuro da história?”, “o que já foi contado antes?”, “qual deve ser o ponto de partida?”.

Então você trabalha diretamente com roteiristas e diretores… Para “Rogue One”, por exemplo, quais eram as principais dúvidas, já que a história acontece entre os episódios 3 e 4?
Eles queriam muito saber detalhes sobre o desenvolvimento e construção da Estrela da Morte. Qual era a conjuntura política no universo “Star Wars”? E eu respondi muitas questões sobre a Aliança Rebelde.

E onde você encontra essas respostas?
Muitas delas eu peguei em livros escritos, outras eu peguei de entrevistas que o George Lucas deu ao longo dos anos. Outras a gente sabe de detalhes da produção dos filmes anteriores. Os livros são escritos por pessoas que trabalharam com ele no passado. Aliás, nós também ajudamos essas pessoas a escrever essas histórias, dando elementos e esclarecendo dúvidas sobre a saga.

Eu li que George Lucas sempre deu diretrizes sobre o que poderia ou não acontecer com este ou aquele personagem. Você poderia contar algumas delas?
Muitas dessas diretrizes vêm do trabalho que ele sempre se manteve fazendo ao longo dos anos. Por exemplo, a série de animação, que tem mais de cem episódios, foi toda baseada em material desenvolvido pelo próprio George Lucas. Ali temos toda a filosofia dele. Agora, um exemplo que tenho é sobre um personagem de um Jedi que era pra ser medroso. George disse: “Se você é um Jedi treinado, você não tem medo. Ter medo não é coisa de Jedi.”

Nestes 40 anos, qual o momento mais importante da saga?
Obviamente o começo. Não fosse assim, nem estaríamos aqui falando disso. Aquele filme que ninguém sabia ou acreditava que seria um sucesso. E funcionou?