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Drogas, enterros e Steve Jobs: as histórias mais loucas da Atari

Logo clássico da Atari - Reprodução
Logo clássico da Atari Imagem: Reprodução

Do Gamehall, em São Paulo

01/04/2017 11h10

Em 1972, após criarem um jogo eletrônico de pouco sucesso conhecido como "Computer Space", a dupla de engenheiros Nolan Bushnell e Ted Dabney formaram uma pequena empresa conhecida como Atari Incorporated.

Desta simples empreitada surgiu uma das companhias mais influentes dos últimos 50 anos, responsável não só pela solidificação dos jogos de videogame como uma indústria poderosa, como também por uma revolução na cultura das empresas de tecnologia, mudando o perfil de profissionais de terno e gravata para o pessoal descolado que é associada com este setor nos dias de hoje.

É claro, por ser pioneira em tantos aspectos, a Atari tem sua parcela de histórias bizarras e curiosas, que vão desde sua cultura de trabalho até seu infame queda graças ao jogo de "E.T.: O Extraterrestre".

Por isso, UOL Jogos separou algumas das histórias mais loucas que aconteceram durante a era de ouro da empresa, entre os anos 70 e 80.

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    Um ex-hippie e anarquista criou o game mais importante de todos os tempos

    Allan "Al" Alcorn é um homem fascinante.

    Nascido em São Francisco, ele cresceu no distrito de Haight-Ashbury - núcleo do movimento hippie - e estudou engenharia na Universidade de Berkeley no auge dos protestos e conflitos entre policiais e estudantes.

    Nos anos 70, Alcorn era funcionário da empresa Ampex, sendo colega de trabalho de Dabney e Bushnell. Em 1972, a dupla ofereceu um emprego na Atari por US$ 1 mil por mês e 10% de suas ações - o que, na época, era 10% de nada.

    Apesar de ter um salário melhor dentro da Ampex, o auto-declarado "ex-hippie e anarquista" gostou da ideia de criar jogos, e no mínimo seria uma história interessante de se contar aos amigos e família quando a empresa inevitavelmente fosse à falência.

    Seu primeiro projeto dentro da Atari era o de criar um jogo mais simples do que "Computer Space", com "inspiração" em um game de tênis que Bushnell havia visto para o seu maior competidor, o Magnavox Odyssey.

    Este projeto acabou se tornando "Pong", a primeira grande febre do mundo dos jogos eletrônicos e que transformou a Atari em uma empresa de sucesso do dia para a noite.

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    Qualquer um era contratado para fazer máquinas de "Pong"

    Com o sucesso inicial de "Pong", Bushnell e Dabney viram uma oportunidade de ganhar ainda mais dinheiro com a fabricação de suas próprias máquinas de fliperamas.

    Havia um problema: era fisicamente impossível para Bushnell, Dabney e Alcorn criar todas as unidades sozinhos, já que a demanda rapidamente chegou na casa de dezenas de milhares de máquinas.

    Por isso, a Atari começou a contratar essencialmente qualquer pessoa para a criação das cabines de "Pong", desde ex-funcionários da Ampex e outras empresas de tecnologia da região até hippies, mendigos e hippies mendigos que viviam nos arredores da fábrica da empresa.

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    Sexo, drogas e videogames

    Por estar em um dos epicentros do movimento hippie, a Atari acabou ficando conhecida como um dos pólos da "contra-cultura" dos anos 60 e 70, com um ambiente de trabalho regado a drogas e sexo.

    "Era um ambiente selvagem", disse Bushnell ao jornalista David Kushner. "Era depois da revolução 'flower power', liberação feminista, sem AIDS ainda e muitos romances de escritório."

    Não entenda mal, os funcionários eram extremamente dedicados ao serviço de desenvolver e fabricar as máquinas da Atari, mas eles eram igualmente dispostos a se divertir e extravasar sua energia da forma que quisesse - tudo com aval de Nolan Bushnell.

    "Não importo quando você vem trabalhar", disse certa vez aos funcionários. "Eu não me importo se você venha trabalhar. Não me importo com o que você vista. Não me importo se trouxer seu cachorro. Não me importo se trouxer um engradado de cerveja. Faça o seu trabalho. Você é um adulto, e vou tratá-lo como um adulto."

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    A grande rival da Atari... criada pela própria Atari

    Para burlar os acordos de exclusividade feitos com distribuidoras e fabricantes de fliperamas, Bushnell criou uma solução inusitada: formar uma empresa rival da Atari.

    Foi assim que surgiu a Kee Games, liderada por Joe Keenan - amigo e vizinho de Bushnell -, que à primeira vista era apenas uma entre várias outras empresas a criar "clones" de jogos da Atari - mas com desenvolvedores e aval da própria companhia.

    Ironicamente, a Atari se viu forçada a adquirir a Kee Games após Bushnell substituir Ted Dabney por uma diretoria pouco qualificada para a administração da empresa, o que levou a demissões em massa e venda de subsidiárias. A companhia até se recuperou em parte graças a um dos jogos originais da "rival": o icônico "Tank", de Steve Bristow e Lyle Rains.

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    O jovem Steve Jobs

    Em 1974, um hippie de 19 anos foi até o hall de entrada da Atari pedindo por um emprego. Ao ser perguntado se o rapaz deveria ser preso ou permitido na empresa, Al Alcorn respondeu: "Deixe ele entrar!"

    Foi assim que começou a carreira de Steve Jobs dentro da indústria da tecnologia.

    Em sua carreira dentro da Atari, Jobs já era conhecido por sua arrogância e mau humor. Além disso, seus hábitos de não tomar banho e andar descalço pelos escritórios da empresa eram demais até para os colegas de trabalho, levando-o a trabalhar no turno da madrugada. Seu maior momento foi com o jogo "Breakout", uma mistura de "Pong" e squash em que o jogador deve destruir uma parede com vários níveis rebatendo a bolinha.

    Como um desafio extra, Bushnell prometeu um bônus de US$ 5 mil para quem criasse o jogo com menos de 120 chips de circuito integrado. Jobs aceitou o desafio, e quatro dias depois voltou com a "peça de arquitetura mais engenhosa que vi na vida", de acordo com o engenheiro Harold Lee.

    A verdade é que Jobs havia pedido ajuda a seu amigo e gênio da computação Steve Wozniak no design do projeto, prometendo dividir a grana - mas sem mencionar o bônus prometido por Bushnell, dando apenas parte dos US$ 700 base pagos pelo jogo.

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    Nolan Bushnell perde uma oportunidade única

    Em um certo dia, Steve Jobs perguntou para Nolan Bushnell se ele não gostaria de investir US$ 50 mil em uma empresa de computadores que ele e Wozniak estavam montando, chegando a prometer um terço das ações da companhia.

    Embora gostasse de Jobs e Woz, Bushnell recusou a oferta, acreditando que seria um investimento perdido.

    É claro, este investimento perdido acabou virando nada menos do que a Apple, uma das maiores e mais importantes empresas do mundo.

    Na biografia oficial de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson, Bushnell declarou: "Eu fui esperto, então disse não. É divertido pensar a respeito disso, quando não estou chorando pra dormir."

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    Ex-funcionários insatisfeitos criam a maior produtora de games do mundo

    No fim dos anos 70, a Atari já era uma entidade bem diferente. Bushnell havia vendido a empresa para a Warner Communications para garantir que o console Atari 2600 pudesse ser fabricado em massa, mas foi removido da companhia por uma disputa com executivos sobre sua direção futura.

    Em maio de 1979, quatro programadores de jogos - David Crane, Larry Kaplan, Alan Miller, and Bob Whitehead - foram até o CEO Ray Kassar para que a Atari desse crédito aos criadores de games, como gravadores faziam com artistas musicais.

    De acordo com Kaplan, Kassar os chamou de "designers de toalha" e disse que "qualquer um pode fazer um cartucho".

    Extremamente ofendidos, os quatro deixaram a companhia e formaram sua própria empresa, a Activision, que não só foi responsável por alguns dos melhores jogos do Atari 2600, como "Pitfall" e "River Raid", como até hoje é considerada a maior produtora e publisher de games no mundo, sendo responsável por marcas como "Call of Duty" e "Destiny", além de jogos da Blizzard como "World of Warcraft" e "Overwatch".

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    O enterro de cartuchos de "E.T."

    A este ponto é impossível falar da Atari sem mencionar o símbolo máximo de sua queda.

    Após o fracasso de vendas do jogo baseado em "E.T.: O Extraterrestre" - ainda considerado um dos piores games de todos os tempos -, a Atari precisava se livrar do estoque extra que havia acumulado.

    Por isso, a empresa enterrou milhares de cartuchos de jogos - principalmente os de "E.T." - entre outros produtos em um aterro na cidade de Alamogordo, no Novo México.

    A história havia virado lenda entre entusiastas de games, até que o "tesouro" foi desenterrado como parte do documentário "Atari: Game Over", que pode ser conferido na Netflix.