Topo

Far Cry 3

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

05/12/2012 14h52

Em "Far Cry 3" a Ubisoft soube reunir os melhores elementos dos dois games anteriores e acrescentar uma quantidade considerável de conteúdo para entreter o jogador. Mais ainda, o game traz personagens cativantes e uma experiência de jogo memorável, digna do limiar desta geração. O game se inspira em títulos como "Assassin's Creed", "Red Dead Redemption" e "Tomb Raider" para construir um mundo rico, diversificado e divertido, mas com identidade própria e elementos únicos e gratificantes.

Além das excelentes decisões de design, "Far Cry 3" também é o resultado do desenvolvimento mais preocupado com a experiência de jogo em si do que com publicidade. O jogo, que viria em agosto foi adiado e só saiu em dezembro. O tempo extra para polimento e aperfeiçoamento foi muito bem empregado pela Ubisoft, mostrando que uma franquia de sucesso não precisa ser construída com lançamentos anuais e marketing agressivo, mas sim com dedicação e criatividade.

Introdução

"Far Cry 3" é um jogo de tiro em primeira pessoa ambientado nas ilhas Rook, um paraíso tropical dominado por piratas, escravagistas e traficantes. Aqui, você é Jason Brody, um rapaz mimado que se vê envolvido em uma luta desesperada pela sobrevivência. O game oferece um mundo aberto para explorar, cheio de atividades, colecionáveis e muita ação. Para completar o pacote, há uma campanha cooperativa para até 4 jogadores e multiplayer competitivo.

Jason e seus amigos são jovens californianos riquinhos que decidem passar férias na ilha, mas acabam raptados por Vaas e seus piratas. Em uma sequência eletrizante, Jason escapa e foge para a selva, onde precisa deixar de ser um garoto e se tornar um homem, dominar as técnicas de combate e sobrevivência dos guerreiros locais e, enfim, resgatar seus companheiros.

Pontos Positivos

Personagens marcantes

A sequência inicial de "Far Cry 3" está entre as mais eletrizantes já feitas. Você é apresentado rapidamente ao personagem principal e seus amigos para, em seguida, lidar com Vaas, um pirata completamente insano, falastrão, violento e muito bem representado. Vaas é um vilão sádico e cruel, daqueles que amamos odiar.

Além dele, o elenco de apoio conta com outros personagens marcantes, como o 'doidão' Dennis, a líder guerreira Citra e o pervertido Buck, só para citar alguns. A interpretação caprichada dos atores envolvidos no jogo é ressaltada pela tecnologia: o elenco conta com rostos muito bem construídos, que transmitem bem suas expressões e variações de humor.

A trama de "Far Cry 3" rende entre 20 e 24 horas de jogo, e você vai precisar fazer algumas missões paralelas, principalmente liberar torres de rádio e bases inimigas, até chegar ao final. Há uma boa diversidade de missões na campanha, mais lineares do que as aventuras secundárias de Jason. É notável como o jogo flui de forma elegante entre as missões principais e o mundo aberto, sem perder a força da narrativa - e o mérito disso está tanto nos personagens de apoio quanto no próprio Jason Brody, que não é o típico 'garoto de recados' tão comum nos jogos de aventura.

Até mesmo  os amigos de Brody, personagens extremamente deslocados em meio à selvageria da ilha, são desenvolvidos o bastante para que você queira conversar com eles e descobrir mais sobre o passado dessa turma, através de flashbacks que rolam ao longo da campanha.

Paraíso dos jogos de ação

As ilhas Rook, cenário de "Far Cry 3", compõem não só um cenário fantástico, mas também um dos melhores 'mundos abertos' já criados. Com seus vilarejos, muitas florestas, rios, lagos, cavernas, ruínas antigas, 'bunkers' da Segunda Guerra e muitos segredos, não se pode reclamar de tédio ou falta do que fazer ao vagar pelo território.

Esse arquipélago é habitado por piratas e pelos guerreiros Rakyat, que se tornam aliados de Jason. Porém, também é o lar de todo um ecossistema selvagem, formado por muitas criaturas, entre elas porcos, veados, antas e tartarugas inofensivas, mas também vários pássaros, cobras, dragões de komodo, tigres, leopardos, tubarões e várias outras. Há, inclusive, animais raros que só aparecem em missões específicas, como a Pantera Negra, o Tigre Dourado ou o Urso Imortal.

Essa fauna não fica esperando Jason passar por ela, pelo contrário: os animais caçam, atacam pessoas nas estradas e podem atrapalhar e até mesmo dizimar seus inimigos se bem 'conduzidos' por um jogador criativo.

Há várias missões e atividades secundárias, que vão de jogos de pôquer até contratos para matar piratas específicos, mas as melhores missões paralelas envolvem tomar as torres de rádio e as bases dos inimigos.

As torres de rádio introduzem um elemento claramente inspirado em "Assassin's Creed", em que você precisa subir até um ponto alto no cenário para 'abrir o mapa' da região. A escalada de cada torre é um pequeno puzzle e é preciso se pendurar em beiradas, andar em vigas, subir por cordas e por aí vai, até chegar ao rádio no topo. Como recompensa, além do mapa identificando pontos de interesse na área, você libera armas novas nas lojinhas da ilha.

As bases inimigas, pesadelo dos jogadores em "Far Cry 2" por conta de péssimas decisões de design que faziam com que os bandidos voltassem a ocupar o acampamento depois que você passava por lá, agora são as missões mais divertidas do jogo. Você pode abordar esses lugares por qualquer ângulo, marcar os inimigos com uma câmera - herança do primeiro "Far Cry" - e eliminar seus alvos da forma que preferir, seja com ataques furtivos com sua faca ou um rifle de precisão, seja partindo para cima no melhor estilo "Rambo", com direito a flechas incendiárias e explosões ou muitas outras possibilidades. Há um bônus de experiência para dominar a base sem que os vilões ativem os alarmes, mas você pode passar de atacante a defensor quando os reforços chegam para a briga.

Há também colecionáveis, como cartas dos soldados japoneses da Segunda Guerra, relíquias sagradas e cartões de memória, entre outras, que muitas vezes levam Jason em missões de exploração dignas de "Tomb Raider" e "Uncharted", visitando cavernas, ruínas e templos esquecidos no meio da selva.

Para viajar pelo arquipélago, você pode ir a pé, se esgueirando e caçando na selva, ou pegar veículos como carros velhos, jipes, quadriciclos, lanchas, jetskis e asa-deltas. Há tirolesas que permitem não só um deslocamento rápido mas também ataques furtivos: Jason pode, literalmente, 'cravar a faca na caveira' dos piratas. O herói conta com um belo arsenal, que pode ser adquirido dos inimigos, comprado em lojas ou desbloqueado de graça conforme toma torres e cumpre missões.

Entre as armas, se destacam o arco e flecha e o lança-chamas, que faz um retorno triunfal de "Far Cry 2" - a física bem construída permite incêndios fantásticos e imprevisíveis, inimigos correndo em chamas e, claro, mortes fumegantes para jogadores descuidados. O arco é mais difícil de dominar, mas permite abordagens tanto furtivas quanto entradas explosivas, dependendo das flechas que você utilizar.

Conforme avança na história, Jason se torna um cara mais durão - mudança que é visível em sua personalidade e suas falas - e isso é muito bem representado pelo sistema de experiência e evolução: você ganha tatuagens ao progredir no jogo, cada uma representando uma nova vantagem ou habilidade, como mais traços de vida, melhor precisão nos tiros ou novos ataques furtivos - mate o primeiro alvo com a faca, então jogue a faca dele no pirata mais próximo, por exemplo, ou então puxe o pino da granada de sua vítima e chute o cadáver explosivo para cima dos soldados inimigos.

Mesmo se não tivesse uma ótima história e personagens marcantes, "Far Cry 3" seria um jogo muito recomendável graças ao seu vasto e imprevisível mundo aberto, cheio de atividades e liberdade de ação. O simples fato de nunca tirar você do controle de Jason já coloca este game acima da maioria dos grandes títulos de tiro disponíveis atualmente.

Pacote completo

Além da aventura para um jogador, "Far Cry 3" traz também uma campanha cooperativa para até quatro jogadores e um modo multiplayer competitivo, assim como um editor de mapas bastante funcional.

A campanha cooperativa é uma história a parte da aventura de Jason, mas que tem relação com a história. É uma campanha mais voltada para a ação imediata, com uma animação inicial que explica o roteiro: um navio e toda sua tripulação é vendido para os piratas de Rook por um capitão safado. Entre os passageiros, há quatro personagens durões e estereotipados - como o policial aposentado, o traficante do leste europeu e por aí vai - que se unem para escapar, sobreviver e dar uma lição em seus captores. São seis mapas bem divertidos, com alguns momentos bastante criativos, que rendem algumas horas extras de jogo.

O multiplayer competitivo, por sua vez, não traz nenhuma modalidade inovadora, mas possui sua própria árvore de habilidades, armas e equipamentos para desbloquear e tudo que é necessário para envolver o jogador por mais tempo em "Far Cry 3". Os modos de jogo envolvem captura e defesa de territórios, além do mata-mata em equipe. Por falar em equipe, "Far Cry 3" é um dos raros jogos de tiro em que o trabalho em grupo faz diferença na vitória em cada partida.

Mesmo sem grandes novidades, o multiplayer de "Far Cry 3" tem bons mapas inspirados nas ilhas do jogo, um bom sistema de evolução e o divertido desfecho das partidas, em que o melhor jogador do time vencedor captura o melhor do time perdedor e decide se vai ser piedoso - e dar somente uma surra no adversário - ou se vai executá-lo. São detalhes que garantem uma personalidade própria ao multiplayer de "Far Cry 3", coisa muito bem vinda quando tantos jogos tentam apenas ser mais um "Call of Duty".

Localização caprichada

Não há dublagem na versão brasileira de "Far Cry 3", mas o game conta com opção de legendas e menus em português do Brasil. É um trabalho digno de nota, caprichado e bem revisado. A leitura soa natural, sem expressões fora de contexto ou suavizadas, como é comum em outras produções. Não se perde a excelente interpretação dos atores por trás de Vaas, Citra e sua turma, e facilita ao jogador não fluente em inglês acompanhar e se divertir com a história. Um exemplo que deveria ser seguido por outras produções em suas versões verde-amarelas.

Pontos Negativos

Limitações dos consoles

Se você tiver a opção, jogue "Far Cry 3" no PC. É a experiência ideal, graças ao DirectX 11, com o máximo de detalhes possíveis, um  prato cheio para os fãs de gráficos excelentes. Nos consoles, a fidelidade visual é alta, mas cobra seu preço: além da vegetação menos densa e a ausência de alguns efeitos de luz solar, há uma perceptível queda na taxa de quadros por segundo.

"Far Cry 3" é um daqueles jogos no limiar entre a atual geração de consoles e a próxima e, por isso, a superioridade do jogo no PC é indiscutível. Porém, quem pegar o jogo para PS3 ou Xbox 360 não vai achar ruim, insuportável ou impossível de jogar. Muito pelo contrário, é um game imperdível e um dos mais divertidos e envolventes 'mundos abertos' que você pode visitar.

Nota: 10 (Imperdível)