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Minecraft

GUILHERME SOLARI

Colaboração para o UOL

01/12/2011 16h57

A nota 9 desta análise deve ser encarada com ressalvas. Os gráficos jurássicos, a jogabilidade sem objetivo, o estímulo do criar pelo criar; essas características de “Minecraft” não apelam em nada a grande parte dos gamers. Jogadores que decerto há meses coçam a cabeça estupefatos se perguntando o que diabos os outros vêem nesse jogo desavergonhadamente quadriculado. E não há problema algum com isso.
 
As falhas de “Minecraft” não são poucas. Francamente, o jogo no seu estado de “lançamento” está praticamente tão inacabado quanto a um ano atrás. Mas se a jogabilidade fizer sentido para você as falhas pouco importam e não é exagero algum dizer que “Minecraft” oferece uma experiência única nos games.
 
Você pode se perder construindo obras faraônicas com amigos, explorando um mundo aleatório de surpreendente variedade, simplesmente tentando sobreviver, ou customizando o próprio jogo com as milhares de modificações criadas pela comunidade de usuários. É um testamento do potencial criativo e de entretenimento dos videogames. Aos convertidos, não há outro jogo que consegue transmitir a mesma sensação de maravilhamento e liberdade. Um jogo que pode te levar a dedicar, não horas, mas meses da sua vida a cavoucar e empilhar bloquinhos. E a adorar cada instante.

Introdução

“Minecraft” é um fenômeno independente que transformou em milionário um sueco com gosto duvidoso para chapéus – o programador Markus “Notch” Persson. Criado sozinho pelo próprio Notch até explodir pelo sucesso tecla a tecla na internet, “Minecraft” gera mundos aleatórios que podem ser explorados livremente e hoje possui milhões de jogadores.
 
O jogo se popularizou mesmo por seu uso como “caixa de areia”, na qual os usuários construíam obras monumentais e espalhavam seus resultados pelas redes sociais, especialmente o YouTube. O título está em constante modificação desde que entrou em alpha e começou a ser jogado em 2009, e mesmo após o seu recente “lançamento” ele continua a ser aprimorado e a receber novo conteúdo.

Pontos Positivos

Faça o que quiser

“Minecraft” não te dá nenhum objetivo sobre o que fazer e até a tímida “aventura” adicionada nas últimas atualizações pouco fez para mudar esse quadro. Mas se isso pode incomodar alguns jogadores, essa é uma das maiores razões do sucesso do game: deixar o usuário criar o seu próprio objetivo.
 
Você não ganha nada ao levantar uma torre que atravesse as nuvens além da satisfação de tê-la construído. Uma vez botei na cabeça que meu objetivo seria andar em direção do Sol no modo hardcore – no qual a morte deleta todo o seu progresso – e ver quantos dias e noites sobrevivia como andarilho, enfrentando zumbis e esqueletos durante as noites. Uma vez construí uma “Taverna UOL Jogos”, completa com réplica tosca da redação e um laboratório submarino para conferências. Só porque deu vontade.
 
Mais brinquedo do que jogo, “Minecraft” convida o jogador a criar o seu próprio propósito e tratar seu mundo como um imenso playground, lhe proporcionando as ferramentas para dar asas à imaginação. E é surpreendente como as horas se esvaecem com essa experiência tão simples.

Modificações

A liberdade encontrada dentro do jogo para fazer o que quiser se estende até fora de “Minecraft”, permitindo a você tunar o game da forma que quiser. A quantidade de modificações criadas pela comunidade é absurda, com milhares de mods disponíveis, e igualmente absurda é o quanto elas podem mudar a experiência.
 
Os gráficos podem se tornar fotorealistas, novas criaturas e itens serem criados, tipos diferentes de mundos gerados. Os mais pacientes que se dispuserem a mexer debaixo do capô podem mudar de tudo e inclusive contornar muitas das falhas ou funções inacabadas do game. Como exemplo, confira aqui uma breve amostra de alguns mods de “Minecraft”.

Multiplayer e comunidade

Com os amigos certos, a experiência multiplayer em “Minecraft” é extremamente divertida. Manter um servidor com uns poucos companheiros proporciona uma surpreendente a sensação de ‘estar em casa’ sempre que você se logar por lá, construindo estruturas gigantescas ou apenas explorando o mundo sem destino. A outra metade da diversão está em visitar servidores criados pela comunidade, explorando os mundos dos outros jogadores, muitos de derrubar o queixo pela complexidade.
 
“Minecraft” deu um salto de jogo a fenômeno cultural, formando comunidades particularmente ativas, preenchendo wikis sobre o jogo – indispensáveis para compreendê-lo dada a parca documentação – e conversando em fóruns, blogs, redes sociais. Diversos vídeos de narrativas de aventuras no YouTube têm milhões de visitas.

Continua o mesmo

Apesar de ter sido lançado no Xbox 360 com uma versão já ultrapassada em relação ao seu irmão mais velho para PCs, “Minecraft” mantém a mesma fórmula original responsável pelo seu sucesso. O mundo quadriculado está de volta com paisagens que misturam praias, montanhas de neve, desertos, florestas e cerrados. Voltam também as misteriosas cavernas que abrigam todos os tradicionais monstros e os calabouços cheios de tesouros para minerar.

Quem já conhecia a primeira versão certamente vai se sentir em casa e curtir como se fosse a primeira vez, enquanto os novos jogadores terão a oportunidade de conhecer um jogo bem diferente do convencional.

 

Multiplayer na Live

A principal novidade fica por conta da ótima rede online da Microsoft Live, que permite a união de até oito jogadores simultâneos em um mesmo mundo, aproveitando-se ainda dos grupos de chat para conversação por voz.

Em vez de obrigar o uso de um software para criar um servidor, como ocorre nos PCs, basta que qualquer dono de Xbox 360 crie um mundo e o deixe aberto para a entrada de seus convidados. Feito isso, a aventura de uma única pessoa pode ser compartilhada entre todos, mas isso só funcionará enquanto o jogador inicial estiver online, com o game aberto. Caso contrário ninguém terá acesso.

Apesar de parecer limitado, esse sistema funciona muito bem e raramente sofre com algum problema de conexão. É incrível como um mundo de “Minecraft” compartilhado pode ser divertido, ainda mais se todos resolverem criar algo em conjunto, como uma construção ou até mesmo uma enorme cidade.

Por fim, há ainda a opção do multiplayer offline com tela dividida entre até quatro jogadores, experiência similar à anterior, mas um pouco atrapalhada pela redução da imagem e a estranha necessidade de televisores em alta definição.

Controles adaptados

Uma pergunta que muitos usuários de PCs fazem é se os controles de Xbox 360 pioraram a mecânica do jogo, tornando-a mais lenta ou confusa. A resposta é não, já que foi feito um excelente trabalho de adaptação para o console.

Os menus, por exemplo, são facilmente editados com o uso dos quatro botões A, B, X e Y em conjunto com os de ombro RB e LB. Além disso, quando for preciso construir algo mais elaborado, as caixas de ferramentas e os próprios menus do jogo já apresentam os itens necessários para absolutamente todas as montagens, o que reduz consideravelmente o tempo gasto na seleção de blocos e outros objetos.

Basta que o jogador tenha todos os itens necessários em seu menu principal para poder automaticamente criar algum outro objeto. Esse sistema também ajuda os novatos a conhecerem todos os tipos de materiais que podem ser coletados, servindo como uma espécie de guia para iniciantes, algo que não existe nos PCs.

Pontos Negativos

Gráficos

Um ponto polêmico. Apesar de muitos fãs considerarem os gráficos de "Minecraft" resultado mais de uma escolha estética nostálgica do que "tosquice" propriamente, chega a arder a vista olhar para os blocos de “Minecraft” depois de descolá-la de títulos modernos.

Falta de documentação

Um jogo com tamanha riqueza de opções implora por tutoriais ou uma enciclopédia interna. A postura de “segue teu rumo, garoto” poderia ser amenizada para diminuir a frustração dos novatos. “Minecraft” possui centenas de itens que podem ser construídos, mas boa sorte em descobrir como fazer um deles sequer dentro do jogo, já que ele não te fornece nenhuma dica ou receita.
 
Justiça seja feita, não é difícil encontrar informações completas e atualizadas nas wikis online mantidas pela comunidade, mas elas poderiam ser melhor integradas dentro do próprio game para evitar o festival constante de "alt-tabs".

Inacabado

Sim, apesar de estar em constante desenvolvimento há dois anos e sofrer diversas modificações até ser “lançado” agora, “Minecraft” ainda é um jogo repleto de ótimas ideias implementadas pela metade.
 
O avanço com experiência pouco influencia no jogo, os NPCs dos vilarejos não fazem nada além de encarar o jogador com cara de bobo, há um chefão pouco empolgante - meio que só pra falar que tem -, os "achievements" são poucos, a implementação do multiplayer para criar um servidor não é integrada ao jogo, mods não possuem suporte nativo, bugs ainda são relativamente comuns e a lista ainda vai longe.
 
O jogo continua a ser aprimorado pelo estúdio Mohjang e novo conteúdo adicionado, mas o lançamento real de “Minecraft” como produto final ainda está distante. É um surpreendente testamento do quanto “Minecraft” é viciante o fato de que a longa lista de problemas é relevada a meros detalhes enquanto você joga.

Incompleto

“Minecraft” para Xbox 360 só não é perfeito por não apresentar (em seu lançamento) a mesma versão dos PCs. Enquanto nestes últimos existe o modo de sobrevivência ou criativo, com presença de pontos de experiência e encantamento de armas, seu irmão mais novo ainda está longe disso, contendo apenas os blocos clássicos da série, como terra, pedra e madeira, além dos outros minerais encontrados em cavernas.

Para os iniciantes esse ponto negativo passará batido em um primeiro momento, mas logo se interessarão em ver vídeos de construções e notarão a falta de blocos ou itens cruciais para certos tipos de edifícios. Deu a sensação de que esta versão foi lançada às pressas no console da Microsoft.

Nota: 9 (Excelente)