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Scarface: The World is Yours

12/10/2006

AKIRA SUZUKI
Colaboração para o UOL
Jogos e cinema. Essa parceria tem acontecido há mais de 20 anos, como na hedionda conversão do filme "E.T. - O Extra-Terrestre" para o Atari 2600, que é tratado como o lugar-comum dos games baseado em filmes, ou seja, muito abaixo da crítica. "E.T." também é o tipo de jogo que levou ao colapso da indústria de videogames entre 1983 e 1984.

Nessa mesma época, foi lançado no cinema um dos grandes clássicos da sétima arte, chamado "Scarface", de Brian de Palma, quase um filme definitivo sobre a violência das gangues em Miami. Essas obras clássicas têm atraído a atenção da indústria de videogames, que recentemente adaptou vários deles, casos de "The Warriors - Os Selvagens da Noite", "007 contra Moscou" e "O Poderoso Chefão". Nesta seara em particular, os games tem sido elogiados, talvez, com exceção de "007". "Scarface: The World is Yours" se junta à lista, e a boa notícia é que fica do lado que tem saldo positivo.

Reescrevendo a história

"Scarface: The World is Yours" é um jogo de ação com combates à pé ou em veículos, explorando um mapa grande e com elementos de "administração". Ou, resumindo, é mais um game feito com os moldes de "Grand Theft Auto", ainda que tenha feito melhorias em algumas áreas, mais notadamente nos combates, que é realmente o ponto mais fraco do clássico da Rockstar Games.

A história de "The World id Yours" é original e continua, ou melhor, reescreve o final do filme. Não é necessário tê-lo visto, mas é inegável que a experiência e a imersão aumentam tendo compreendido a trajetória anterior do protagonista Tony Montana, interpretado magistralmente no cinema por Al Pacino. Além de tudo, é uma obra clássica, quase obrigatória para um cinéfilo que se preze.

O game começa com a batalha sangrenta na mansão de Montana, em uma fuga desesperada para se safar da gangue rival e também de policiais. Esse início mostra que a produtora canadense Radical Interactive, de "Simpsons: Hit & Run" e "The Incredible Hulk: Ultimate Destruction", está confiante na mecânica de tiroteio do game, pois é exatamente do que se trata essa parte. É uma ação do tipo arcade ou tiro em primeira pessoa, daqueles bem furiosos, com direito a muito sangue e mutilações. É um início de game explosivo, de tirar o fôlego. E os controles funcionam perfeitamente.

Depois, entra uma cena com os créditos do game, mostrando uma longa lista de dubladores - entre eles está o nome de Rodrigo Santoro, justificando sua fama de ator brasileiro com maior projeção no exterior atualmente. O nome maior é de Al Pacino evidentemente, que empresta sua imagem e algumas falas, apesar de a maioria das dublagens terem sido feitas por André Sogliuzzo, num trabalho fantástico que captou com perfeição o estilo Tony Montana de verborragia.

Para recuperar o tempo perdido

Agora, depois de três meses e ter perdido todo o seu império, Montana está de volta à ativa, para recuperar tudo o que já lhe pertenceu, ou seja, quase toda Miami. Mas, como um gângster iniciante, ainda que carregue o nome Tony Montana, terá de começar por baixo. E para subir na vida, precisará enfrentar diversas missões perigosas, bem ao estilo de "Grand Theft Auto".

Mas quem é rei nunca perde a majestade, e logo o protagonista consegue reaver sua mansão - vai precisar de uma faxina, é verdade. Aliás, a cena em que negocia com dois policiais - um latino e outro negro - faz referência a outro clássico, "Miami Vice", e ligações desse tipo estão presentes em todo o game. Junto com a mansão você também tem acesso ao armazém de armas, onde poderá guardar tudo que tiver coletado até então.

O objetivo do game é tomar Miami novamente. O roteiro básico é juntar algum dinheiro fazendo favores para alguns traficantes, comprar uma loja na região, para ser o centro de distribuição de drogas, e no final, lidar diretamente com os barões do tráfico, e distribuir os tóxicos a rodo, usando veículos. Assim, você deve tomar cada bairro e assim reconquistar o prestígio e o poder de antes.

Mas para conseguir tudo isso, você passará por uma série de missões, tanto a pé como a bordo de veículos. São objetivos como assassinatos de elementos-chave, proteção de estabelecimentos e de pessoas, entregas de todo tipo e por aí vai. Geralmente, durante essas operações, ocorrem muitos tiroteios e perseguições policiais.

Quando a lei é absoluta

Aliás, o jeito que o game lida com os oficiais da lei é um pouco parte da falta de liberdade do jogador. É que não importa o quanto você seja bom ou poderoso, mas depois de um tempo praticando algum crime, como exterminando gângsteres rivais, se você não fugir da lei até que um medidor vermelho circunde todo o minimapa, você está automaticamente liquidado. Não que isso represente um grande prejuízo - ou, pode ser que sim, dependendo da quantidade de dinheiro e drogas que estiver levando.

Mas há alguns truques para fugir dos policiais, como não ser pego em flagrante - simplesmente, guarde sua arma -, ou fugir, a pé ou de carro, para bem longe deles. Um círculo vermelho indica a área de influência das viaturas e você precisa de um carro rápido para escapar desse raio.

Por falar em falta de liberdade, o jogador não pode atirar em civis - mas pode atropelá-los, aliás, parece que eles aparecem somente para isso, bem na frente de seu veículo - e o desenho da malha viária também é limitativo, pois, geralmente, há apenas um acesso entre os bairros, o que seria improvável num lugar como Miami. E isso é uma pena, visto que os ambientes são atraentes, reproduzindo vários cenários do filme original e ainda há muitas localidades originais interessantes.

O primeiro celular da história

Os controles dos veículos são básicos, mas funcionam perfeitamente. Cada modelo de carro tem uma dirigibilidade diferente: por exemplo, é fácil notar que furgões são mais pesados, mais difíceis de acelerar, parar e virar do que o conversível padrão do protagonista. A exemplo de games do tipo, Montana pode roubar qualquer carro, mas logo nas primeiras horas do game já ganha um chofer, que traz seu carro onde você estiver, e tão rápido como se ele estivesse na esquina. Afinal, roubar carros é para bandidos ralés; com Tony Montana, o estilo é outro. Uma ótima idéia da produtora foi que os carros guardam os armamentos, o que evita o processo de o jogador ter de buscar, seja lá onde for, o seu "instrumento de trabalho".

Em 1983, época em que se passa o game, o telefone celular acabara de ser lançado e os tijolões, como são conhecidos hoje, eram para bem poucos. Mas a produtora tomou a liberdade de popularizar e modernizar o produto para o bem do título. Além de chamar o chofer, ele serve para verificar o mapa e todos os estabelecimentos, comprar uma série de itens, que vão de carros à mobília para sua casa - você ganha respeito por isso -, e até mesmo suborna policiais e paga dinheiro aos rivais para acalmá-los, afinal, um nível de tensão muito alto é ruim para os negócios. As missões também são ativadas pelo telefone.

O bom é que, quando há um ponto de interesse, seja indicado pelo game ou pelo próprio jogador, o game mostra, através de setas nas esquinas, o caminho a ser tomado. Não é o caminho mais curto, mas você definitivamente chega ao destino sem se perder. Não é aquele trabalho mamão-com-açúcar de um "Saints Row", que mostra uma linha contínua até o destino, mas a ajuda não soa idiotizante para o jogador.

O mundo é uma "bola"

Mas o destaque do game vai mesmo para os combates. Em geral funcionam muito bem, com controles precisos, e atendem a vários perfis de jogadores. Quem não tem muita intimidade com o sistema, pode optar por uma mira automática ao toque de um botão, que ainda permite um pequeno ajuste para mirar partes específicas, como a cabeça e membros.

"Isso é para os fracos!", diria Montana. E, de fato, o jogo premia quem usa a mira manual com o preenchimento do medidor de "colhões" ("balls"). Você também ganha isso quando soltar o verbo logo depois que matar um inimigo. Quando este medidor estiver cheio, é possível ativar o modo de fúria cega, em que não fica apenas invencível, assim como recupera energia para cada inimigo que matar. Nesse modo, a visão é a de um jogo de tiro em primeira pessoa, mas a mira é totalmente automática, e balas infinitas.

Em geral, as missões de tiroteio são fáceis, graças à mira automática. Mesmo alguns que são mais complicados podem ficar bem mais suaves se já chegar com o medidor cheio, que também é preenchido por dirigir perigosamente nas ruas, como andar na contramão ou passar raspando pelos carros em direção contrária. A quantidade de "balls" também serve para colecionar namoradas.

Mas há outros elementos no game, como o de negociação. Isso é usado quando estiver falando com traficantes, gangues rivais, policiais e até com o caixa dos bancos, para estabelecer a "taxa de lavagem" do dinheiro. Isso funciona em duas etapas, na primeira, o medidor circular mostra as zonas de falha e sucesso, em geral menos vantajosos quando os níveis de notoriedade ("heat") estão mais altos. No segundo, como num jogo de golfe, é preciso parar o medidor no ponto mais próximo a 100%. É um sistema interessante, mas perde o sentido depois de um tempo, pois é fácil dominar o mecanismo.

De volta aos anos 80

O trabalho visual não chega a ser espetacular, mas é competente o suficiente para agradar. Tem até um princípio de HDR, uma iluminação mais realista, em que a luz do sol invade o contorno dos objetos, como prédios e árvores. O destaque está, naturalmente, nos personagens, principalmente no protagonista Tony Montana, apesar de alguns defeitos. Ele tem a feição de Al Pacino, apesar de soar um pouco estranho. Talvez seja pelo fato de o rosto ser moldado basicamente por texturas, sem muitos polígonos. Isso também se nota no resto de seu corpo, que os deixam quadrados. Tenta-se compensar com texturas detalhadas e ótimas dublagens.

Já os cenários pendem para o lado simples, com exceção dos veículos. Há uma boa quantidade de carros no ambiente, e também muitos objetos interativos, como caixas e postes, que se deslocam e quebram com o choque. O fluxo de tela fica um pouco pesado com isso, mas, em geral, é satisfatório; não chega a incomodar.

O melhor visual é, naturalmente, o do PC, que ostenta a maior resolução, mas logo em seguida vem o Xbox, que traz até uma opção para 720 linhas não-entrelaçadas (720p). Isso deixa a definição bem melhor, mas cobra um preço considerável no desempenho. Já no PlayStation 2, a opção de progressive scan parece deixar o visual menos definido que se o tivesse deixado desligado. O visual continua bom, mas é inegável que as demais versões são superiores.

A trilha sonora é excelente e, provavelmente, deve se adaptar a vários gostos. São mais de 100 músicas entre a trilha sonora original, como a "She's on Fire" de Amy Holland, ou a "Rush Rush" de Debbie Harry, exalando um ar oitentista, cheios de sintetizadores e bateria eletrônica. Além disso, tem uma seleta lista de pop dos anos 80 (Iggy Pop, por exemplo), country (Johnny Cash), Hip Hop (Public Enemy), latino (Latin Soul Syndicate), reggae (Peter Tosh & The Wailers), reggagton (Los Barachos) e, claro, o rock (Judas Priest, Motörhead, Ministry e outros). A maioria são canções antigas, mas há algumas mais modernas. O melhor é que você pode escolher qualquer uma delas e fazer sua própria fita para tocar no game. Em vários pontos é usada a trilha de fundo do próprio filme, conferindo mais autenticidade para o game.

Os efeitos sonoros também são bons e cumprem seu papel. O som dos tiros é alto e impactante, como devem ser, e o barulho dos motores dos carros convence. O problema é que a música é um pouco alta nos padrões iniciais, e isso pode ofuscar a sonoplastia. Os artistas contratados para as dublagens são do mais alto gabarito e o trabalho ficou muito bom. O destaque vai mesmo para André Sogliuzzo, mais pela visibilidade do personagem, pois a maioria fez um trabalho equiparável em qualidade.

A vingança dos cubanos

Não há dúvidas que "Scarface: The World is Yours" é mais um clone de "Grand Theft Auto", mas, ao menos, captou suas qualidades e tratou de aperfeiçoar o que o "original" tinha de defeito. O resultado é um game com ótimas cenas de ação, principalmente de tiroteio, e um enredo e personagens fortes, que tem todo um filme clássico por trás. O game só não é excepcional por não trazer a grandiosidade e a liberdade do clássico da Rockstar e, além de tudo, trata-se de um gênero um tanto batido, ainda que, se feito com qualidade, traga muitas horas de diversão, como é o caso.

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    Scarface: The World is Yours (Pc)

    28 imagens

    FICHA TÉCNICA
    Fabricante: Radical Ent.
    Lançamento: 08/10/2006
    Distribuidora: VU Games
    Suporte: 1 jogador
    Configuração mínima: Pentium 4 1.8 GHz ou AMD equivalente; Windows 2000/XP, DirectX 9.0c, 256MB de RAM, placa aceleradora 3D com 128MB
    Outras plataformas: WII PS2 XB
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