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PlayStation All-Stars Battle Royale

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 16h40

"Battle Royale" é uma cópia descarada de "Smash Bros."? Quase. A mecânica é praticamente a mesma - pode reparar no tempo dos pulos e pancadas, por exemplo -, mas o objetivo nos combates é diferente e isso muda totalmente a dinâmica dos duelos, conferindo personalidade e autenticidade ao game.

Com elenco caprichado e pobre seleção de modos de jogo, "Battle Royale" traz um excelente suporte online, com partidas estáveis e um sistema de temporadas que incentiva a competição e aprimoramento.

Faltou apenas um respeito maior pelo próprio legado da Sony. A exemplo do rival "Smash Bros.", poderia haver explicações mais detalhadas das origens de cada personagem, cenários e outros elementos. Além de ser um ótimo jogo, "Battle Royale" poderia servir como uma enciclopédia interativa das franquias da Sony.

Introdução

Revelado no começo de 2012, "PlayStation All-Stars Battle Royale" sofreu muitas - e justificadas - comparações à série "Smash Bros." da Nintendo.

Afinal, trata-se de um jogo de luta em que até quatro personagens de várias franquias da Sony lutam em arenas cheias de perigos e armadilhas.

O diferencial fica por conta dos objetivos nas brigas: em vez de arremesar oponentes para fora do cenário, aqui deve-se distribuir pancadas para encher uma barra de golpes especiais e usá-los para, aí sim, marcar pontos.

Além de várias figuras ilustres (ou nem tanto) dos jogos da Sony, como Kratos, Nathan Drake e PaRappa the Rapper, o jogo ainda traz convidados especiais de outras produtoras: Raiden (de "Metal Gear Rising: Revengeance"), Big Daddy (de "BioShock) e o novo Dante (de "DmC Devil May Cry).

Pontos Positivos

Boa lista de lutadores

De cara, "Battle Royale" oferece 20 lutadores. Não há secretos para habilitar, mas a Sony promete adições frequentes via download.

A comparação com "Smash Bros." é inevitável: muitos personagens possuem golpes idênticos aos vistos no quebra-quebra da Nintendo. Contudo, isso não tira o brilho do trabalho do estúdio Superbot que conseguiu também imprimir a cada figura estilos e trejeitos peculiares das séries a que pertencem.

Controlar Kratos ou Nariko dá a impressão de estar mesmo jogando "God of War" ou "Heavenly Sword". Drake traz diversos movimentos de "Uncharted", como armas de fogo e uso de coberturas, enquanto Raiden e Dante apresentam combos longos e rápidos - assim como farão em suas próximas jornadas.

Mesmo presenças questionáveis de personagens antigos e inexpressivos, como Spike (de "Ape Escape") e Sir Daniel (de "MediEvil") fazem sentido na medida em que trazem estilos bem diferentes às pelejas - além, claro, de prestarem homenagem a grifes do passado. As ausências mais sentidas ficam apenas por conta de personagens de jogos do Team ICO ("Shadow of the Colossus" e o próprio "ICO").

Cenários criativos

A festa de referências ao acervo da Sony não se restringe aos lutadores, já que os cenários todos são tirados de séries da casa. Até aí, nada surpreendente, mas o brilho vem do fato de que cada arena, na realidade, confronta duas séries - geralmente bem diferentes.

O inferno de Hades, de "God of War", subitamente é invadido pelos guerreiros caolhos de "Patapon". O mundo colorido de "LocoRoco" sofre repentinos ataques de um robô da série "Metal Gear" e por aí vai.

Há um total de 14 arenas diferentes, com formatos variados e surpresas que, mesmo depois de jogar muito, continuam a agradar.

Combates profundos

Aqui entra um dos principais diferenciais de "Battle Royale" em relação à óbvia inspiração em "Smash Bros.".

Você até pode encarar as batalhas como um simples esmagar de botões, mas há oportunidade para aprender os variadíssimos golpes de cada personagem, o tempo e efeito de cada habilidade e como isso tudo serve para enfrentar cada tipo de lutador.

Jogadores dedicados e habilidosos vão logo elaborar estratégias variadas. Será que é melhor focar os golpes em um único adversário para encher a barra de especial até o nível 3 e soltar um poderoso golpe que afete todos na tela? Ou acumular várias vezes o especial de nível 1 e eliminar inimigos mais rapidamente?

Enfim, "Battle Royale" tem um sistema de luta que incentiva o refinamento. Por mais que tenha uma aparência de party game, com combates descontraídos, é uma mecânica que se assemelha muito mais a games de luta tradicionais.

Estímulos para a comunidade

"Battle Royale" carece de opções de partida, mas ao menos se garante nos modos online. O título apresenta um sistema de temporadas em que, periodicamente, as tabelas mundiais de pontuação são zeradas e campeões são proclamados. Assim, a competição é constante.

Conforme você joga com cada personagem vai também acumulando pontos de experiência, que servem para habilitar novos ícones, cartões e até mascotes, todos itens usados para mostrar a outros usuários da rede a sua habilidade, experiência e personalidade.

A promessa de novos lutadores, constantes ajustes no equilíbrio das lutas e a ótima qualidade da conexão online anima e permite vislumbrar uma longa vida para as lutas de "Battle Royale".

Pontos Negativos

Poucos modos de jogo

"Battle Royale" é feito para lutar. Sozinho, com amigos em casa ou online. E só. Ponto.

Ao menos aqui, o título poderia ter se apegado um pouco mais à inspiração de "Smash Bros." e oferecido mais opções. Por que não uma campanha, com história? Minigames com os personagens?

Mesmo os tutoriais de golpes de cada lutador são pra lá de simplórios.

Falta de conteúdo enciclopédico

"Battle Royale" até oferece explicações de quem é cada personagem, mas o conteúdo é fraco e superficial. Vale o mesmo para as animações de abertura e final do modo Fliperama (o Arcade, em que um jogador luta contra vários oponentes até chegar no último chefe).

"Smash Bros. Melee" e "Brawl" dão um show neste sentido, com dezenas e dezenas de troféus que explicam em detalhes curiosos quem é cada herói, vilão e até os itens usados nos combates.

Não é um elemento essencial, que atrapalhe as lutas, mas fica como uma grande oportunidade perdida pela Sony.

Crise de identidade

"Battle Royale" vende a imagem de um jogo de combates cheio de bagunça e diversão, mas é na verdade um game de luta complexo e profundo.

Isso pode gerar confusão não só para quem pretende investir o dinheiro no game, que espera uma experiência e recebe outra, mas reflete de forma por vezes confusa na mecânica.

Cada lutador conta com muitas opções de golpes, todos bem variados. Há contra-ataques, golpes com itens, ataques lentos, rápidos, que afetam grandes áreas e assim por diante.

A variedade sugere que é só sair apertando os botões para fazer ataques muito loucos, mas não é bem por aí. Cada um serve a um propósito, uma situação e, mais importante ainda, nunca vão eliminar um oponente - tudo depende de, no final, encaixar um golpe especial.

Em resumo, "Battle Royale" pode até parecer só um "Smash Bros." da Sony à primeira vista, mas é, de fato, um jogo de luta complexo e profundo, que se aproxima mais das séries "Tekken" e "Street Fighter" do que "Smash".

Por fim, aproveitando o assunto, a versão brasileira sofre crise de identidade também na localização: menus e vozes estão em português, mas a dublagem não é 100%. Dentre os personagens que falam (vale notar, Big Daddy, Toru e alguns outros apenas grunhem), o trio Raiden, Dante e PaRappa fala inglês.

Isso acaba gerando situações cômicas: em certas animações em que personagens conversam, um fala português e o outro inglês - mas o papo continua numa boa.

Nota: 8 (Ótimo)