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"Posso ajudar?": UOL Jogos desvenda a rotina de antigos serviços de dicas por telefone de Nintendo e Tec Toy

DOUGLAS VIEIRA

Colaboração para o UOL

31/05/2011 12h29

“Socorro, estou andando em círculos no mapa da floresta de 'Super Mario World'. Como saio daqui?”. “Moço, já vi o Sonic dourado, como faz?”. Para os mais novos essas frases não fazem muito sentido, mas um grupo de jogadores vai entender - e talvez até lembrar de já ter feito - tais perguntas aos atendentes da Power Line e da Hot Line, serviços de dicas por telefone mantidos pela Nintendo e pela Tec Toy, antiga representante da Sega no Brasil.

Ativos por aqui durante a década de 1990, período em que Nintendo e Sega travavam uma verdadeira guerra pela atenção dos jogadores, ambos os serviços contavam com funcionários que eram vistos como magos dos games por terem as respostas para todas as dúvidas, o que sempre gerava comentários como “o Mario e o Sonic devem ‘assoprar’ as dicas para eles”. Ledo engano: muitas vezes, os atendentes tinham que, literalmente, “detonar” alguns jogos para conseguir os truques.

“Havia duas situações: em alguns casos recebíamos as dicas, em outros era preciso investir algumas horas em cada jogo. Em ambos era preciso ter o game em mãos e executar as dicas algumas vezes antes de passar para os jogadores”, explica Demetrios Marolatto, que trabalhou como atendente da Hot Line.

“Ah, o emprego dos sonhos”, muitos estão pensando, mas a diversão no expediente termina por aqui, pois era comum os funcionários acumularem mais tarefas que iam além de atender as ligações e elaborar os roteiros com as dicas.

“A principal delas [referindo-se às funções] era atender as ligações, mas também precisávamos jogar muito para desenvolver os roteiros que facilitavam o atendimento. Também éramos os principais colaboradores de uma publicação chamada Hot Shots”, conta Rogerio Freire, ex-funcionário da Power Line.

“Eu tinha 18 anos à época. Nesse período, um amigo chamado Paulo, que cuidava das promotoras da Tectoy, me indicou para a vaga [de atendente na Hot Line]”

Demetrios Marolatto, ex-atendente da Hot Line
“Tudo começou quando fiquei sabendo que a Playtronic representaria a Nintendo no Brasil. Visitei uma exposição, na própria sede administrativa da Nintendo, e na primeira oportunidade que tive conversei com alguns organizadores e deixei meu telefone. Semanas depois fui convidado para entrevista e virei membro da Power Line”

Rogério Freire, ex-atendente da Power Line

Cotidiano e curiosidades

Tirando a parte de trabalhar com games, o restante funcionava como um serviço de atendimento comum. Os funcionários dos dois serviços trabalhavam seis horas por dia e eram divididos em dois times, sendo que o turno de um grupo cobria parte da manhã e da tarde e o outro iniciava suas atividades durante a tarde, encerrando-as à noite após auxiliar centenas de jogadores perdidos.

VENHA PARA O CLUBE

Além dos serviços de dicas, tanto a Nintendo quanto a Tectoy mantinham por aqui um impresso com diversas informações para os jogadores: o Hot Shots e o Sega Mania, respectivamente.

Entregues sem nenhum tipo de cobrança, os informativos eram enviados depois que as empresas recebiam um cupom encartado dentro das embalagens dos jogos.

“Costumava atender umas 50 ligações por dia, com picos de 70 a 100 ligações dependendo da duração de cada uma delas. Depois foi estabelecido um tempo para cada chamada, pois se deixassem algumas pessoas ficavam na linha até conseguir passar da bendita fase”, comentou Freire.

Apesar do trabalho “pesado”, momentos de descontração também faziam parte da rotina dos atendentes – afinal, tendo videogames e jogos em mãos, seria de se estranhar caso não rolassem alguns desafios entre os membros das equipes.

“Os melhores momentos eram após o expediente, quando os atendentes realizavam algumas disputas. Muitos adoravam jogar games de futebol, e a cada gol marcado o jogador [real] corria feito um maluco pelo prédio, tudo para irritar o adversário. Pulavam nas mesas, nos sofás e nas cadeiras gritando ‘gol’, e até a nossa gerente ficava um pouco mais para acompanhar as partidas”, entregou Marolatto.