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Conheça os 'olheiros' que definem estatísticas de atletas e times brasileiros em "FIFA 13" e "PES 2013"

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

23/11/2012 15h58

Tão divertido e apaixonante quanto o futebol em si, é discuti-lo entre amigos. Nos gramados de "Pro Evolution Soccer" e "FIFA" também: as habilidades de Neymar fazem mesmo jus ao craque santista? Qual, afinal, deve ser o melhor time do Brasil?

Por trás de questionamentos transcendentais como estes há uma turma que trabalha duro, remunerada para ver futebol o ano inteiro e definir quais atletas e equipes darão as cartas nos games de futebol. UOL Jogos conversou com EA Sports e Konami para saber como funciona o trabalho de pesquisa relacionado ao Brasil em "FIFA 13" e em "PES 2013", respectivamente.

Em 2003, o jornalista Daniel Perassolli trabalhava em uma agência de notícias esportivas quando, casualmente, encontrou um amigo de faculdade que, na época trabalhava na EA. A empresa estava à procura de um especialista em futebol para montar os times brazucas no "FIFA 04". "Como sou viciado no jogo desde 'FIFA 94', para Mega Drive, minha resposta foi simplesmente 'quando eu começo?'".

De lá pra cá, Perassolli não parou mais e, hoje, coordena uma equipe com sete profissionais, divididos por regiões: "Temos editores no Rio para cuidar dos times cariocas, um editor em Curitiba cuidando do Coxa e assim por diante", explica ele, que se mantém atualizado assistindo a pelo menos três jogos de cada rodada do Brasileirão.

ARMERATION

Pablo "Armeration" Armero (lembra dele?) é o melhor lateral-esquerdo do "PES 2013", com 93 pontos no ranking. Mas, afinal, de onde a Konami tirou isso?

"Demos esta alta pontuação em função de suas impressionantes habilidades, especialmente velocidade e força", conta o próprio Hosoda, para quem o "craque", que joga atualmente na Udinese, da Itália, pode ser um desses casos de atleta que se dá bem no "PES" e, em seguida, na vida real. "Gostaríamos de acreditar que ele tem este potencial".

Ficamos no aguardo então, né?

Já em relação a "Pro Evolution Soccer 2013", bem, a Konami prefere manter um pouco do mistério em torno da dinâmica de trabalho, mas Manorito Hosoda, produtor do jogo, explica que o trabalho de pesquisa em relação ao Brasil é feito por uma empresa especializada. Mas o escritório local da publisher nipônica tem liberdade para dar alguns pitacos. À PES Productions, desenvolvedora do game, cabe receber os dados e implementá-los.

Mas o que conta de verdade para determinar o quão bom um jogador é no "PES"? Hosoda diz que valem, principalmente, a habilidade do atleta e sua performance na temporada. O problema é lidar com as jovens revelações, e o próprio produtor cita como exemplo o brasileiro Oscar, do Chelsea: "Ele surgiu como o principal jogador dessa temporada, algo que é muito difícil de prever antes de o jogo ser lançado". No final das contas, este tipo de ajuste fica por conta dos updates via download.

Uma das partes mais importantes nesse processo de pesquisa é avaliar se um jogador está em evolução, se atingiu o auge ou se já se encontra em decadência. São dados que influenciam no modo carreira de "FIFA 13", por exemplo: "Atletas talentosos da base não são tão fortes quando são lançados no time de cima, mas têm mais potencial, como o João Denoni (Palmeiras) e o Ademílson (São Paulo)", conta Perassolli. "Ainda não estão entre os mais fortes do time, mas certamente vão melhorar bastante de temporada em temporada no modo Carreira"

E o Neymar?

  • Reprodução

    Produtor do "PES 2013", Manorito Hosoda conta que uma empresa especializada cuida de definir os pontos de habilidades da série

Quem joga "FIFA" ou "PES" e é fã do futebol de Neymar já deve ter se perguntando se, caso o craque santista atuasse em um clube europeu, ele teria estatísticas melhores nos games.

Perassolli nega que existam limites propriamente ditos, mas admite que há valores de referência que variam conforme a liga em questão: "O Neymar jogando muito bem no Santos não vai ter a mesma força do Messi jogando muito bem no Barcelona, e eu sinceramente acredito que isso também reflete a realidade".

Com o "PES", o discurso é parecido, já que Hosoda afirma não existirem métodos para comparar um atleta que atue no Brasil com outro que jogue na Europa. Na verdade, o produtor até aproveitou para dar uma certa "cornetada" no Neymar: "Ajudaria muito se ele jogasse tudo o que sabe na Seleção Brasileira".

Mas Hosoda sabe bem que o assunto é polêmico e suscita discussões: "Quando visitei o Brasil um tempo atrás ouvi que o futebol para os brasileiros é mais importante que a própria vida. Esta paixão certamente leva a diferenças de opinião. Sabemos que não existem repostas certas no futebol".

NOS MÍNIMOS DETALHES


Em "FIFA 13" não contam apenas quesitos como chute a gol, qualidade na marcação etc: há elementos que podem passar despercebidos pelos jogadores, mas não por Perassolli e sua equipe.

Detalhes como se um jogador usa camisa para dentro ou para fora do calção, se fica machucado com frequência ou se um goleiro tem o costume de afastar um cruzamento de soco em vez de tentar agarrar a bola são alguns levados em conta.

"Tudo isso pode parecer 'aleatório' no jogo, mas é definido pelo nosso trabalho".

Para se ter uma ideia, há até mesmo jogadores "marcados" pela torcida, como é o caso de Ronaldinho, que quando pega na bola jogando contra o Grêmio, é vaiado. "O mesmo acontece com o Kléber jogando contra o Palmeiras".