Topo

Escola de "Counter-Strike"? UOL Jogos virou aluno de uma e conta como foi

Rodrigo Guerra

Do UOL, em São Paulo

09/09/2013 18h15

A rotina de um estudante é sempre a mesma: acordar, tomar café, pegar seus cadernos, ir para a escola e estudar as mais variadas matérias. Mas em alguns casos, isso pode mudar.

Imagine uma escola dentro da sua casa, em que livros ou cadernos não são necessários - o material de estudo se resume a um computador e um headset. É o caso dos alunos da Games Academy, uma escola para aprender técnicas avançadas de jogos como "Counter-Strike 1.6", "Counter-Strike: Global Offensive" e "Dota 2".

Assim como você, fiquei curioso quando descobri a Games Academy: afinal, quem é que paga para "aprender a jogar videogame"? Tive que conferir "pessoalmente" e descobrir como é essa experiência.

  • O site da Games Academy mostra os games que a escola está trabalhando atualmente. São R$ 60 por ciclo de aprendizado e as aulas acontecem via Team Speak e HLTV

Entrando na sala de aula

"A Games Academy existe há dois anos e meio", conta o professor Gabriel Toledo (22 anos), chamado por seus alunos de 'FalleN', seu apelido no meio do eSport. As aulas acontecem via chat por voz e HLTV, uma ferramenta do "Counter-Strike" que permite assistir às partidas diretamente do cliente do jogo. Assim, os alunos podem acompanhar, em tempo real, todas as instruções de Gabriel e Claudio Simões, o 'viet', seu assistente.

COMO FUNCIONA

AULAS4 vezes por semana, em horários alternados
PREÇOR$ 60 por mês/ciclo
DURAÇÃOIndefinido. O aluno determina o prazo de estudo
Para mais informações visite o site da GA

Os horários podem não ser acessíveis para muitos: as aulas acontecem quatro vezes por semana e são divididas em turmas com horários 15h às 18h e das 18h às 21h. Claro que muita gente não consegue sair do trabalho/faculdade e acompanhar as 'classes', então para esses 'perdidos' a GA ainda coloca os vídeos das aulas num grupo fechado no Facebook. Dessa forma, os alunos conseguem acompanhar as aulas e ainda discutir estratégias com colegas.

Não acaba por aí: tem lição de casa também. Os alunos usam os servidores da GA para colocar em prática tudo o que foi aprendido. Como 'trabalho escolar', a escola promove campeonatos entre times formados nas aulas. É até uma rotina pesada, se você parar para pensar.

Assinei a matrícula do curso de agosto de "Counter-Strike 1.6", game que eu acreditava que não estava mais na ativa – e quebrei a cara. Aprendi duas coisas muito importantes logo no primeiro minuto de aula: 1º) bons jogos não são abandonados facilmente; 2º) tudo o que você aprende em "Counter-Strike 1.6" continua relevante em outros jogos de tiro.

O curso tem duração indefinida, ou seja, você estuda enquanto achar que precisa melhorar. Além disso, a cada mês a escola concentra seus estudos em um mapa. Em agosto foi a vez do Nuke, um galpão com diversos locais estratégicos para os times se organizarem. A mensalidade é até barata: R$ 60 - o que inclui acesso aos servidores da Games Academy para praticar as lições passadas por FalleN.

VEJA UM TRECHO DE AULA DA GAMES ACADEMY

"A Valve tem apostado mais no 'CS:GO' do que no 'CS 1.6' e as grandes competições acompanharam a evolução. A WCG [World Cyber Games], por exemplo, agora utiliza os títulos 'CrossFire' e 'Assault Fire', ao invés de 'CS'. Entretanto as aulas de 'CS 1.6' não ficam obsoletas ", diz Gabriel.

'FalleN', é um conhecido jogador profissional de "CS" e representou o Brasil em campeonatos como a Electronic Sports World Cup e a Intel Extreme Masters. Sua primeira aula foi o be-a-bá do mapa Nuke. É notável sua didática e a maneira de falar, seguindo o vocabulário de seus alunos. Acho que foi por isso que as três horas de aula passaram voando.

Na minha sala eram mais de 50 estudantes matriculados, a maioria jovens de 14 a 20 anos. Mesmo sendo tão novos, os alunos já são experientes e conhecem o jogo, sem falar que estão antenados com as estratégias dos principais times internacionais.

Reprodução / Facebook
Na minha opinião 'Counter-Strike' é muito mais que um joguinho 'de tiro': tem muita lógica, muito pensamento e inteligência envolvida...

Amanda "AMD" Abreu

"Há quem me chame de nerd, mas na minha opinião 'Counter-Strike' é muito mais que um joguinho 'de tiro': tem muita lógica, muito pensamento e inteligência envolvida... e esse tipo de coisa me fascina", diz a aluna Amanda Abreu, conhecida na classe como AMD, que prefere as aulas práticas. Segundo ela, essas classes são importantes porque "além de por em ação as aulas teóricas, o 'Fallen' faz a análise, dando dicas e comentando seus erros, o que te faz melhorar e aprender".

As aulas são dadas por intermédio do Team Speak, um programa que permite fazer chat por voz e texto e que é controlado pelo 'dono' da sala. Dessa forma, os professores conseguem controlar quem fala e os alunos conversam entre si usando o bate-papo por texto. Isso permite que as aulas sejam assistidas sem virar um caos – imagine como seria se todos na sala falassem ao mesmo tempo.

Educação física

A rotina de estudos é pesada: são 4 aulas por semana, 3 horas cada. Um dos problemas é que nem sempre dá para conciliar com sua rotina diária. Algumas aulas começavam às 15 horas (bem no meio do horário comercial padrão).

PROFESSOR JOGADOR

  • Reprodução

    Gabriel Toledo, o FalleN, é um dos principais jogadores de "Counter-Strike" no Brasil. Ele diz que a comunicação entre os jogadores é a ferramenta principal para qualquer jogo competitivo.

As classes são divididas em teoria e prática. O professor mostra qual é o objetivo do dia, dando exemplos de como agir em situações específicas de jogo, como um local para defender ou como e quando atirar.

Aprendi coisas que nunca tinha prestado atenção na época em que frequentava LAN Houses, como os melhores locais para fazer os disparos varados (quando você atira em uma parede e a bala atravessa, acertando um adversário), como arremessar uma granada, como se movimentar e por aí vai.

Mas não só o básico é ensinado, como também estratégias de times renomados de "CS", a exemplo do SK Gaming, Fnatic e Lemon Dogs. Os instrutores observam os alunos e a forma como eles colocam em jogo o que foi ensinado. "Não queremos criar robôs que fazem tudo ao pé da letra. Queremos que vocês saibam como fazer, como pensar e como reagir", disse 'Fallen' em uma de suas aulas.

Lição de casa: campeonato mundial

Diversos alunos dizem procurar as aulas da GA pela didática dos professores e buscam melhorar suas habilidades seja para jogar com amigos ou até mesmo como sendo uma ponte para os campeonatos de games.

"Sempre tive vontade de participar de campeonatos como WCG, ESWC, G3X, Kode5, e mesmo com dificuldades, não vou desistir disso. Minha garra e vontade sempre estão acima de tudo", disse o aluno Maicon "ChuCkY" Douglas, que espera buscar um lugar ao sol nos campeonatos internacionais.

Reprodução / Facebook
O que diferencia 'Counter-Strike' de outros jogos é a quantidade de possibilidades que você pode fazer para virar um jogo perdido

Maicon "ChuCkY" Douglas

A escolha por praticar "Counter-Strike" pode parecer meio estranha, mas basta lembrar que diversos jogos usam seus mapas, como é o caso de "Assault Fire", "Combat Arms" e outros, e esses jogos movimentam campeonatos no Brasil e no mundo com prêmios em dinheiro.

"O que diferencia 'Counter-Strike' de outros jogos é a quantidade de possibilidades que você pode fazer para virar um jogo perdido, ganhar uma partida na qual você sabe que terá dificuldades e muitas outras coisas", diz Maicon. "CS é mais que um jogo: ele mexe com seu psicológico. Quando isso acontece não é apenas um jogo para se divertir, é algo muito mais relevante [para o jogador]", conclui.

Não. Eu não virei um jogador profissional de "CS" – não posso me dedicar apenas a isso. Mas assim como um garoto que entra em uma escolinha de futebol, as aulas da Games Academy servem para ensinar coisas importantes das partidas que muitas vezes você não aprende apenas olhando ou jogando com os amigos.

A ideia é legal. Talvez esse seja (mais) um caminho para colocar o Brasil em postos de destaque nos eSports.

TIME COMENTA AS NOVIDADES DE "CS: GLOBAL OFFENSIVE"

  •