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Mesmo a R$ 3.999, Sony diz que perderá dinheiro com PS4 no Brasil

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

21/10/2013 15h00

A Sony disse que vai perder dinheiro com o PlayStation 4 no Brasil. Em entrevista ao UOL Jogos, Mark Stanley, responsável pela divisão PlayStation na América Latina, explicou [inclusive com um gráfico, que você pode ver mais abaixo] porque o console vai custar R$ 3.999 por estas bandas. Ciente da frustração dos brasileiros, cravou: “Por esse valor não gostaríamos de vender sequer um PS4 no Brasil”.

Stanley revelou que a Sony Brasil abriu mão da margem de lucro para que o preço ficasse em R$ 3.999, culpou os impostos brasileiros pelo valor e disse que apenas a fabricação nacional pode fazer o preço baixar – em cerca de 50%, segundo o executivo. Porém, ainda não há data para o início da montagem por aqui.

Leia a entrevista na íntegra:

UOL Jogos: De acordo com a Sony entre 60 e 70% do preço do PS3 correspondem a impostos. E quanto aos demais custos: como a Sony chegou ao valor de R$ 3.999?

Mark Stanley: Entender as diferentes camadas de impostos é algo tão difícil que decidimos criar um gráfico para explicar o preço do PlayStation 4 [veja abaixo]. Bem, para começar o preço do PS4 é de US$ 399 (R$ 858). Ao importar o aparelho ao Brasil os impostos chegam a 63%, o que totaliza R$ 2.524 apenas em taxas.

Depois disso há R$ 875, o que inclui a margem da revenda e da Sony Brasil. No total isso dá R$ 4.257, ou seja, este deveria ser o preço final. Porém, decidimos retirar qualquer margem da lucro da Sony Brasil para que o preço ficasse em R$ 3.999.

O problema é que, mesmo com o subsídio o preço é caríssimo e, honestamente, não gostaríamos de vender uma unidade sequer a R$ 3.999. Não é um preço justo e o valor não está de acordo com o trabalho que estamos fazendo no Brasil, onde nosso esforço é baixar o preço do hardware e do software sempre que possível.

Mas, infelizmente, estamos perto do lançamento e a única coisa que pode mudar este quadro é a fabricação local, que poderia reduzir este preço à metade.

  • Infográfico da Sony explica o preço do PS4 no Brasil (clique na imagem para ver maior)

UOL Jogos: Por que não montar o console no Brasil?

Stanley: Como você sabe, o investimento que vai na criação de uma estrutura para isso é na casa de bilhões. Assim, para garantir que o processo seja feito com qualidade, só há uma fábrica autorizada para fabricar o PS4 no mundo inteiro.

Hoje em dia, só há três fábricas de PS3 no mundo e uma delas é no Brasil. Para isso acontecer, foi preciso muito estudo para garantir que as peças daqui tivessem o mínimo de qualidade necessária.

Sabendo que o PS4 é um aparelho novo, que usa chips novos, ainda não há alternativas locais para esses chips. É um processo complexo, só depois de fabricar e perder algumas unidades é que você entende as dificuldades de produzir essa máquina. Depois que você aprende com alguns meses de fabricação internacional aí sim é possível pensar em tentar reproduzir esse processo aqui no Brasil.

Além disso, é preciso também considerar quantos componentes serão feitos no Brasil e quantos serão importados, essa é uma parte muito grande do preço. Há muitos impostos complicados associados à fabricação local, cada peça que você importa sofre com um imposto diferente, então é um processo caro.

A melhor maneira de lidar com essa questão é começar a produzir em apenas uma fábrica, aprender com esse processo e aí pensar em replicar o processo aqui no Brasil.

UOL Jogos: Ainda que os R$ 3.999 tenham explicação, a realidade é que, nas prateleiras, o consumidor vai encontrar o PS4 ao lado do Xbox One, que custa R$ 2.200, quase a metade do valor do PS4. Como a Sony espera competir em tais condições?

Stanley: Não queremos vender uma única unidade do PlayStation 4 por esse preço. O motivo para anunciarmos esse preço é para termos unidades disponíveis no Brasil para o lançamento. Nós lutamos duro para colocar o Brasil entre os primeiros países que receberão o console.

Infelizmente, esse é o preço que temos para o lançamento, mesmo após fazermos investimentos significativos. Os consumidores verão isso nas lojas, vão fazer comparações de preço e claramente o PS4 é muito mais caro.

Todos estão focados no período de lançamento, mas não é aí que a guerra é ganha, não é aí que ganharemos essa geração. Nós estamos planejando investir a longo prazo no Brasil. Estamos há cinco anos fazendo negócios no Brasil, nós abaixamos o preço de todos os produtos no país e vamos continuar fazendo isso.

Nosso objetivo agora é analisar e ter uma fábrica de PlayStation 4 funcionando o mais rápido possível para que os consumidores tenham um acesso verdadeiro ao PS4 no Brasil.

UOL Jogos: A Sony terá lucro com a venda do PS4 no Brasil ou, tal como costuma acontecer lá fora, o valor é subsidiado?

Stanley: Na verdade a Sony está perdendo [dinheiro], não posso dizer exatamente quanto, mas a Sony está perdendo uma boa quantidade de dinheiro. Você sabe que o preço do PlayStation 4 na loja custa US$ 399, e as unidades [brasileiras] custam mais para serem fabricadas.

E depois das taxas aplicadas no Brasil, estamos investindo R$ 258, que é uma margem de 20% que nos seria assegurado caso fosse o preço cheio de R$ 4.257 e conseguimos reduzir para chegar em R$ 3.999.

Não é sobre fazer dinheiro aqui, na verdade não ganhamos um centavo aqui. estamos perdendo dinheiro. Infelizmente esse é o cenário que encontramos aqui no Brasil em 2009 quando trouxemos o PS3 e o PS2, infelizmente, o PS4 está chegando em um preço maior ainda por tantas taxas que são aplicadas em diferentes pontos do processo de importação. Estamos procurando encontrar uma forma de trazer a montagem para o Brasil pois essa é a única forma que vamos conseguir resolver [esse problema com os impostos].

UOL Jogos: Muitas pessoas já falam em comprar o console nos EUA, Paraguai ou mesmo em países da América do Sul, onde o PS4 oficial é mais barato. Isso é bom ou ruim para a Sony no Brasil? Afinal, se ganha em base instalada, mas perde-se em vendas oficiais.

Stanley: Bom, temos sentimentos conflitantes sobre isso: as pessoas têm tanta paixão por nossos produtos que se dispõem a pegar um avião para comprá-los, isso é incrível e estamos honrados pelo fato de as pessoas passarem por tanta dificuldade e gastarem tanto para ter um produto nosso. Por outro lado, nos entristece que as pessoas tenham que fazer isso.

A filosofia, a estratégia por trás de quando lançamos os produtos PlayStation no Brasil era que as pessoas pudessem comprá-las em qualquer lugar por um preço acessível. E isso é um esforço que não acontece de um dia para outro, mas leva anos. E não vamos descansar até termos um preço acessível para o PlayStation 4, sem que as pessoas precisem pegar um avião para comprá-lo. Essa é nossa meta em última instância.

Queremos deixar bem claro aos seus leitores que não descansaremos enquanto não conseguirmos fazer isso. E provamos repetidas vezes com a fabricação do PlayStation 3 no Brasil e a queda de preço dos jogos. Então, a história não termina aqui, não termina no R$ 3.999.

Há duas histórias que se desdobram a partir disso: primeiro, precisamos revisar os tributos no país: o IPI [imposto sobre produtos industrializados] para consoles de videogame é de 50%, enquanto que, para computadores, é de 15%. Então, precisamos pegar todas as repercussões da internet sobre o anúncio e voltar a negociar com o governo e conseguir preços mais razoáveis. Do jeito que está, o sistema de tributos não permite isso.

UOL Jogos: Há planos de baixar o preço do PS4 num futuro breve? O que esperar nesse sentido?

Stanley: É cedo para dizer. Além disso, ainda estamos em meio à fabricação dos primeiros lotes do PlayStation 4, na China. Quem conhece um pouco sobre um processo de fabricação sabe a quantidade de problemas que acontecem no início de um processo como este. Quando a poeira baixar vamos analisar o que é necessário para fabricar o PS4 no Brasil.

Estamos falando de um aparelho que é, de longe, o mais avançado console em termos de tecnologia, ou seja, temos que assegurar o padrão de qualidade. Há diferentes desafios em fabricar em outros países.

Mas este é o nosso foco: é dessa maneira que vamos ganhar a próxima geração de consoles e garantir que o PlayStation seja a marca líder de videogames no Brasil. Em suma, focar não apenas no lançamento, mas no longo prazo.

UOL Jogos: A demora em começar a montar o PS3 no Brasil deu ao Xbox 360 uma grande vantagem em termos de market share. Como evitar que o mesmo aconteça novamente com o PS4 e o Xbox One?

Stanley: A questão é: como olhamos para o mercado? Se você pensar apenas nos próximos meses, sim, provavelmente vamos ter menos market share de nova geração. Mas nossa estratéga é a longo prazo. Estamos aqui para ficar de vez no Brasil, não apenas para testar o terreno. Não estabelecemos uma distribuidora para ficar por aqui só alguns meses, nós fizemos investimentos pesados em infra-estrutura pensando a longo prazo.

Desde que começamos a fabricar localmente o PS3 começamos a recuperar muito market share e vamos recuperar tudo, não tenho dúvidas. Estamos tomando as decisões corretas no Brasil para que isso aconteça.

A mesma coisa vai acontecer com o PS4. Sim, vamos ter um começo bem devagar porque o preço sugerido é muito caro, mas assim que começamos a fabricar o PS4 no Brasil você vai ver como vamos recuperar o market share.'

UOL Jogos: Os jogos do PS4 também serão mais caros. Por quê?

Stanley: O processo de produção dos jogos de PlayStation 4 é diferente do processo dos games de PS3. Por isso, nós temos que importar os jogos, pois nossa fábrica não está preparada para eles.

Num futuro próximo nós conseguiremos preparar os aspectos técnicos do processo. Assim que isso acontecer, poderemos voltar a abaixar os preços dos jogos.

UOL Jogos: Quais são as expectativas da Sony Brasil em relação ao lançamento do PS4: haverá quantidade suficiente para atender todo o varejo?

Stanley: Como você pode imaginar, nós temos pouquíssimas unidades para o lançamento. Nós não esperamos que ocorra um esgotamento dos estoques a esse preço. Nossa ideia por trás desse lançamento era garantir que o console estava disponível, mesmo que ele tenha um preço muito alto. Então teremos algumas unidades nas lojas disponíveis como uma opção para os consumidores. Mas repito: todos os nossos esforços vão estar focados em começar a manufatura para que consigamos suprir as lojas com estoques ilimitados a um preço muito mais razoável.

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