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Em 16 anos de 'tosqueira', "Tibia" cresce com base fiel de fãs brasileiros

Pedro Henrique Lutti Lippe

do Gamehall

11/11/2013 18h38

A indústria está repleta de histórias de sucesso incomuns, mas poucas delas são tão únicas quanto a de "Tibia". Sim, o mesmo "Tibia" que desde os primeiros anos da internet comercial no Brasil habita o imaginário dos gamers brasileiros - para o bem ou para o mal.

Lançado originalmente em janeiro de 1997 pela alemã CipSoft, o jogo é considerado um dos primeiros MMORPGs de todos os tempos. Por essas bandas, é regularmente lembrado e citado com uma conotação negativa, muito em função dos gráficos, digamos, ultrapassados. Sim: "Vai jogar 'Tibia'" é uma ofensa recorrente em partidas online com brasileiros. Mas o fato é que hoje, mesmo aproximando-se do seu 17º aniversário, "Tibia" continua firme no mercado, alimentado por uma base leal de fãs - dos quais cerca de 40% estão no Brasil.

"Os jogadores estão ficando conosco por um bom tempo. Muitos dos que jogavam no início ainda estão conosco, mesmo que agora não recebamos tantos jogadores novos", explica Stephan Vogler, um dos fundadores da Clipsoft.

Em entrevista ao UOL Jogos, Vogler explicou as razões por trás do sucesso de "Tibia" e de como o jogo segue não apenas relevante, como também rentável mesmo tanto tempo após sua estreia.

  • Os gráficos simples de "Tibia" são os mesmos desde sua concepção em 1997

Inovador no início...

Desde sua concepção, "Tibia" seguia um modelo de monetização que demoraria anos para se firmar como uma norma. 'Freemium', ele permitia que fãs jogassem de graça, tendo a opção de pagar por funções adicionais e outros benefícios.

VERSÃO MOBILE

  • Paralelamente a "Tibia", a CipSoft trabalha também em "Tibia ME" - versão para aparelhos celulares do game. Trata-se de uma experiência separada - jogadores do PC não se cruzam com os da versão portátil -, mas que usa a mesma base do game original. "Foi um passo lógico para nós criar a versão mobile", afirma Vogler. "Ela está crescendo e, curiosamente, é especialmente bem-sucedida na Ásia, diferente do 'Tibia' regular, que é popular no Ocidente".

"Na época do lançamento original do jogo, não existiam muitos títulos que seguiam esse modelo. E eu acho que esse é um dos principais motivos pelos quais o game tornou-se um sucesso, por exemplo, no Brasil", afirma Vogler. "As pessoas entravam no mundo [de 'Tibia'] pensando, 'Ok, não precisamos pagar para jogar', e só depois, se quisessem, elas colocavam a mão no bolso".

Os requisitos de hardware necessários para rodar "Tibia" também foram um fator determinante em seu sucesso, de acordo com Vogler: "Os requisitos eram muito baixos, mesmo na época. E talvez há dez anos muitas pessoas aqui no Brasil não pudessem jogar outra coisa em seus PCs".

Giovanni Menezes, fundador do portal de fãs brasileiros TibiaBR, concorda. "'Tibia' é um game que pode ser jogado em qualquer computador, e isso faz com que até pessoas que não possuam uma máquina potente possam jogar", afirma.

VÍDEO DO "SONO" É POPULAR 'MEME' DE "TIBIA"; ASSISTA

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... 'Retrô' hoje em dia

"Nós sabemos que o visual do jogo é bem 'old school' e pouco atraente para novos jogadores. Muitos olham para ele e pensam, 'Nossa, isso é muito dez anos atrás'. E eles estão certos", comenta Vogler, rindo, ao ser questionado sobre a possibilidade de "Tibia" ganhar visuais retrabalhados e mais modernos.

PIADAS

  • "Tibia" é praticamente um personagem do imaginário gamer brasileiro. É impossível passar um dia jogando em um servidor brasileiro de "World of Warcraft" sem ver alguém mandar alguém "voltar a jogar 'Tibia'" no chat. Isso é para ser uma ofensa, mas a verdade é que muita gente nunca parou de jogar "Tibia". E por seu sucesso persistente, o título até deu origem a uma série de 'memes' - como o "Sono, seu broxa", do vídeo acima. Rende boas risadas.

"Mas, por outro lado, sabemos também que muitos dos jogadores existentes gostam do visual que temos. Eles estão felizes com ele, e até dizem que os visuais são um dos motivos pelos quais eles continuam conosco. Então seria muito difícil para nós mudá-los sem deixar os velhos jogadores bravos", justifica. "Então nós decidimos que vamos fazer melhorias pequenas aos gráficos, mas que deixaremos o aspecto visual basicamente o mesmo. 'Tibia' é basicamente retrô, e há muitas pessoas por aí que gostam de jogos retrô".

A CipSoft não pensa em parar. Existem vários protótipos de novos games em testes, e planos concretos para iniciar o desenvolvimento de um novo projeto em 2014. Mas eles não querem abandonar "Tibia", mesmo com sua idade. "Ainda há espaço para melhorar e ainda há interesse nele, então vamos seguir em frente", afirma Vogler.

  • Morrer em "Tibia" é muito mais grave do que em outros jogos do gênero, como "WoW"

No Brasil

Apesar de ser o maior mercado de "Tibia", na frente de países como Polônia, México, EUA e Espanha, o Brasil não foi muito contemplado pela CipSoft ao longo dos anos. Mas isso está mudando: Vogler visitou o Brasil ao lado de outros membros da produtora para pesquisar a adição de novas formas de pagamento mais compatíveis com o mercado local ao game.

MOBA DE "TIBIA"?

  • Enquanto citava possíveis novidades que chegarão ao mundo de "Tibia" no futuro, Vogler fez uma confissão intrigante: o time pensa em um estilo de jogo diferente para o game, que lembre a jogabilidade de "League of Legends". "Muitos brasileiros jogam 'LoL'. Sabemos inclusive que muitos fãs de 'Tibia' jogam 'LoL'", afirma. "Então estamos pensando em criar novos tipos de servidores com mecânicas diferenciadas, como alguns que funcionem mas como 'LoL'. Só que tudo isso dentro de 'Tibia'". Ele garante, porém, que isso tudo não passa de uma ideia.

Giovanni Menezes acredita que uma única novidade faria com que ainda mais jogadores brasileiros entrassem para a comunidade do game: "[A CipSoft] precisava colocar servidores no Brasil. Isso faria 'Tibia' crescer muito mais", afirma. Atualmente, a produtora alemã tem servidores em Londres e nos EUA, mas não tem planos para instalar novos em território nacional.

Uma localização para o português também não está na lista de próximas tarefas da produtora. "Pensamos bastante nisso. Mas é interessante: achamos que isso não teria um impacto tão grande", revela Vogler. "Pelo que percebemos, tradução não é uma prioridade para os fãs brasileiros. Por isso, preferimos nos focar em outras coisas, como trazer novas funções para o jogo".

O co-fundador da CipSoft acredita que o game ainda tem muito a oferecer para jogadores brasileiros. "Nós estamos nos preparando para lançar um novo cliente do jogo. Então ainda o queremos rodando por um bom tempo", conclui.