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Entre críticas e tropeços, o que está errado com a série "Final Fantasy"?

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

17/04/2014 18h58

Mais com cara de lamento do que celebração, "Lightning Returns: Final Fantasy XIII" encerrou no último mês de fevereiro o arco de histórias da heroína Lightning.

E não só isso: marca também o insosso desfecho do projeto Fabula Nova Crystallis, selo praticamente abandonado pela Square Enix que simbolizava o universo no qual acontecem os jogos de "FF XIII".

Porém, com uma trilogia de títulos extremamente contestada, um título portátil que por enquanto só saiu no Oriente e outro que acabou virando "Final Fantasy XV", é de se questionar o trabalho da Square Enix com sua franquia mais famosa.

Afinal, o que está acontecendo com "Final Fantasy"?

O custo da inércia

"Final Fantasy XIII" foi anunciado com pompa e circunstância como jogo exclusivo do PS3, com direito a um lindo e empolgante vídeo em computação gráfica e a ousada promessa do tal Fabula Nova Crystallis, que sinalizava uma enxurrada de jogos ambientados neste novo universo em alta definição.

À época da produção de "FF XIII", o produtor Yoshinori Kitase chegou a declarar para a revista Edge, em 2009, que "os títulos 'Final Fantasy' sempre são jogos de vitrine, representam um instantâneo muito claro do pessoal da Square Enix numa época específica".

A frase ajuda a entender parte do problema: em um aparente estado de inércia, a Square Enix continuou com "FF XIII" a apostar em tudo que até então havia funcionado, especialmente gráficos elaborados e enredos rocambolescos.

Contudo, dois fatores impediram a mesma estratégia de continuar funcionando. Em primeiro lugar, os gráficos em alta definição de "FF XIII" consumiram muito mais tempo - e consequentemente, dinheiro - do que os visuais dos jogos anteriores.

Além disso, à época as produtoras ocidentais já estavam botando as asinhas pra fora e lançando RPGs extremamente competentes para consoles. Verdade seja dita, no mundo dos computadores a história era outra, com séries europeias e americanas dominando, mas até então os consoles eram reino quase único dos JRPGs.

"Elder Scrolls: Oblivion" pavimentou o caminho para o sucesso de "Skyrim", enquanto "Mass Effect" e "Dragon Age" lideraram as investidas de outros bons RPGs ocidentais.

Incorporando elementos de jogos de ação e oferecendo muita liberdade de criação e exploração em contraste aos enredos 'sobre trilhos' dos JRPGs, logo conquistaram uma grande fatia do mercado.

VOCÊ LEMBRA DO PRIMEIRO TRAILER DE "FF XIII"?

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"Vamos vencer Skyrim!"

Eventualmente, a aparente incapacidade da Square Enix em adaptar às novas circunstâncias um plano já em ação - ou talvez necessidade e/ou teimosia em se manter fiel a uma estratégia que já havia consumido muito dinheiro - minou boa parte do respeito que fãs tinham por "Final Fantasy".

De fato, os próprios produtores não ajudaram muito, com declarações, no mínimo, exageradas (para não dizer sem noção).

Durante a produção de "Lightning Returns: Final Fantasy XIII", o diretor Motomu Toriyama disse que o objetivo da equipe de desenvolvimento era "vencer Skyrim", que cerca de nove meses antes havia passado como um furacão pelo mercado, vendendo milhares de milhares de cópias e arrebanhando diversos prêmios de "Melhor do Ano" em veículos especializados - inclusive aqui no UOL.

Uma série de experimentos no mundo mobile deu a entender que a Square Enix mais atirava para todos os lados do que executava um plano para a franquia. Ainda que alguns lançamentos tenham agradado, como a adaptação de "Final Fantasy VI" para smartphones e tablets, verdadeiras bagaceiras como "Final Fantasy All the Bravest" merecem cair no limbo do esquecimento.

Passos cuidadosos

Atualmente, a cautela da Square Enix em lidar com "Final Fantasy" sugere que a produtora sabe que o show não pode parar, mas pretende estudar melhor o terreno.

Na E3 2013 ficamos sabendo que "Final Fantasy Versus XIII" virou "Final Fantasy XV" e desde então pouquíssimo se falou sobre o jogo - já em desenvolvimento desde 2006.

"Final Fantasy X/X-2 HD Remaster" enfim chegou para PS3 e PS Vita, revigorando um dos episódios mais queridos do público ocidental, mas nada se fala em dar tratamento similar a outros episódios.

Mesmo em relação ao exótico título musical "Theatrhythm", que angariou boas críticas e vendas no ocidental, perdura a dúvida se a versão expandida "Curtain Call" virá também para este lado do planeta. Por ora, o lançamento é só no Japão.

UM POUCO DE HISTÓRIA...

"Final Fantasy" surgiu em 1987 como um arroubo de criatividade e competência de Hironobu Sakaguchi e uma pequena, mas talentosíssima equipe. O que era pra ser o jogo de despedida da então apenas Square virou hit no Japão.

De lá pra cá, a série duelou com "Dragon Quest" pela preferência do público oriental e conseguiu repetir e consolidar o sucesso no ocidente com "Final Fantasy VII", de 97, para o PS1, que promoveu o uso de gráficos tridimensionais e longas cenas em computação gráfica.

"Final Fantasy" virou sinônimo de RPG para consoles e abriu caminho para diversas produções no gênero, tanto da própria Square quanto de outras produtoras.

Todo esse carisma, 'star power' e sucesso durou até o fim da geração PS2 e o colossal "FF XII", mas algo mudou na transição para a era da alta definição, com PS3 e Xbox 360...