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Cursos de games formam profissionais para atuar até mesmo fora da área

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

01/10/2014 16h35

Há pelo menos 40 cursos superiores de Design de Games no Brasil, sem contar cursos livres e pós-graduações, formando mão-de-obra qualificada para atuar em um mercado que cresce rapidamente no país. E, ao contrário do que parece, quem se forma pode atuar também em outras áreas, como aplicativos para celular, simuladores, softwares educativos ou de treinamento corporativo.

“O profissional de Design de Games está preparado para trabalhar não só com jogos, mas com diversos outros sistemas digitais, interativos ou não”, explica Delmar Galisi, coordenador do curso da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, que existe desde 2003.

É o caso de Ralph Barbosa Morais, 27, que se formou na Anhembi Morumbi, mas nunca chegou a trabalhar com games. Preferiu a animação: “Além de trabalhar com algo que faz parte da minha vida até hoje, que são os desenhos animados, ainda posso criar ‘sonhos’ para os jovens e crianças de hoje”, conta. Morais atua no estúdio 44Toons, que acaba de finalizar um longa-metragem, em fase de pós-produção.

Tamanha segmentação do mercado é algo que as universidades procuram contemplar na grade curricular: “Cabe ao curso preparar o aluno para o desenvolvimento de roteiros, modelagem de jogos e programação final em ambiente computacional para consoles, dispositivos móveis e internet”, conta Luiz di Marcello Senra, coordenador pedagógico nacional do curso de Jogos Digitais na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

As alternativas de quem sai do curso vão desde estágios até a carreira acadêmica: “Os alunos que se destacam são facilmente absorvidos [pelo mercado], já que sua formação é sólida e com conhecimento aprofundado da área. Uma parcela menor investe na formação de pós-graduação stricto sensu (mestrado) e uma outra parcela em pós latto sensu (especialização) na área de TI ou arte”, diz Marcelo Nery, da PUC Minas.

Douglas de Lacerda Alves, 32, que se formou no curso de Tecnologia em Jogos Digitais da PUC-Minas e, hoje, é programador de sistemas mobile do grupo Diários Associados S.A, em Belo Horizonte. Mais do que os games, Alves é conhecido por ter criado o aplicativo Upflix, que acompanha as atualizações do Netflix. “As oportunidades que foram aparecendo me desviaram desse caminho [dos games]”.

Algumas universidades, como a PUC Minas, acompanham a trajetória do aluno após a conclusão do curso. “Há um sistema que permite enviar mensagens aos alunos e, além disso, eu mantenho um cadastro de todos os ex-alunos. Diria que 90% estão empregados na área ou área correlata”, explica Nery.

  • Arquivo pessoal

    Apaixonado por games, Douglas cursou Tecnologia em Jogos Digitais, mas trabalha também criando aplicativos como o Upflix, que avisa lançamentos do serviço Netflix

De Minas Gerais para a EA

Mesmo com tantas opções à disposição, ainda há quem se forme em um curso de games para realizar um velho sonho: trabalhar numa grande empresa da área. Joab Alves de Souza, 27, sempre foi apaixonado por jogos e programação e, depois de largar a faculdade de Música – outro de seus hobbies – decidiu cursar Design de Games na PUC Minas:

“A grade do curso era composta por matérias que eu tinha vontade de fazer e, por ser um curso de tecnólogo, era curto e com foco na parte prática, então consegui conciliar trabalho e estudo”.

  • Arquivo pessoal

    Joab começou criando jogos na Illusis Interactive, em Belo Horizonte, e hoje trabalha na Electronic Arts, no Canadá

Joab formou-se em 2010 e logo de cara conseguiu um emprego como desenvolvedor na Ilusis Interactive, uma produtora de jogos de Belo Horizonte. “O curso foi essencial pra mim, pois eu não fazia a menor ideia de como o mercado de trabalho funcionava. Era muito importante estar em um ambiente onde se respira jogos e o assunto é tratado de forma séria”.

Mas nem tudo funcionou às mil maravilhas: "O curso está sujeito a diversas dificuldades que todos os outros também encontram e, como a área ainda é nova, é muito complicado conseguir que todos os professores tenham experiência atuando diretamente com jogos".

Após cinco anos na Ilusis, onde colocou em prática o aprendizado na faculdade e amadureceu como programador, uma recrutadora viu em Joab potencial para uma vaga na EA. “Como gostaram do meu currículo, participei de um processo de seleção com diferentes testes e entrevistas, até que me ofereceram o emprego”, com ele que, hoje, é desenvolvedor de software e trocou o Brasil pelo Canadá.