Topo

Com status de astro da NBA, pro-players ajudam a criar mouses de jogos

Luiz Hygino

Do Gamehall, em Lausanne, na Suíça*

02/12/2014 12h02

Segundo colocado na lista das 100 personalidades do ano da revista Forbes, a maior estrela atual da NBA, LeBron James, tem renda mensal de aproximadamente US$ 72 milhões, dividos entre salário e contratos de patrocínio. Aos 29 anos, LeBron é reconhecido nos quatro cantos do mundo, é dono da camisa mais vendida da NBA e inspira milhões e milhões de jovens em todo o planeta.

"No ano passado, por exemplo, o último jogo das finais da NBA teve audiência de 18 milhões de pessoas. A final do mundial de 'League of Legends' foi vista por 32 milhões de pessoas. De uma forma exagerada, é possível dizer que esses garotos (pro-players de eSports) são mais famosos que o LeBron James”.

As palavras de Ujesh Desai, gerente geral da linha de produtos G da Logitech e responsável por tudo que envolve jogos na empresa de tecnologia, soam exageradas, à primeira vista, para a plateia de jornalistas presente na sede dos laboratórios da empresa, na Suíça, em evento que contou com a presença de UOL Jogos. A função de Ujesh, hoje, engloba as principais prioridades da companhia, disposta a investir pesado nos mais modernos produtos de jogatina competitiva, ajudando a elevar, ainda mais, o patamar dos eSports no mundo.

"O que a Nike é para os atletas, nós queremos ser para os cyber-atletas. Eles tem que ter os melhores equipamentos, eles não podem correr o risco de ter coisas não funcionando perfeitamente. É a diferença entre ganhar ou não um prêmio de milhões de dólares, por exemplo. E eu não quero ser o responsável por uma derrota dessas", explicou Ujesh.

  • Depois de 12 anos na Nvidia, Ujesh Desai é o novo responsável pela linha G da Logitech

Menos é mais

A Logitech está longe de ser uma novata no mercado de periféricos para games. Fundada em 1981, mesmo ano em que lançou seu primeiro mouse, é a fabricante, por exemplo, do MX518, lançado em 2005 que vendeu mais de 16 milhões de unidades em todo o mundo e é lembrado até hoje com destaque por uma série de gamers profissionais e amadores como um dos melhores mouses da história. No entanto a gigante suíça tem braços que alcançam outros mercados.

"Como uma empresa de tecnologia com mais de 30 anos de experiência, poderíamos estar fazendo o que quiséssemos. Computadores, celulares. Mas sabemos que os jogos são o presente e o futuro. Por isso a prioridade", declarou o presidente da Logitech, Bracken Darrel.

“De 2005 a 2010, tínhamos várias prioridades, e produtos para jogos eram uma delas. Mas em algum momento, depois disso, perdemos o foco. Buscamos outras oportunidades, no mercado de tablets, no de caixas de som bluetooth, o que acabou sendo um erro. Agora voltamos à linha”, disse diretor de negócios Vincent Tucker.

  • Lado a lado: o MX518, mouse de 2005, e o novo G302 Daedalus Prime, de 2014

Aprendendo com os profissionais

No fortalecimento desse cenário, a Logitech tem trabalhado cada vez mais próxima aos atletas de eSports durante o desenvolvimento de seus produtos, numa relação simbiótica que tem apresentado resultados que agradam mutio a cientistas, engenheiros e cyber-atletas.

"Eu jogo videogames há 15 anos, já passei por times diferentes, me envolvi com organizações diferentes e nunca tinha tido voz no que diz respeito a desenvolvimento de produtos. Era algo como ‘Tome, o produto é esse. Use'. Agora nós realmente influenciamos o desenvolvimento dos mouses, por exemplo. Eles escutam nossa opinão e levam tudo em conta na hora de incorporar novidades aos produtos", disse Sean Gares, membro do time de "CS:GO" da Cloud 9, uma das equipes patrocinadas pela Logitech.

"Os pro-players são nossa referência. Usamos o conhecimento deles pra entender qual é a direção a qual devemos direcionar esforços, pois de um jeito ou de outro, cedo ou tarde, sempre chegamos à uma solução" explicou François Morier, engenheiro da Logitech.

Se a parceria tem trazido resultados concretos? Aparentemente sim, como apontou o diretor de engenharia da Logitech, Maxime Marini, diante dos últimos resultados da campeã europeia de “League of Legends”, a Alliance.

“Antes da nossa parceria, eram 16 vitórias e 12 derrotas nas últimas 28 partidas. Depois da Logitech, eles tiveram 21 vitórias e 7 derrotas. O mérito é só nosso? Claro que não. Mas eu vou usar esses números para provar nossa eficiência? Com certeza”, brincou Maxime.

  • A Alliance foi uma das equipes de eSports envolvidas no desenvolvimento do novo G302

Velocidade e simplicidade

O mais recente produto que traduz essa parceria - caçula da linha de produtos G, focada nos games - é o G302 Daedalus Prime. O mouse promete trazer a leveza e a precisão requeridas pelos jogadores profissionais, além de seis botões programáveis e de cliques ultra rápidos.

O curioso é que, apesar de ter sido desenvolvido principalmente com a participação de equipes de MOBA - e por isso ser anunciado como o mouse perfeito para a modalidade - o G302 agrada também aos profissionais de outras modalidades de eSports.

“Nós jogamos esse jogo há muito tempo, pois diferente de ‘League of Legends’ e jogos do gênero, os FPS estão no mercado há muito mais tempo. Todos os jogadores têm de 10 a 15 anos de experiência. Então poder jogar com um equipamento diferente muitas vezes faz o jogo parecer novo, parecer diferente. E apesar de ser um mouse desenvolvido para MOBAs, o G302 é perfeito para FPS, por ser tão simples e tão preciso”, explicou Sean Gares.

  • Protótipo de mouse da Logitech passando pelo teste de aceleração, velocidade e latência

Falar é fácil

Mas entre a explicação extremamente pessoal dos jogadores e a afirmação categórica dos homens de negócio da Logitech fica a mais impressionante - e divertida - parte da visita à empresa: os laboratórios de teste.

“Quando você compra um mouse de um concorrente, você vê as características do produto na caixa. Elas vem dos fabricantes de cada componente. Sabe de onde esses fabricantes tiram os dados? Das nossas máquinas de teste. Eles vêm testar aqui, porque não conseguem testar sozinhos. Nós construímos nossas próprias máquinas de teste, e assim, definimos o padrão da indústria inteira”, explicou Maxime Marini.

“Nós estamos criando novas tecnologias que vão além da capacidade humana. Eu, por exemplo, não consigo mover um mouse a mais de 450 polegadas por segundo. Nenhuma mão faz isso. Mas nós nos comprometemos a criar máquinas capazes de medir esta e outras características dos produtos, para que os jogadores tenham provas científicas de que eles nunca vão ser limitados pelo equipamento” disse Chris Pate, gerente de produto da linha G.

  • Teclados da Logitech passam até dois meses sendo pressionados ininterruptamente, treze vezes por segundo, antes de começarem a apresentar os primeiros sinais de defeito

A lista de aparelhos de teste é enorme. Braços mecânicos movidos a ar comprimido testam os limites de velocidade dos mouses. Uma espécie de toca-discos adaptado revela a capacidade de aceleração e os números de latência dos periféricos. Uma câmara anecóica, mais parecida com um bunker de ficção científica, isola completamente qualquer tipo de sinal eletromagnético externo, para que os engenheiros possam testar e aprimorar as tecnologias sem fio dos aparelhos.

Existe ainda uma enorme sala responsável apenas por abrigar os testes de resistência de mouse e teclados, onde os periféricos são castigados por centenas de dedos mecânicos que, variando força, velocidade e frequência, chegam a distribuir até 13 cliques por segundo nos botões dos produtos. Um lugar capaz de fazer até mesmo os entusiastas mais céticos acreditarem que sim, os botões dos mouses são pressionados mais 20 milhões de vezes antes de começarem a indicar sinais de piora no desempenho.

TESTE DE RESISTÊNCIA DA LOGITECH ESMAGA TECLADO

  •  

“Nós chegamos aqui meio convencidos demais, com todas essas ideias, pensando nas coisas que queríamos pedir, e de repente os engenheiros começaram a falar, a mostrar esses números e a provar resultados, com toda a ciência por trás dos produtos. E nós, como gamers, tínhamos uma série de preconceitos e estigmas que foram desaparecendo.” confessou Sean Gares, da Cloud 9.

“O nível do trabalho desses caras me faz pensar no futuro, em onde os eSports podem chegar. Acho que em 5, 10 anos, o passo natural de evolução pode ser um mouse moldado exatamente para a mão de cada atleta, produtos exclusivos de cada jogador. É algo que demorou centenas de anos para acontecer na evolução dos esportes tradicionais, mas que tem se tornado uma realidade de um modo muito rápido com os eSports”, profetizou Jacob Toft-Andersen, o Maelk, treinador da Alliance, equipe campeã europeia de “LoL”.

“Eu acabo sempre voltando à analogia dos esportes, porque funciona muito bem. Se um tênis é bom o suficiente para o LeBron entrar em quadra e se tornar o melhor jogador da NBA, ele é bom o suficiente para que qualquer garoto use na quadra da esquina de casa. E é exatamente isso que queremos fazer com nossos produtos. Com a ajuda dos pro-players e da ciência, queremos levar o que de melhor a tecnologia pode oferecer, ao alcance de qualquer um”, finalizou Ujesh Desai. 

* O jornalista viajou a convite da Logitech