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Melhor jogador brasileiro de "Street Fighter" quer ser "herói" para os fãs

Divulgação/Capcom
Imagem: Divulgação/Capcom

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em San Francisco*

11/12/2015 19h58

Aos 26 anos, Keoma Pacheco já é o maior jogador brasileiro de "Street Fighter" da história. No último domingo (6), o pro-player gaúcho derrotou favoritos e acabou o torneio, que é considerado o Mundial de "Street Fighter IV", como um dos oito melhores do mundo.

"Não sou talentoso. Sou um cara que trabalha muito duro", explica Keoma, em entrevista ao UOL Jogos. "Se consegui algum talento no jogo, foi simplesmente por causa de todo o meu estudo".

O pro-player relata detalhes de uma trajetória árdua rumo ao top 8. Foram 55 vitórias em um total de 61 torneios, sem nunca ficar fora das quartas-de-final; tudo isso sem qualquer patrocínio. "No começo, pegava cinco horas de ônibus e avião só para participar; ganhava o torneio e, por causa dos preços das passagens, nem tinha lucro. Só comecei a ter lucro em 2013", afirma.

O 7º lugar na Capcom Cup rendeu a Keoma US$ 5 mil.

Pelas dificuldades que enfrentou praticando no Brasil, Keoma quer usar suas vitórias para transformar a cena competitiva do país. "Não é meu termo favorito, mas todo mundo precisa de um herói", diz. "E se o Brasil precisa de um herói, eu espero ter me tornado esse cara".

Grande fã de veteranos das competições de "Street Fighter" como os japoneses Daigo e Tokido, Keoma entende as diferenças entre ser um jogador profissional lá fora e no Brasil. "Estimo que temos cerca de 5 mil jogadores ativos de 'Street Fighter IV' por aqui. Mas, em um nível competitivo, temos só seis", diz.

"Cheguei a pensar que o pessoal não era bom porque era preguiçoso, mas não tenho como julgar a vida dos outros", afirma. "Eu fui contra tudo e todos, nadei contra a maré e fui mais forte que ela. Mas é claro que nem todo mundo tem como fazer o mesmo no Brasil".

Keoma confia que sua performance na Capcom Cup fará com que patrocinadores comecem a prestar mais atenção no Brasil. "Não temos o reconhecimento e o suporte que a gente precisa", desabafa. "Espero que o que eu consegui motive outros. Espero trazer para alguns o que jogadores como o Daigo me trouxeram".

Movido por essa paixão alimentada por seus ídolos, Keoma criou um estilo de treinamento extremamente metódico. Ele recorda-se com detalhes de antigas partidas e torneios que disputou.

"Acredito ter mais tempo no modo de treinamento do que nas partidas online", diz o jogador. "Sempre que perco uma luta e não entendo o porquê, gravo e subo no YouTube para estudar. Devo ter centenas de vídeos de partidas minhas que usei apenas para ver e rever o que foi que eu errei".

O próprio Keoma admite: é muito trabalho. E com a chegada de "Street Fighter V" no início de 2016, todas as técnicas desenvolvidas em anos de treinamento ficarão no passado.

Mas o brasileiro planeja continuar na ativa: "'Street Fighter V' vai ser um recomeço do zero, mas a Capcom Cup serviu para me animar. O evento simboliza toda a paixão que caras como eu temos pelo jogo. Eu quero continuar apaixonado pelo jogo, e para isso eu vou passar para a próxima geração".

* O jornalista viajou a convite da Sony