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Fãs se mobilizam para lançar RPGs de mesa 'cult' no Brasil

Com apoio dos jogadores, pequenas editoras trazem RPGs cultuados como "Lenda dos Cinco Anéis" e "Savage Worlds" para o Brasil - Divulgação
Com apoio dos jogadores, pequenas editoras trazem RPGs cultuados como "Lenda dos Cinco Anéis" e "Savage Worlds" para o Brasil Imagem: Divulgação

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

17/12/2015 18h51

Entre a década de 1990 e o começo dos anos 2000, os RPGs de mesa chegavam ao Brasil através de grandes editoras, como a Devir e a Abril. Foi assim que os jogadores brasileiros tiveram acesso a jogos como "GURPS", "Dungeons & Dragons" e "Vampiro: A Máscara", entre outros.

O modelo de negócios dessas editoras e o próprio ecossistema da época, em que a internet ainda engatinhava e conceitos como "financiamento coletivo" e "distribuição digital" sequer existiam, tornava difícil a publicação de jogos menos conhecidos. Dificilmente um "In Nomine" ou "Witchcraft" daria as caras por aqui em versão brasileira. A estratégia das empresas não era nada errada, afinal, se você tem um orçamento limitado e precisa distribuir seus livros em bancas de revista e livrarias não especializadas, arcando com todo o custo de produção, vai preferir apostar em títulos mais populares e de retorno minimamente garantido.

Hoje, com o alcance da internet e a popularização da distribuição digital, o cenário mudou: editoras pequenas conseguem negociar o lançamento de jogos menos conhecidos e apostam no financiamento coletivo para publicar estes RPGs no mercado brasileiro. São os fãs se mobilizando para trazer ao país os produtos que desejam. É o caso de jogos como "Lenda dos Cinco Anéis", "Accursed" e "Numenera", por exemplo.

Fantasia oriental

Publicado originalmente em 1995, "Lenda dos Cinco Anéis" é um cultuado RPG de mesa ambientado em um mundo de fantasia medieval oriental, com cenários e criaturas baseadas na mitologia japonesa. A edição mais recente do jogo chegou ao Brasil através da editora New Order, do Rio de Janeiro.


"Outra empresa tentou lançar o jogo via financiamento coletivo e não conseguiu", conta Anésio Vargas Junior, editor chefe da New Order, ao UOL Jogos.

"Adquirimos os direitos e lançamos o jogo por pré-venda", lembra o editor. "Imprimimos mil cópias do livro básico e vendemos 363 cópias durante a pré-venda. Bancamos a publicação e sobrou capital para traduzir, diagramar e custear a pré-venda do suplemento 'Inimigos do Império' e do escudo do mestre, que chegará nas mãos da galera em janeiro".

Anésio reconhece que publicar "Lenda dos Cinco Anéis" no Brasil foi uma aposta e tanto, mas segundo o editor, muitos jogadores pediam pelo livro. "Muita gente pedia pelo jogo em eventos, por e-mail e mensagens no Facebook. O jogo tem uma comunidade considerável no Brasil". O material final é caprichado: Com capa dura, o livro básico possui 289 páginas coloridas e belamente ilustradas.

Financiamento coletivo

A New Order também aposta em financiamento coletivo para publicar outros RPGs no Brasil. Com a ajuda dos fãs, a editora já trouxe jogos como "Yggsdrasill", "Numenera" e "13ª Era" para o Brasil. Os números de arrecadação impressionam: "Numenera" precisava de R$ 40 mil para ser publicado e recebeu mais de R$ 76 mil, ou seja, 191% do valor pedido.

Com o dinheiro extra, a editora publica suplementos do jogo. "Cada nova meta permite publicar mais conteúdo ou acessórios daquele jogo", explica Anésio.

O formato é adotado por outras editoras pequenas, como a Retropunk, que trouxe para o Brasil o RPG "Savage Worlds" e suas ambientações, como "Deadlands" e mais recentemente, "Accursed".

"Accursed" é um cenário de fantasia sombria e foi lançado em 2013 nos EUA, através do Kickstarter. Para publicar a versão nacional, a Retropunk precisava de R$ 9 mil. Conseguiu quase R$ 27 mil com os fãs, através do site Kickante.

Universos alternativos

"Yggsdrasill", "Numenera", "Lenda dos 5 Anéis", "Accursed": todos esses RPGs têm em comum a oferta de cenários alternativos para as aventuras imaginárias de seus jogadores: Mundos futuristas ou vikings, com toques de terror vitoriano, samurais e ninjas japoneses, vale tudo para se distanciar da boa e velha conhecida fantasia medieval inspirada em "O Senhor dos Anéis".

Em termos de jogo, todos adotam suas próprias mecânicas, o que os distancia mais ainda de jogos mais populares, como "Dungeons & Dragons" e "Pathfinder". "Numenera", por exemplo, é um jogo criado por Monte Cook, game designer que trabalhou em "D&D" até 2001 e usa uma versão refinada do sistema D20.

O mesmo vale para "The Strange", outro jogo de Cook e próxima aposta da New Order. A campanha de financiamento do jogo começou no dia 10 de dezembro e já arrecadou R$ 12 mil dos R$ 40 mil necessários para a publicação. Os jogadores interessados podem participar do financiamento na página de "The Strange" no Catarse até o dia 8 de fevereiro.

Ainda longe das livrarias, os RPGs de mesa publicados pela New Order e pela Retropunk podem ser adquiridos diretamente nos sites das editoras.