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Capitão na Copa de "Overwatch", BRKsEDU quer promover eSport no Brasil

Ideia do youtuber é ajudar jogadores profissionais e equipes brasileiras a conseguirem melhores patrocinadores e terem mais destaque no cenário competitivo do game - Rodrigo Guerra/UOL
Ideia do youtuber é ajudar jogadores profissionais e equipes brasileiras a conseguirem melhores patrocinadores e terem mais destaque no cenário competitivo do game Imagem: Rodrigo Guerra/UOL

Victor Ferreira

Do UOL, em Anaheim*

07/11/2016 10h29

Apesar do fraco desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo de “Overwatch”, o youtuber Eduardo “BRKsEDU” Benvenuti, que serviu de capitão para a equipe, diz que está investindo ainda mais no cenário competitivo do jogo.

Agora, Edu pretende ajudar jogadores profissionais e equipes brasileiras a conseguirem melhores patrocinadores, e ganharem um espaço maior no cenário competitivo de “Overwatch”.

“A primeira coisa que eu falo é que estou em contato direto com a comunidade - os jogadores profissionais, alguns donos de times - e minha participação na Copa me aproximou muito destas pessoas”, disse em entrevista ao UOL Jogos. “E todos estão bem unidos, bem focados em ajudar o cenário”.

“Tem gente que não gosta de mim ainda, mas mesmo quem não gosta dialoga”, continuou.

O youtuber foi um dos focos centrais da controvérsia envolvendo o time brasileiro, eleito pelo público e composto por mais influenciadores e celebridades de YouTube do que por jogadores mais gabaritados.

Para ele, porém, a experiência ajudou a fortalecer seus laços com o jogo, ao ponto de querer ajudar sua expansão no país.

Os eleitos

Edu virou o capitão da seleção brasileira de “Overwatch” após uma votação criada pela Blizzard Entertainment, que trazia nomes tanto de jogadores profissionais quanto de influenciadores como youtubers.

Este processo foi o mesmo em todo o mundo, mas Edu argumenta que a cultura de cada país resultou na escolha do público

“Houve uma pré-seleção de cerca de 30 a 40 jogadores por país, e claro que cada país tem sua realidade. Então a Coreia do Sul, que tem um mercado de eSports extremamente bem desenvolvido pegou pro-players e caras do cenário”, disse. “Países como Chile, Brasil e até um pouco da Austrália, que não tem um cenário tão bem estabelecido, que não tem tantos pro-players, ou mesmo streamers e youtubers com SR (Standing Ranking, que define o nível de qualidade de jogador em modo competitivo) super alto, tiveram maior participação de figuras públicas.”

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“No caso do Brasil, eu fui chamado pra ser um dos jogadores da votação”, continuou. “A princípio eu falei ‘cara, eu não sei se tenho nível pra isso’, e eles responderam que era só uma exibição, não tem nem premiação, então aí aceitei que meu nome entrasse na votação.”

Por ser um dos youtubers mais populares do Brasil, BKRsEdu não só ganhou facilmente a vaga no time, como acabou virando o capitão por ter mais de 60% dos votos - o que não o surpreendeu, por considerar seu público “fiel”.

Além dos quatro eleitos - que também trazia o youtuber Leo “ziGueira” Duarte, Alan “Nextage” Ferreira e Filipe “Flawz” Mendes, Edu teve a oportunidade de chamar mais dois jogadores para completar a equipe, escolhendo James “Soulive” Romana e Yuri “Insanityz” da Silva.

“Pro time que a gente tinha, precisávamos de um DPS e um suporte, e literalmente escolhi os melhores”, explicou o capitão, citando que na época da seleção tanto Soulive quanto Insanityz ocupavam o topo do ranking nestas respectivas posições.

“Na verdade o único que não era jogador competitivo sou eu, porque o Alan é conhecido do YouTube, mas também é pro-player. Ele tem a tag Nextage no ‘Overwatch’ e faz parte do Dogma, que é um time brasileiro.”

Ainda assim, o grupo gerou polêmica, em especial no caso de ziGueira, que nem chegou a jogar partidas competitivas de “Overwatch”. O jogador, porém, não fez parte da equipe que competiu no torneio, sendo substituído por Brunno “Kyo” Cunha, conhecido por ser a primeira pessoa no mundo a conseguir uma arma dourada no jogo.

“O motivo pelo qual o ziGueira abriu mão da vaga dele é porque eu cobrei ele por não estar treinando”, disse Edu. “Não é maldade nenhuma por parte dele, mas ele não tinha tempo pra treinar.”

“É algo que muita gente me critica, perguntando por que eu não abri mão também. É porque eu estudei o jogo pra caramba, treinei, e esquecem de levar em conta que o motivo pelo qual o ziGueira abandonou a vaga é porque eu conversei com ele.”

De acordo com Edu, o treinamento trouxe sua própria dose de dificuldade.

“Antes de viajar foi bem difícil, porque só tivemos o time definido pouco antes de irmos”, explicou. “O Kyo não tinha visto americano nem passaporte, então colocamos ele com o risco de ele não poder viajar com a gente. O visto saiu no dia 17, e a gente embarcou no dia 23.”

“Nesse meio tempo o time junto e completo não chegou a treinar”. Nos EUA, a equipe só teve uma semana para se preparar, treinando juntos por cerca de 6 a 12 horas por dia.

Comédia de erros

Com todos estes elementos, não é surpresa que o Brasil teve um desempenho ruim no campeonato, ficando em último lugar na fase de grupos e perdendo as três partidas contra Suécia, Espanha e Canadá.

O capitão culpa principalmente a falta de coesão e entrosamento entre os membros da equipe, o que gerou o uso de habilidades supremas em momentos errados.

“A habilidade suprema mais errada que eu lancei no campeonato, que foi durante nossa última partida com o Canadá, não fui eu que decidi. Eu recebi a chamada de ‘ultar’, eu fiz e saiu super errado.”

“Acho que isso é um ponto legal de frisar: tanto eu quanto por exemplo o Insanityz, que em teoria errou uma jogada sozinho, ou muitos erros que parecem individuais para quem vê de fora eram na verdade erros da equipe por não fazermos a chamada ou estratégia ideal.”

“Às vezes cada um ia para um canto, ou quatro iam para um lado e dois para outro, e isso atrapalha muito porque em ‘Overwatch’ você tem que estar junto do time, salvo exceções.”

Edu também citou problemas de desempenho individual, mas preferiu não entrar em maiores detalhes. “Não vou ficar expondo ninguém, porque acho sacanagem”, declarou.

No geral, porém, o youtuber se mostrou satisfeito como seu papel de capitão na equipe.

“O que o time precisava que eu fizesse eu fazia, desde entrar em comunicação com a Blizzard até trazer caixa de remédio pro caso de alguém ficar doente. E na hora de jogar fazia o possível para o time desempenhar bem.”

“Tinha momentos de estresse e discussão - era o momento que deixava o pessoal explodir, mas depois tentava acalmar e jogar junto -, mas ao mesmo tempo o time já tinha gente experiente e que faz parte do cenário, e não precisam de instrução de como jogar o jogo.”

Além disso, Edu parece ter levado bem as piadas sobre seu desempenho e o da equipe em geral na Copa.

“A gente se esforçou ao máximo pra jogar bem, entramos na partida pra ganhar, e não ganhamos”, disse. “Dado que a gente perdeu, eu vou ficar sofrendo com que aconteceu? Não. Passou, passou”.

“E a maioria dos memes e zoeiras foram feitas por amigos dentro do cenário competitivo”, continuou. “A única coisa que acho mais errada são pessoas se aproveitando do fato de que o Brasil perdeu para se autopromover, denegrindo a imagem dos integrantes da equipe, e as pessoas ignorantes que não entendem nada sobre o jogo ou as dificuldades do pessoal de eSports no Brasil, e criticarem minha participação.”

“Devem ser crianças ou pessoas que são realmente bem ignorantes, e que não entendem que o Brasil, em termos de eSports, precisa de exposição e colocar os times e jogadores em evidência para conseguir um suporte financeiro por meio de patrocinadores, e acho que ajudei neste sentido”

Futuro da liga

Deixando a Copa para trás, o objetivo principal do antigo capitão da seleção de “Overwatch” é a de tentar ajudar o relacionamento entre times, jogadores e patrocinadores, para que o cenário cresça no Brasil.

“Acho que minha participação foi muito legal para sentir na pele o que um jogador profissional sente”, disse. “Definitivamente não tenho qualquer âmbito de virar profissional no jogo, mas definitivamente vou continuar envolvido no cenário.”

“No que eu puder facilitar a comunicação dos jogadores com a Blizzard eu vou, no que puder amadurecer as pessoas, ajudá-las a entender da parte econômica, de como lidar com possíveis patrocinadores, de como ser político na hora de lidar com funcionários de empresas - acho que pessoal acaba sendo muito emotivo, muito cru ainda, e isso não é culpa deles, é algo de vivência”.

O youtuber também deu novas informações sobre a Liga de “Overwatch” anunciada durante a BlizzCon, indicando que ela chegará ao Brasil de alguma forma.

“O que ‘Overwatch’ está fazendo com sua liga é global, então o Brasil fará parte disso. O que eu sei ainda é confidencial, e tem coisas que não estão definidas, mas vai ser bom pro cenário e pros jogadores do Brasil terem mais exposição, e ter oportunidade até em disputar times do exterior”, disse. “E a tendência é que eles consigam investidores não mais em quantidade, mas em qualidade e em capacidade financeira.”

Edu também acredita que a próxima Copa do Mundo de “Overwatch” não terá o mesmo formato da realizada neste ano, e espera que ela seja composta totalmente por pro-players, com menos personalidades da internet envolvidas diretamente.

“Esse ano foi celebração, no ano que vem vai ser uma competição de verdade”, declarou o youtuber.

*O jornalista viajou a convite da Blizzard