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Sucesso lá fora, "CS:GO" brasileiro vive crise de profissionalismo em casa

Montagem/UOL
Imagem: Montagem/UOL

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

09/01/2017 16h15

Ainda que os brasileiros façam bonito no cenário internacional de “Counter-Strike: Global Offensive”, a situação nacional é muito insólita. Diversos problemas no competitivo brasileiro formam uma trama de dívidas, falta de comprometimento e informalidade que prejudicam o crescimento da comunidade como um todo.

Exportamos excelentes jogadores de “CS:GO”, como exemplo temos as equipes SK Gaming e Immortals gg, que desde 2016 conquistam bons resultados em campeonatos importantes e configuram entre os top 15 times de todo o mundo.

Nestas lineups, há estrelas que se destacam individualmente, como Gabriel “FalleN” Toledo, indicado pela Forbes como um dos 30 jovens mais influentes dos games em todo o mundo, e Marcelo “coldzera” David, que recebeu o prêmio de melhor jogador de eSports do The Game Awards 2016.

Enquanto a bandeira verde e amarela brilha lá fora, enfrentamos no cenário nacional problemas antigos como informalidade e inadimplência. Como resultado, mais de 20 jogadores, comentaristas e personalidades da comunidade recentemente divulgaram torneios que não pagaram premiações nas datas prometidas.

Entre os citados, há nomes como GNCup, AGE Campinas, Rising Stars e BRMA Rio. Em declaração ao UOL Jogos, os responsáveis da BRMA falaram que pagaram uma parte e devem pagar o restante até o dia 31 de janeiro, enquanto a GNCup admitiu o atraso, alegando problemas com patrocinadores.

Ex-integrantes e jogadores de equipes como G3nerationX, Team One, Remo Brave, Red Canids, Big Gods, TShow, INTZ e CNB reportam valores não quitados que vão desde R$ 2 mil até R$ 40 mil. Por pessoa, é claro. A situação das organizações não está atrás disso: segundo Alexandre “Gaules” Borba, somente a G3X, da qual é dono, precisa receber cerca de R$ 180 mil em premiações de torneios.

Antiga lineup da SK Gaming repleta de brasileiros, quando a equipe venceu o Major ESL One Cologne - Reprodução/ESL - Reprodução/ESL
Antiga lineup da SK Gaming repleta de brasileiros, quando a equipe venceu o Major ESL One Cologne
Imagem: Reprodução/ESL

Boa parte do problema vem da informalidade generalizada: as organizações não possuem contratos firmados com os torneios e assim não têm meios legais para cobrar os valores devidos.

Dessa forma, quando os pagamentos não ocorrem, não há muito o que fazer - tanto da parte dos times quanto dos jogadores. Para piorar, muitas vezes nem mesmo os próprios eventos firmam contratos com seus patrocinadores, tornando a situação toda ainda mais complicada.

E isso ocorre mesmo no nível mais básico do cenário. Muitos pro players não possuem contratos assinados com os times pelos quais atuam. Os jogadores ficam sem a garantia de um salário e benefícios, dependendo quase exclusivamente de premiações e da boa vontade de patrocinadores.

Por isso, vemos casos como as extintas lineups da CNB e G3X, que deixaram de existir por falta de patrocínio. E não estamos falando de altas cifras, como costuma se imaginar ao falar de eSport: nos casos destas duas equipes, os maiores salários giravam em torno de R$ 2 mil.

A solução mais óbvia é, claramente, recorrer à justiça, mas como fazer isso se não há acordos assinados? A ingenuidade de jogadores muitas vezes resulta na falta de controle de situações que começam com pequenas dívidas e, como verdadeiras bolas de neve, chegam a milhares de reais.

Além disso, existe um medo constante entre os pro players de se queimarem no cenário ao reclamarem por seus direitos. Aos olhos dos chefes, o jogador perfeito é mudo, e infelizmente apesar de diversas injustiças e problemas, é desta forma que muitos seguem suas carreiras, fazendo reclamações descentralizadas em redes sociais e não agindo de forma efetiva para mudar a situação.

Mesmo sendo um discurso um tanto quanto ilusório e bonito no papel, a profissionalização do cenário como um todo é a solução. Empresas, campeonatos, times e jogadores estão ainda completamente imersos na mesma informalidade que o competitivo nacional carrega há anos.

Os pro players precisam se aproveitar de seus papéis na comunidade competitiva para aumentar sua visibilidade e fazer com que companhias sérias se interessem pelo cenário e injetem dinheiro de forma responsável e, principalmente, comprometida.

Com a maior inserção de nomes sérios e empresas engajadas no crescimento dos eSports, o “CS:GO” brasileiro tende a caminhar ao sucesso - mesmo sendo um caminho tortuoso e difícil. Lutar por direitos nunca foi fácil, mas está na hora de começar a assinar contratos, por menores que sejam os valores.

Estamos falando de um esporte eletrônico que movimenta milhões em todo o mundo. Já passou do momento de tratar tudo com descaso, é necessário amadurecer e levar o game a sério.