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Aos 22 anos, "Baiano" supera tumor e polêmicas para jogar "LoL" nos EUA

Baiano é suporte na Big Gods, equipe que vai disputar um espaço para brilhar na Challenger Series - Reprodução
Baiano é suporte na Big Gods, equipe que vai disputar um espaço para brilhar na Challenger Series Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

18/01/2017 19h39

Gustavo “Baiano” Gomes tem uma história como poucos de sua idade. Com apenas 22 anos, o jovem já superou um tumor no intestino, foi banido do competitivo de “League of Legends” por atividades ilícitas e voltou com tudo - sendo hoje o primeiro pro player brasileiro a jogar profissionalmente em uma competição norte-americana da Riot Games.

Natural de Bom Jesus da Lapa, uma cidadezinha do interior da Bahia, o jogador gosta de dizer que foi criado ao redor de todo o Brasil. Sua profissão de hoje começou como uma simples brincadeira entre amigos: com 19 anos, Baiano e seus colegas se juntaram e, em menos de um mês, o time chegou a ganhar de grandes nomes como CNB, paiN Gaming e Keyd Stars.

Desde então, o jovem começou a se dedicar mais ao jogo, chegando à sua primeira Gaming House da equipe Frequency, que mais tarde seria reconhecida como Seven Wars, cuja lineup incluía grandes nomes como Luccas "Zantins" Zanqueta, Lucas "Krow" Lahoz, André "esA" Pavezi e Bruno "Brucer" Pereira.

Nesta época, ainda em 2014, ainda utilizava o nick “OwNinG”, que foi trocado propositalmente por algo mais patriota, por assim dizer. “Eu não queria ter um nick internacional, queria algo brasileiro mesmo”, diz o pro player ao UOL Jogos. “Como meus amigos já me chamavam de Baiano, eu só aproveitei. Acho engraçado, quero ver os narradores gringos falando ‘byano’.”

Apesar dos bons resultados, em março de 2014 o jogador caiu no martelo da justiça da Riot Games, que baniu diversos jogadores que faziam a prática ilegal do 'elojob', que consiste em receber pagamento por jogar em outras contas para subir de elo.

“Eu fiz inicialmente apenas para jogar com amigos, mas claro que a renda que esse tipo de serviço poderia dar era assustadora”, explica. “Em 2014, o cenário brasileiro ainda estava começando a crescer, então o elojob nos dava uma renda maior que o de jogadores profissionais.”

Baiano jogando "LoL" - Reprodução/Riot Games - Reprodução/Riot Games
Imagem: Reprodução/Riot Games

Durante o tempo que ficou banido (um ano fora das competições oficiais da Riot), Baiano aproveitou e continuou no cenário competitivo em campeonatos amadores e no Circuito Desafiante. “Fui campeão de diversos campeonatos durante esse período”, lembra.

Após suas primeiras equipes, o suporte - que se vira muito bem jogando em todas as posições e, como ele mesmo diz, foi o único suporte a ficar no top 1 do ranking brasileiro de “League of Legends” - passou também pela INTZ Red, Jayob e Keyd Stars, time no qual o jogador mais brilhou e ao mesmo tempo passou uma das maiores dificuldades de sua vida.

O começo de 2016, ainda na fase de classificação do Campeonato Brasileiro de League of Legends, ficou marcado para Baiano pela descoberta de um tumor benigno no intestino. Ele, que sempre teve muitos problemas com insônia e no estômago, tomou um susto após passar duas semanas com dores e sem conseguir me alimentar.

“Fui internado no hospital e descobriram um tumor no meu intestino. Por conta da operação e tratamento, precisei ficar dois meses sem jogar e isso me desanimou bastante, porque eu realmente estava jogando muito bem e isso quebrou toda minha evolução.”

 Baiano no começo de dezembro de 2016, em sua última cirurgia do tratamento - Reprodução - Reprodução
Baiano no começo de dezembro de 2016, em sua última cirurgia do tratamento
Imagem: Reprodução

“Eu não perdi a vontade e usei isso como motivação para voltar. Retornei a tempo para as partidas decisivas do campeonato e ainda consegui ajudar o time, tanto que chegamos até a final do 1º Split do CBLoL 2016”, diz com orgulho.

Até hoje, o jogador sente que esta foi sua maior conquista, junto de seu momento mais difícil na vida profissional: “Eu não me sentia tão confiante como antes, tudo no jogo parecia imprevisível e eu precisei enfrentar tudo dentro do jogo e fora dele para conseguir fazer o meu melhor e ajudar meu time.”

Atualmente, o jovem está em um momento de muita pressão e também muito orgulho. Pioneiro, Baiano será o primeiro brasileiro a jogar de forma profissional em uma das ligas norte-americanas oficiais da Riot Games, representando a equipe Big Gods.

O pro player será reserva do coreano Koo Hyuk "KonKwon" Kown durante a disputa da Challenger Series, o Circuito Desafiante nos EUA. Antes dele, o também brasileiro Rafael "Rakin" jogou na liga universitária de "LoL" nos EUA, competindo pela Call Gaming. O time tentou uma vaga na Challenger Series, mas não conseguiu.

Já instalado nos Estados Unidos, o suporte está investindo em aulas de inglês para melhorar seu nível de comunicação com o resto do time, e diz, otimista, que em algumas semanas já deve estar bem adaptado.

“Eu já estou sentindo a dificuldade nesta primeira semana com o restante do time, mas acho que agora estou passando pela ‘pior parte’ e cada vez mais ficará fácil. Com certeza há muita pressão, mas vou com calma e tento não pensar tanto nisso, afinal eu estava um tempo sem treinar e preciso pegar o ritmo de jogo novamente.”

O brasileiro já conta com o amor da torcida e diz que recebe muitas mensagens de carinho e apoio. “Muitas pessoas dizem se inspirar em mim pra seguir seus sonhos, tanto pra se tornarem jogadores profissionais como para outras coisas. Eu me sinto muito feliz com isso e confesso que isso também me dá forças pra continuar.”

“Um fã me enviou uma frase há algum tempo e a uso até hoje: não desista enquanto alguém está se inspirando em você, com certeza eu e muitos outros jogadores fazemos isso também.”