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Eu, "CS" e as crianças: apoiados pelo pai, três irmãos viraram pro players

Da esquerda para a direita: Lucas, Fonseca (pai), Charles e Henrique - Reprodução
Da esquerda para a direita: Lucas, Fonseca (pai), Charles e Henrique Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

07/04/2017 13h14

O "Counter-Strike" foi a forma que um pai recém separado achou de se aproximar dos filhos... E não é que deu certo?

"Eu me orgulho muito deles", diz Charles Fonseca, gerente de tecnologia de informação de 44 anos. E não é à toa: Charles é pai de três pro players que atualmente estão morando fora do país para jogar "Counter-Strike: Global Offensive". Tudo começou quando ele se separou da ex-mulher e queria passar mais tempo com seus filhos.

Na época as lan houses bombavam e ir passar umas horas jogando "CS" virou o passeio do pais com os garotos.

O resultado? Seus filhos estão atualmente entre os melhores do mundo no game.

Lucas "lucas1" Telles e Henrique "hen1" Telles (22 anos) são gêmeos e fazem sucesso internacional no "CS:GO". Os dois fazem parte da equipe Immortals, uma das melhores do mundo. O irmão mais velho deles, Charles "pbf" Telles (24), acabou de sair do Brasil para viver nos Estados Unidos, como seus irmãos, para jogar em uma equipe profissional do game.

Fonseca sempre gostou de jogos. Ele diz, com aquela satisfação de pai, que foi parte fundamental para que os meninos fossem para o exterior jogar: "Eu precisei convencer minha ex para eles irem pro exterior, porque eles iam tentar fazer algo grande lá fora."

Falar que ele foi parte essencial, na verdade, é até pouco: "Quem descobriu o jogo foi meu pai, no na época do 'CS 1.5'", diz o irmão mais velho, pbf. "Ele me apresentou o jogo, isso por volta de 2005, meus irmãos nem jogavam. Eu tinha uns 12 anos quando comecei na época."

"Meu pai jogava, meu tio jogava, meu irmão jogava", diz Henrique. "Com oito anos de idade, quando a gente saía, pra ir em shopping, éramos nos três e meu pai e um tio, a gente ia pra lan house jogar."

Uma regra da casa era nunca deixar os estudos de lado. Segundo Fonseca, caso os meninos tirassem nota vermelha, ficariam sem computador. Se ficassem de recuperação, não viajavam no final do ano.

"É fácil pensar só no jogo, mas nós também éramos bons na escola, não deixávamos de estudar", comenta Lucas. "Tivemos que trancar a faculdade de Sistema de Informação pra vir pra cá [EUA]."

Família CS - Reprodução - Reprodução
Henrique e Lucas comemoram vitória; Fonseca é assertivo: "Falar que jogos eletrônicos são violentos é coisa do passado. A violência está no dia-a-dia com a gente andando na rua; não no jogo."
Imagem: Reprodução

A recepção do pai no "CS" era tão grande que os quatro chegaram a jogar profissionalmente por muito tempo. É isso mesmo: Fonseca já chegou a ser pro player junto de seus filhos, e tudo começou em 2008 em uma equipe chamada YouNeverKnow.

"Resolvemos entrar no mundo competitivo e participar dos torneios da cidade, mas a gente era muito ruim", fala pbf rindo da situação. "A gente sabia que ia viajar pra perder, tínhamos consciência mas resolvemos ir e ver no que dava."

Família CS - Reprodução - Reprodução
Desde então, o time começou a deslanchar. Acompanhados sempre de mais um jogador, a família do "CS" continuou jogando bem até 2011, chegando a viajar para Brasília e participar de grandes campeonatos e qualificatórias da época.
Imagem: Reprodução

Mas nem tudo que é bom é para sempre, não é? "Eu tive que tirar meu pai do time. Chegamos a um consenso que precisávamos tirar ele porque ele estava em um nível abaixo, mas isso não desmotivou ele, foi só um choque e ele entendeu. Aí ele virou nosso treinador", explica o filho mais velho.

"Infelizmente em 2012 o 'CS 1.6' tinha acabado, começamos no 1.5 e no 1.6 o cenário morreu. Pegamos o top três nacional, a gente ganhava todos os campeonatos aqui na região, no interior. Foi uma decepção porque a gente queria chegar no top 1 do Brasil."

O resto é história. O time se desmanchou, muitos jogadores de "CS" migraram para o "CrossFire" pelo cenário, e os meninos voltaram a ter destaque no cenário novamente só em 2015, quando o "Counter-Strike: Global Offensive" já estava estabilizado e com boas ofertas para equipes e pro players.

Hoje, o pai de longe, daqui do Brasil, só observa os meninos brilharem lá fora. Diz que assiste todos os jogos com a maior torcida, não importa o horário.

"Eu comecei nessa área de games muito mais cedo e não tive oportunidade que eles tiveram", diz Fonseca. "Na época que a gente jogava juntos, em 2011, eu queria ser top 3 do Brasil. Hoje eles estão no top 10 no mundo."