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Por que "Resident Evil 7" foi tão elogiado e mesmo assim não vendeu bem?

Bruna Mattos

Do REVIL*

08/05/2017 19h42

"Resident Evil 7" foi lançado em janeiro com a premissa de trazer de volta o terror de sobrevivência para a franquia em meio a uma série de mudanças importantes, como a visão em primeira pessoa, algo inédito para um jogo numerado da série.

Por conta disso, foi visto como um novo divisor de águas, um título capaz de revolucionar a série como "Resident Evil 4" fez em sua época. A grande diferença entre os dois nesse papel foi o impacto nas vendas. Ainda que ambos tenham sido aclamados pela crítica, "Resident 7" não trouxe vendas tão expressivas quanto o quarto jogo numerado.

O jogo foi o mais vendido do mundo na semana de lançamento, com 2,5 milhões de cópias - só no Japão foram 180 mil. Uma boa primeira semana de vendas quando comparado a outros jogos lançados no final de janeiro, mas um desempenho abaixo da média em relação à série "Resident Evil". Quando "RE6" foi lançado, em 2012, alcançou a marca de 600 mil cópias vendidas no Japão. Antes, em 2009, "RE5" saiu para PlayStation 3 e Xbox 360 e vendeu quase 400 mil unidades por lá.

Além disso, no final de março, fim do ano fiscal da Capcom, "Resident Evil 7" alcançou a marca de 3,5 milhões de cópias vendidas globalmente, incluindo todas as plataformas (PC, PS4 e Xbox One). Isso o deixou meio milhão abaixo da meta inicial projetada pela Capcom. Apesar dos resultados, a produtora considerou os resultados como “sólidos”.

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Vale notar, as expectativas de vendas de "Resident Evil 7" foram bem mais modestas do que o esperado para "RE6": na época, a empresa apostou em nada mais nada menos do que 7 milhões de cópias vendidas até o final de 2012. Apesar de o jogo ter sido um verdadeiro hit em suas primeiras semanas e na pré-venda, a boa maré não durou muito – o jogo alcançou a marca pretendida pela Capcom muito tempo depois do final do ano fiscal referente ao lançamento do jogo.

Os motivos pelos quais "Resident Evil 7" não alcançou os mesmos números do anterior são vários. Um deles pode ser a descrença causada pelos últimos títulos da franquia: "Resident 6" não deixou boas impressões e de lá pra cá a série não viu títulos de peso - só uma enxurrada de relançamentos e capítulos esquecíveis, como "Umbrella Corps". Ainda que "Resident Evil 7" anunciasse grandes mudanças e um retorno às origens, essas mesmas promessas já haviam sido feitas antes pela Capcom e nunca foram realmente alcançadas, ou seja, nem todo mundo 'pagou pra ver'.

Outro problema é o fato de não ser um jogo 'para qualquer um'. Terror de sobrevivência não é algo que apela a um grande público. Nem todo mundo gosta de sentir medo ou ficar tenso enquanto joga. Os jogos mais antigos da franquia são marcados por uma dificuldade elevada, exigem exploração e resolução de enigmas, características que nem sempre divertem o público em geral. Enquanto a ação tornou "Resident Evil" mais popular e mais rentável, também roubou sua identidade. Era provável que retomar as origens causasse o efeito oposto - e foi o que aconteceu.

Ainda que "Resident Evil 7" causasse grande familiaridade aos fãs da série por inserir de forma inteligente várias referências às raízes da série, também causou estranhamento em outras pessoas. A série é marcada pela câmera fixa e, depois, pela visão por cima do ombro do personagem (aliás, já são mais de 20 anos de jogos em terceira pessoa".

Muitos fãs da série não gostam ou não estão acostumados pela visão em primeira pessoa e esse detalhe foi um grande ponto de conflito mesmo para os que estavam mais familiarizados com a franquia. Ainda, um dos pontos que mais fazem os fãs acompanharem os jogos da série é a presença de seus personagens icônicos, como Leon, Chris, Jill... a ausência desses grandes nomes em "Resident Evil 7" (pelo menos à primeira vista) pode ter jogado um balde de água fria em muitos que reconhecem na série seus personagens preferidos.

Sim, "Resident Evil 7" vendeu bem menos do que seu antecessor, mas mesmo assim o desempenho é visto com otimismo pela Capcom. Por quê?

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Sucesso é algo relativo para uma empresa e nem sempre tem a ver com o número de cópias vendidas, mas também com o impacto que aquele título pode trazer para a marca como um todo. Vendas são uma resposta imediata, mas boas impressões do público e da mídia podem trazer resultados a longo prazo, especialmente quando se fala de uma série que passava por um momento extremamente conturbado.

As diferenças entre "Resident Evil 6" e "7" não ficam somente nos estilos de jogo e em número de cópias vendidas, mas nas impressões deixadas tanto na mídia especializada quanto entre os fãs da franquia. As mudanças iniciadas em "Resident 4" encontraram seu ápice no sexto jogo. Enquanto esta revolução tornou a franquia mais popular, causou um colapso de identidade, fazendo com que ela passasse a ser considerada cada vez mais genérica. Infelizmente, na busca por mais vendas e pela expansão do público, a Capcom tentou agradar a todos, mas não agradou ninguém.

"Resident Evil 7", por outro lado, tem um projeto menos megalomaníaco, mais focado, com conceitos mais maduros e bem estabelecidos. Ele não tem uma identidade que agrade um público imenso, mas tem sua própria identidade bem definida.

Ele tentou corrigir erros que afastaram a série de sua origem ao ponto de uma redenção. Apesar das mudanças drásticas, "Resident Evil 7" é o jogo que mais tem a ver com as raízes da série nos últimos 12 anos. Ainda que não tenha sido um estrondo em vendas, o título deixa uma marca positiva e pode ter afastado de vez a maré de descrença sobre a franquia.

* Bruna Mattos é uma das editoras do site REVIL