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Por que George Lucas é odiado pelos fãs de "Star Wars"?

Jamie McCarthy/Vox
Imagem: Jamie McCarthy/Vox

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

14/05/2017 04h00

Como o criador de "Star Wars" passou de ídolo a persona non grata

Antes louvado como a mente criativa por trás de um dos maiores fenômenos da cultura pop, George Lucas hoje é visto com ressentimento pelos mesmos fãs que ajudaram a erguer seu império.

Nas décadas entre a estreia do primeiro "Star Wars" e os dias atuais, vários episódios grandes e pequenos minaram a relação entre admirado e admiradores. O fracasso da trilogia de Anakin, as constantes mudanças à trilogia clássica, a acusação de que a Disney seria um grupo de 'cafetões' - todos estes ocorridos e muitos outros foram ficando empilhados, e hoje a maior parte do público agradece pelo fato de que George não manda mais na franquia.

Midichlorians - Divulgação/Lucasfilm - Divulgação/Lucasfilm
Muitos ainda não se conformam com a ideia de que um exame de sangue pode revelar sua afinidade com a Força
Imagem: Divulgação/Lucasfilm

De todos os pecados de George, o que mais pesa é "A Ameaça Fantasma" e suas duas sequências. Já na época da trilogia original ele admitia que não era um bom diretor ("Uma Nova Esperança" foi resgatado do caos por Marcia, esposa de George e editora do filme, segundo relatos; e os dois filmes seguintes tiveram outros diretores) - o que não o impediu de tomar as rédeas da (então) nova trilogia.

O resultado: três filmes chatos, inflados e incoerentes, que eram mais preocupados com a venda de bonecos do que de ingressos e serviram mais para diluir a mitologia da franquia do que para incrementá-la.

Paralelamente, George iniciava uma estranha campanha contra as versões originais dos primeiros três filmes da série. Utilizando computação gráfica, ele acrescentava mais e mais elementos visuais à trilogia original a cada relançamento, chegando até a mudar a ordem dos disparos no confronto entre Han Solo e Greedo (um erro imperdoável na ótica dos fãs mais assíduos da franquia).

As mudanças não seriam tão problemáticas se George não se recusasse a relançar também as versões inalteradas dos filmes, ou se o próprio não tivesse dito o seguinte em 1988: "Pessoas que alteram ou destroem obras de arte e nossa herança cultural por lucro ou como um exercício de poder são bárbaros, e se as leis dos Estados Unidos continuarem a permitir este comportamento, a história certamente nos classificará como uma sociedade barbárica."

Os primeiros três "Star Wars" eram obras-primas dos efeitos práticos. Mas quem não assistiu aos filmes antes das mudanças hoje precisa suar para pôr as mãos nas versões originais.

Hayden Christenssen - Reprodução - Reprodução
O revisionismo de George Lucas colocou Hayden Christensen no final de "O Retorno de Jedi"
Imagem: Reprodução

Como alguns fãs explicam no documentário "O Povo contra George Lucas", o sentimento de inimizade nasceu porque George parece enxergar "Star Wars" como algo pessoal dele, e não como um bem cultural que pertence ao público.

Para o diretor do filme, Alexandre Philippe, porém, a relação entre os fãs e George é mais complicada do que uma de mero desdém.

"Há muito ódio e frustração dos fãs, mas também muito amor, afeição e admiração dedicados a George," explicou, em entrevista ao canal Red Letter Media. "É uma dinâmica cultural única entre um criador e seus fãs."