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Nos anos 1980, os RPGs salvaram "Star Wars" do esquecimento

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Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

28/05/2017 04h00

Acredite, houve um dia em que ninguém se importava com "Star Wars"

Nos últimos 25 anos, "Star Wars" se consolidou como um pilar essencial da cultura pop. Novos filmes, animações, games e todo tipo de brinquedo relacionados à franquia criada por George Lucas são lançados anualmente. Mas nem sempre foi assim: em meados dos anos 1980, quase ninguém mais se importava com a saga dos Jedi e a guerra entre Império e Aliança Rebelde tinha ficado no passado.

A trilogia clássica (que na época era apenas "a trilogia Star Wars") já tinha passado no cinema e estava disponível em VHS nas locadoras. Um especial de Natal foi exibido na TV nos EUA e no Canadá em 1978 e era isso. Hollywood não pensava em produzir novos filmes - nem mesmo em remasterizar os antigos ou lançar versões do diretor.

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Os módulos de "Star Wars: The Roleplaying Games" continuaram sendo atualizados conforme a franquia evoluiu.
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Talvez por ser mais fácil negociar uma franquia em baixa, a West End Games, que havia estreado no mercado dos RPGs de mesa com o divertido "Paranoia" e se dado bem ao licenciar "Os Caça-Fantasmas" para um jogo ao estilo "Dungeons & Dragons", decidiu adquirir a licença de "Star Wars". Em entrevista para a revista Rolling Stone, Bill Slavicsek, um dos responsáveis pelo projeto, disse que achou aquilo uma loucura da editora. "Era uma licença morta!"

Isso não impediu a West End de oferecer US$ 100 mil para a Lucasfilm pela licença da marca "Star Wars". Eles não foram os únicos. A TSR, editora de "Dungeons & Dragons", ofereceu US$ 70 mil pelo direito de fazer um RPG da franquia.

Segundo Greg Costikyan, designer do RPG de "Star Wars", naquela época a Lucasfilm não acreditava que a franquia havia chegado ao fim. "O projeto de George Lucas era para 9 filmes", lembra o autor em entrevista ao site Glixel. "Mas eles sabiam que 'Star Wars' estava hibernando, congelado em carbonite". O estúdio acreditou que um RPG de mesa manteria a franquia viva na mente dos geeks. "Por isso eles viram valor no acordo de licenciamento".

Uma nova esperança

Em 1987, quando "Star Wars: The Roleplaying Game" chegou às lojas dos EUA, o mercado do RPG de mesa era extremamente competitivo: "Dungeons & Dragons" era dono da maior fatia do mercado, mas outras companhias estavam publicando seus próprios jogos, voltados para nichos como ficção-científica e terror, além de disputar o território de "D&D", a fantasia medieval.

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A versão atual de "Star Wars RPG", da Wizards of the Coast, é publicada no Brasil pela Galápagos.
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 O jogo de "Star Wars" foi bem recebido na comunidade RPGista norte-americana, o que pegou a Lucasfilm de surpresa. O sucesso do jogo despertou o interesse de outras companhias e do estúdio em licenciar mais produtos. De certa forma, "Star Wars: The Roleplaying Game" foi um dos responsáveis pelo surgimento do "Universo Expandido" que manteve a franquia viva por décadas e ainda influencia novos produtos, como a série animada "Star Wars Rebels".

Poucos anos depois do lançamento do RPG, a Lucasfilms licenciou uma linha de quadrinhos e o primeiro romance de "Star Wars" do autor Timothy Zahn, "Herdeiro do Império". O escritor usou o módulo básico do RPG de mesa como fonte para desenvolver o cenário do livro, ambientado após os eventos de "O Retorno de Jedi".

Nos anos seguintes, Bill Slavicsek se tornou uma das maiores autoridades em "Star Wars", após escrever várias edições do "Guia para o Universo Star Wars". O autor trabalhou na Wizards of the Coast, onde dirigiu a produção da terceira e da quarta edições de "Dungeons & Dragons" e foi um dos designers do atual "Star Wars RPG". Hoje, Bill trabalha na Zenimax como designer de conteúdo para "The Elder Scrolls Online".

No Brasil, o atual "Star Wars RPG" é publicado pela Galápagos Jogos. O módulo básico, "Fronteiras do Império", custa cerca de R$ 200.