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Carl Barks: conheça o homem que transformou o Pato Donald em um ícone

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Imagem: Reprodução

Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

25/06/2017 08h00

Carl Barks - também chamado de "O Homem dos Patos" - viveu quase toda sua carreira no anonimato, mas é considerado por fãs como um dos maiores artistas da história da Disney

Neste ano, a Disney lançará uma nova versão do clássico desenho "Ducktales", que marcou época no fim dos anos 80 e início dos anos 90 ao mostrar as aventuras do Tio Patinhas e seus sobrinhos-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho.

Embora trouxesse bastante material original e inédito, é inegável que "Ducktales" deve muito aos quadrinhos clássicos do Pato Donald, e em particular às contribuições de um homem: Carl Barks.

Entre as décadas de 1940 a 1960, Barks foi um dos principais responsáveis pela expansão do universo do Pato Donald, principalmente com a criação do rabugento Tio Patinhas.

Nascido em 1901 na cidade de Merrill, em Oregon, Carl Barks era filho de um fazendeiro, e passou boa parte de sua infância trabalhando no terreno de sua família. Em seu tempo livre, o jovem costumava desenhar e fazer ilustrações usando como base tiras de quadrinhos em jornais.

As primeiras décadas de vida de Carl foram conturbadas: graças a constantes mudanças pela Costa Oeste dos EUA, ele demorou a se formar na escola; em 1916, sua mãe veio a falecer, e no mesmo ano começou a sofrer com problemas auditivos que durariam pelo resto de sua vida.

Para sustentar sua família, o jovem trabalhou como fazendeiro, cortador de lenha, cowboy e motorista de charretes - tudo sem muito sucesso. Para aguentar este duro estilo de vida, ele aprendeu a usar o humor e fazer piada com sua situação para, como ele mesmo dizia, "não enlouquecer".

Enquanto isso, ele também tentava a sorte procurando empregos de ilustrador, e a grande virada de sua carreira finalmente surgiu em 1935, quando passou em um processo seletivo para o estúdio de Walt Disney. Trabalhando inicialmente como um "inbetweener" - que preenche os espaços da animação para parecer que os personagens estão em movimento -, Carl foi promovido para o departamento criativo por suas ideias para piadas e situações divertidas nos desenhos.

Tio Patinhas - Reprodução/Carl Barks - Reprodução/Carl Barks
Primeira aparição do Tio Patinhas, em 1947
Imagem: Reprodução/Carl Barks

O Homem dos Patos

Em 1937, Carl começou a trabalhar com o personagem que definiria o resto de sua carreira criativa: o Pato Donald. Ao lado do artista Jack Hannah, ele trabalhou em diversas histórias para curtas animados estrelados pelo pássaro ranzinza.

Carl, porém, se mostrava insatisfeito dentro da Disney, e acabou deixando o estúdio em 1942 para tentar a sorte como criador de galinhas. Porém, assim como todas as suas outras empreitadas, a tentativa acabou não dando muito certo, o que o levou a perguntar à editora Western Publishing se poderia colaborar em histórias em quadrinhos do Donald (algo que já havia começado a fazer junto com Hannah pouco antes de sua saída).

Seu desenho e senso de humor agradaram os editores, e a partir daí Carl Barks passou a se dedicar às narrativas do Pato Donald, elaborando mais de 500 histórias diferentes pelas próximas décadas.

Barks trabalhou em diversos formatos de histórias para as revistas da Disney, de simples piadas no início e final das HQs, até histórias e aventuras mirabolantes de dezenas de páginas. O artista era conhecido por sua incrível versatilidade para criar narrativas diferentes para Donald, de caça a tesouros até busca por emprego.

Aliás, muitas das histórias de Donald eram inspiradas por episódios e momentos reais na vida de Barks. Seu trabalho favorito com o personagem, por exemplo, foi uma HQ em que o pato tenta (sem sucesso) criar galinhas em uma fazenda, como o próprio havia tentado alguns anos antes.

Mais do que isso, Barks criou boa parte do elenco coadjuvante do núcleo dos patos da Disney, com o maior exemplo sendo sem dúvida o rabugento e avarento Tio Patinhas. Inicialmente, o personagem era um antagonista de Donald inspirado no clássico "Um Conto de Natal", de Charles Dickens, mas logo se provou tão popular que chegou a ganhar uma revista própria, onde enfrentava figuras como Mac Mônei e Pacôncio junto do trio Huguinho, Zezinho e Luisinho.

Outras criações de Barks incluem os Irmãos Metralha, a Maga Patalójika e até mesmo a cidade de Patópolis, onde viviam estes personagens.

Seu trabalho nos gibis foi tão influente que foi citado por figuras como o mangaká e animado Osamu Tezuka, criador de Astro Boy, além de ser indiretamente responsável por uma das cenas mais icônicas do cinema: a fuga de Indiana Jones da bola gigante no início de "Os Caçadores da Arca Perdida", que segundo Steven Spielberg e George Lucas foi inspirada por uma antiga aventura do Tio Patinhas.

Tio Patinhas - Os Caçadores da Arca Perdida - Reprodução - Reprodução
Página que inspirou Lucas e Spielberg em "Os Caçadores da Arca Perdida"
Imagem: Reprodução

Como era comum para artistas de quadrinhos da Disney na época, o nome de Barks não aparecia em lugar nenhum das histórias. Ainda com este anonimato, fãs começaram a perceber que suas histórias tinham algo a mais do que outras envolvendo Donald, e ele logo ganhou o título de "O Homem dos Patos" e "O Artista Bom dos Patos".

(O fato de ele fazer uma pequena assinatura com um cachorrinho em seus trabalhos também ajudava as coisas)

Em 1960, sua identidade finalmente foi descoberta por fãs, que começaram a divulgá-la por meio de convenções e fanzines.

Tio Patinhas - pintura - Reprodução/Carl Barks - Reprodução/Carl Barks
Famoso "mergulho" de Tio Patinhas pintado a óleo por Carl Barks
Imagem: Reprodução/Carl Barks

Pós-Disney

Carl se aposentou em 1966, mas ainda assim continuou a colaborar com algumas histórias do Pato Donald até os anos 1970.

Pensando em ganhar um dinheiro extra, ele começou a fazer pinturas a óleo com seus famosos patos, tudo com aval da Disney. Originalmente, seu plano era de aceitar pedidos de fãs, mas sua arte se provou tão popular que ele parou de aceitar comissões pouco tempo depois, e os quadros passaram a ser leiloados em convenções como a San Diego Comic-Con.

Em 1987, Barks foi um dos três primeiros quadrinistas a entrar para o Hall da Fama do Prêmio Will Eisner, junto de Jack Kirby e do próprio Eisner.

Carl Barks faleceu de câncer em 2000, aos 99 anos. Serene Hunicke, que cuidou do artista em seus últimos anos de vida, disse que mesmo sofrendo com a doença ele foi "engraçado até o fim".

No Brasil, é possível conferir seus trabalhos pela "Coleção Carl Barks Definitiva", da Editora Abril, que reúne as melhores histórias do Pato Donald e seus amigos criados pelo gênio dos quadrinhos.