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De coadjuvante a estrela: como a Arlequina conquistou o coração de todos

A atriz Margot Robbie como Arlequina em "Esquadrão Suicida" - Reprodução
A atriz Margot Robbie como Arlequina em "Esquadrão Suicida" Imagem: Reprodução

Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

17/08/2017 13h52

No mundo dos super-heróis, é difícil ver personagens que tiveram uma trajetória de sucesso tão inusitada quanto a Arlequina, que em 25 anos passou de uma simples coadjuvante criada quase que por acaso para uma das figuras femininas mais reconhecidas da cultura pop.

Apesar de seu histórico não ser tão longo quanto a de figuras conhecidas como a Mulher-Maravilha e a Mulher-Gato, ou mesmo a de personagens menos populares como Carol Danvers e Janet Pym, a Dra. Harleen Quinzel e sua paixão obsessiva pelo Coringa rapidamente se tornou um dos grandes elementos de toda a mitologia do Batman.

Talvez o maior motivo para a natureza peculiar do sucesso da Arlequina seja justamente porque, ao contrário das personagens acima, ela não tenha nascido nos quadrinhos, e sim na televisão.

Vista pela primeira vez no episódio “Um Favor para o Coringa”, do clássico desenho animado “Batman: The Animated Series”, a Arlequina surgiu como uma pequena ideia do roteirista Paul Dini: em certo momento da história, o Coringa pularia para fora de um bolo em um evento celebrando o Comissário Gordon. Como a visão do Palhaço do Crime dando uma de Marilyn Monroe seria um tanto bizarro, Dini inventou uma “namorada do Coringa”, nos moldes das modelos que costumavam acompanhar os vilões no seriado do Batman de 1966.

Dini acabou tomando como principal inspiração para a personagem sua amiga dos tempos da faculdade, a atriz Arleen Sorkin, que na novela americana “Days of Our Lives” fez uma cena vestida de palhaço. Por tabela, ela também acabou sendo sua primeira dubladora, contribuindo para moldar a personalidade da vilã.

Graças à performance de Sorkin e o excelente design da roupa do artista Bruce Timm, a Arlequina tornou-se uma figura recorrente no desenho do Batman, frequentemente acompanhando o Coringa em seus planos para acabar com o Homem-Morcego.

Coringa e Arlequina - Bolo - Reprodução - Reprodução
Ironicamente, na versão final do episódio o Coringa acaba saindo do bolo, enquanto a Arlequina aparece disfarçada de policial
Imagem: Reprodução

Logo, o público foi descobrindo mais sobre a vilã, que originalmente era uma psiquiatra no Asilo Arkham que se apaixonou loucamente - ênfase em loucamente - pelo Palhaço do Crime. Embora estivesse disposta a pelo menos ajudar seu “pudim” a cometer os piores tipos de atrocidade, ela trazia um ar de inocência deturpada para tudo, sendo infinitamente mais amigável do que seu chefe com outros inimigos do Batman - em particular com a Hera Venenosa, cujo relacionamento era bem mais… “colorido” do que outros.

Mais do que isso, em alguns episódios  ela demonstrava que, por trás de toda a sua insanidade ainda havia traços de inteligência e dedução, como quando o Cavaleiro das Trevas se vê forçado a unir forças com ela para impedir o Coringa de destruir Gotham com uma bomba atômica em “Harlequinada”.

A popularidade da Arlequina no desenho do Batman foi o suficiente para que ela fizesse uma transição para os quadrinhos, primeiro contando sua origem em uma HQ feita pela dupla Bruce Timm e Paul Dini, e mais tarde colocando-a propriamente no Universo DC, durante a famosa saga “Terra de Ninguém” -- em que Gotham é abandonada pelo governo dos EUA após um terremoto destruir grande parte da infraestrutura da cidade.

Arlequina - Reprodução - Reprodução
Visual clássico da Arlequina, criado por Bruce Timm para "Batman: The Animated Series"
Imagem: Reprodução

Desde então, sua popularidade só cresceu, assim como sua presença em diferentes mídias: de “Batman: Arkham” nos videogames e sua HQ solo (uma das revistas com mais vendas em toda a DC, chegando a superar até o próprio Batman em alguns meses), até - claro - sua versão cinematográfica, interpretada por Margot Robbie em “Esquadrão Suicida”.

Chegou a tal ponto que, de acordo com Jim Lee, co-publisher da DC, a Arlequina é essencialmente o “quarto pilar” da empresa, ficando no mesmo patamar que Superman, Batman e Mulher-Maravilha.

Não que este caminho não tenha sido cheio de tropeços: sua nova roupa para o reboot “Os Novos 52” foi universalmente odiado (embora partes dele tenham inspirado o visual do filme), e uma de suas primeiras histórias nesta nova versão envolvia a vilã matando dezenas de crianças com bombas escondidas em um videogame só para chamar a atenção do Coringa - o que muitos consideraram ser ir longe demais até para ela.

O público feminino é um dos grandes motivos pelo sucesso da personagem. É só dar uma volta em um evento geek qualquer para ver quantas meninas e mulheres estão vestidas de Arlequina, seja no seu visual clássico, ou recriando a versão de Robbie.

O porquê de ela ser tão adorada por mulheres fãs de super-heróis são vários, mas uma das razões mais recorrentes é justamente suas falhas de caráter graças à paixão pelo Coringa, que geralmente não a vê mais do que um acessório a ser usado em busca de sua própria obsessão: o Batman.

“Eu não quero que sejam condescendentes com personagens fortes e independentes que não tem nenhuma falha, são perfeitamente sãs e não fazem escolhas ruins de relacionamento”, disse uma fã para o site Vulture. “Para mim, a liberdade que a Arlequina me deu para fazer merda é bem menos misógino que todas estas outras histórias meia-bocas jogadas em protagonistas femininas de novo e de novo.”

O lado negativo disso é que muitos acabam idealizando o relacionamento dela com o “Sr. C”, sendo que mesmo no desenho era claro que a Arlequina sofria de uma codependência extrema por alguém que não retornaria seus sentimentos daquela forma.

A DC Comics, pelo menos, notou o problema, e é por isso que na série atual de HQs da personagem o relacionamento entre os dois acabou, com Arlequina preferindo passar seu tempo com a Hera Venenosa na região de Coney Island, em Nova York.

Para celebrar os 25 anos da Arlequina, a Warner e DC pretendem lançar uma HQ comemorativa, além do filme animado “Batman & Harley Quinn”, que teve estreia nos EUA na última semana e conta com uma cena um tanto picante entre ela e o herói Asa Noturna (antigo Robin).

E o bonde da Arlequina não para por aí: já existem planos de fazer um filme solo da personagem estrelando Robbie, e colocando-a contra o Coringa de Jared Leto.

Arlequina 2016 - Reprodução - Reprodução
A Arlequina na sua fase atual dos quadrinhos, cujo visual é um tanto familiar...
Imagem: Reprodução