Topo

Ele transformou o hobby em profissão, e hoje ganha dinheiro jogando RPG

Bruno Cobbi (segundo a partir da esquerda) e a equipe Roleplayers: trabalhando com o que gostam - Divulgação/Roleplayers
Bruno Cobbi (segundo a partir da esquerda) e a equipe Roleplayers: trabalhando com o que gostam Imagem: Divulgação/Roleplayers

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

27/08/2017 10h00

Há mais de 20 anos, quando Bruno Cobbi começou a jogar RPGs, ele já vislumbrava caminhos para transformar a paixão em uma fonte de renda. Hoje em dia, há quem faça dinheiro vendendo dados e miniaturas, ou então publicando livros sobre o assunto - mas Bruno foi mais direto: "Meu produto é a experiência de jogo," afirma.

Os 'jogos de interpretação de papeis' ('role-playing games', no inglês) permitem que pessoas mergulhem em mundos de fantasia através da imaginação. Participantes são livres para agir como queiram, desde que cumpram as regras impostas por um jogador específico: o mestre. É nesta função - a de impor ordem ao caos - que Bruno atua.

"Minha 'escola' para o RPG foi uma infância repleta de faz de conta," revela Bruno. "O que me encanta no jogo é a mágica que acontece quando está todo mundo imaginando e criando juntos a mesma situação. De forma muito experimental, é a condução dessa experiência de narração coletiva que estou profissionalizando."

Bruno é o líder da equipe Roleplayers - um grupo de profissionais que mestram campanhas de RPGs sob encomenda. "Tecnicamente, somos uma espécie de promotores de eventos," explica.

ACOMPANHE UOL JOGOS NO YOUTUBE!

Além de ajudar aventureiros a viajar para mundos da fantasia, Bruno e seus companheiros também usam os RPGs em dinâmicas de grupo. "Usamos os jogos para criar atividades para empresas e escolas, para estimular o trabalho de equipe."

Qualquer que seja a situação, porém, há um pré-requisito constante para quem quer trabalhar na Roleplayers: a criatividade. "Ela funciona como se fosse um músculo mesmo. Quanto mais você a exercita, mais poderosa ela vai ficando", explica Bruno. "Ser uma equipe ajuda bastante nesse ponto. Venho do mercado da publicidade e não é a toa que as grandes agências trabalham com 'duplas de criação'. É muito importante ter com quem trocar ideias e estar sempre refrescando o cérebro."

Roleplayers na periferia - Divulgação/Roleplayers - Divulgação/Roleplayers
Parte das atividades da Roleplayers é voltada para ações sociais; eles mestram campanhas grátis na periferia de São Paulo, por exemplo
Imagem: Divulgação/Roleplayers

Bruno enxerga a iniciativa Roleplayers como parte do que ele chama de "economia criativa". Para ele, o grupo faz algo que ninguém mais faz - e isso atrai os olhos do público.

"Estamos dando certo - e isso chama muita atenção. Lógico que a responsabilidade de entregar algo bacana é muito grande também, mas os olhos se voltam para nós com mais facilidade e isso acaba atraindo cada vez mais demanda," revela. "É comum as pessoas gostarem de jogar RPG quando o conhecem conosco."

Mas mesmo com o sucesso da iniciativa, Bruno é categórico quando questionado se dá para ganhar a vida exclusivamente mestrando RPGs: "Todos nós tocamos a Roleplayers como um segundo ou terceiro trabalho. Essa é a parte perigosa da ditadura do 'largue tudo e faça o que você ama,'" diz. "Pergunte por aí quantos músicos ou atores vivem disso que amam. Na maioria das vezes é uma complementação de renda e um investimento mesmo."

"É um modelo de trabalho muito diferente de quem está no escritório todo dia das nove às dezoito, e isso tem vantagens e desvantagens," afirma Bruno. "Muita gente me procura com a ilusão de que o trabalho com RPG rende quarenta e quatro horas semanais da mesma experiência que se vive com os amigos ao final de semana. A realidade é muito diferente. Muitas vezes trabalhamos apresentando jogos diferentes dos convencionais em locais barulhentos ou movimentados. Isso é muito diferente de jogar meu RPG preferido com meus amigos no conforto do lar."

"É preciso confiar muito nos nossos sonhos, sim, mas também é preciso muito trabalho duro," garante Bruno. "O apoio da família, dos amigos e principalmente dos nossos clientes e fãs do nosso trabalho é fundamental."