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"The Evil Within 2" evolui e supera predecessor com horror em mundo aberto

The Evil Within 2 - Obscura - Reprodução - Reprodução
O design de criaturas continua excelente, como é o caso da bizarra Obscura
Imagem: Reprodução

Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

24/10/2017 10h25

Em 2014, eu desisti de jogar “The Evil Within” no meio do Capítulo 5 (o jogo tem um total de 15).

Mesmo com todo o talento histórico por trás do projeto - em especial a direção pela mente por trás de “Resident Evil”, Shinji Mikami - a jogabilidade e dificuldade eram tão frustrantes, a história tão desconexa (ao menos inicialmente), sem falar nos diversos problemas técnicos que iam desde taxa de quadros até o "icônico" letterboxing que tomava metade da tela, acabou aniquilando completamente minha vontade de continuar.

E ainda assim, três anos depois, eu não só voltei a jogar como terminei a campanha. Por que?

Porque “The Evil Within 2” me convenceu a fazer isso.

Após jogar uma demonstração da sequência do jogo de horror à convite da publisher Bethesda - o vídeo acima, inclusive, é uma gravação do teste (desculpe pelas mortes) -, decidi dar uma outra chance ao game original, e a impressão final acabou sendo bem mais positiva: a atmosfera opressiva e os ambientes e monstros perturbadores acabaram compensando a história rasa e situações de combate extramente frustrantes.

A julgar pela sequência, pelo menos, o estúdio Tango Gameworks aprendeu com os problemas do passado, trazendo uma experiência bem mais refinada e coesa do que o original.

Evil Within 2 - Nota - Montagem/UOL - Montagem/UOL
Imagem: Montagem/UOL

Em “Evil Within 2”, o protagonista é novamente o detetive Sebastian Castellianos, que após sobreviver aos eventos do primeiro game deve entrar novamente na máquina conhecida como STEM, agora com a missão de resgatar sua filha, Lily, que está sendo usada como núcleo deste sistema.

Ao contrário do jogo anterior, que se passava dentro da mente do psicopata Ruvik, “The Evil Within 2” se passa em Union, uma construção digital que lembra uma típica cidadezinha americana - não muito diferente de Twin Peaks ou Silent Hill -, mas deturpada por figuras que querem tomar controle de Lily e, por tabela, do STEM.

Ao contrário do primeiro jogo, que trazia uma estrutura quase totalmente linear, “The Evil Within 2” funciona como um mundo semi-aberto, composto de diversos ‘hubs’ interconectados, misturados com seções que lembram o formato do game original.

Esta transição poderia ter sido feita de forma atrapalhada, mas os desenvolvedores conseguiram distribuir bem cada parte: Union não é o mapa mais original do mundo (até de propósito), mas o jogador é incentivado a explorar cada cantinho em busca de novas pistas, memórias perdidas e, principalmente, suprimentos e munição. Já as partes lineares trazem os momentos estranhos e desconcertantes do primeiro “Evil Within”.

As mecânicas de combate foram expandidas e melhoradas significativamente: Sebastian agora é bem mais móvel, e o ambiente mais aberto permite que o jogador improvise rotas de fuga caso esteja cercado por muitos inimigos. Aliás, enquanto a furtividade foi quase deixada de lado no primeiro jogo (ao menos na minha experiência), ela é vital na sequência, essencial para quem quiser guardar algumas balas extras para inimigos mais perigosos do que os habitantes deturpados de Union.

Evil Within 2 - Sebastian - Reprodução - Reprodução
"The Evil Within 2" é jornada mais pessoal do protagonista Sebastian Castellanos
Imagem: Reprodução

Um Homem Sem Nada a Perder

Por se passar quase totalmente na sua mente, a narrativa do primeiro “Evil Within” era quase totalmente focada no vilão Ruvik, com seus delírios e patologias moldando o mundo a seu redor. Sendo assim, a história de Sebastian e sua complicada vida familiar ficou em segundo plano.

A sequência, por outro lado, é dedicada principalmente ao seu protagonista e seus problemas psicológicos, explorando a culpa por deixar sua família ser destruída - sendo ele realmente responsável ou não - e os traumas deixados pela sua experiência no jogo anterior.

É uma narrativa mais simples, mas contada de forma bem mais efetiva do que seu predecessor, que segurava suas cartas na manga por tempo até demais para confundir o jogador.

Curiosamente, para mim a estrutura da narrativa remete menos um “Silent Hill” (embora os paralelos de um pai procurando a filha sejam claros) e mais o primeiro “Max Payne” - em especial quando o jogo a explora a mente de Sebastian, que parecem uma mais versão atual e aterrorizante dos pesadelos que Max tinha durante sua trilha de vingança.

E tal como o primeiro “Max Payne”, jogadores brasileiros ficarão felizes em saber que “The Evil Within 2” foi totalmente traduzido para o português local, com direito à uma boa dublagem - até prefiro a voz brasileira de Sebastian do que sua original -, com um ou outro tropeço na tradução e interpretação das falas.

À flor da pele

Como um todo, “The Evil Within 2” é uma experiência bem superior do que seu predecessor, que agora parece mais um protótipo para o que esta nova versão tem a oferecer.

Há um aspecto, porém, que a meu ver a sequência não conseguiu superar, talvez justamente pelo aspecto do mundo aberto: tensão.

Apesar de suas muitas (muitas!) falhas, poucos jogos me fizeram me sentir mais inseguro do que o primeiro “Evil Within”. Às vezes era de forma irritante, como os malditos vilões invisíveis do hospital abandonado, e às vezes de forma extremamente efetiva, como quando Ruvik aparecia na pior hora possível enquanto o jogador explorava uma mansão. Mas de qualquer forma, era quase impossível não ficar extremamente paranóico de que algo estava prestes a te atacar.

A sequência, por outro lado, tenta recriar estes momentos, mas como dito antes, o mundo mais aberto traz mais rotas de fuga, o que se por um lado é bom em termos de jogabilidade, acaba afetando a atmosfera.

Não entenda mal, há vários momentos de tensão absoluta no jogo, especialmente nas sessões lineares envolvendo o assassino Stefano Valentini - cujo personagem é basicamente se Sander Cohen de “BioShock” fosse um dos vilões do seriado “Hannibal” -, e uma masmorra medieval na qual Sebastian é transportado em certo momento da história.

Mas eles não parecem ser tão prevalentes quanto o que era possível encontrar no game original.

De resto, porém, “The Evil Within 2” é uma evolução do que o primeiro jogo propunha, e a jornada estranha e sombria é uma boa pedida para qualquer fã de games de horror.