Com jogos custando R$ 1.200, Neo Geo queria ser fliperama dentro de casa
Se, hoje, questões como resolução e frames por segundo ditam discussões sobre o poder de um videogame, no início dos anos 1990 o "Santo Graal" dos consoles era outro: a busca para oferecer uma experiência o mais próxima possível da vista nos arcades.
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Explica-se: em alta, os arcades ofereciam games com uma qualidade muito superior em termos de imagem e som à encontrada nos consoles. O resultado disso é que versões caseiras de sucessos como "Street Fighter II", "Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time", "Sunset Riders", "Fatal Fury" e outros acabavam "capadas" em consoles como Super Nintendo e Mega Drive - até mesmo o primeiro PlayStation sofria para reproduzir games como "X-Men vs Street Fighter" e seu concorrente, Saturn, se valia de um cartucho de expansão de memória RAM para rodar com fidelidade jogos mais exigentes.
Havia, porém uma exceção ao relatado no parágrafo acima: o Neo Geo AES. Por praticamente uma década, ele foi o único videogame capaz de oferecer uma experiência 100% fiel à encontrada nos arcades. A razão para isso é a mais simples possível: o videogame, lançado em 1990, tinha um hardware idêntico ao usado nas máquinas da SNK.
Essa fidelidade, entretanto, cobrava um preço. E ele era absurdamente alto.
O primeiro videogame "premium"
Se a Microsoft diz, hoje, que o Xbox One X é um videogame "premium", é possível dizer que esse segmento foi inaugurado há mais de 20 anos e um tanto por acaso. Explica-se: com o sucesso do Neo Geo MVS - uma máquina arcade operada por fichas e que tinha como grande diferencial a possibilidade de abrigar até seis jogos diferentes ao mesmo tempo, tornando sua operação mais barata para os compradores -, a SNK resolveu lançar em 1990, o Neo Geo AES, uma versão console que, inicialmente, apenas poderia ser alugada para estabelecimentos como lojas de videogame, restaurante, hotéis, entre outros.
A razão para não oferecer, em um primeiro momento, o console para o público em geral estava no fato de a empresa imaginar que o alto preço inibiria qualquer interesse dos consumidores em comprar o aparelho para jogar em casa. Não foi o que ocorreu: a alta demanda fez com que a SNK passasse a oferecer o AES para venda em 1991.
O preço? US$ 649,99, o que corrigido pela inflação dos EUA equivale a astronômicos US$ 1.177,92 (em conversão direta, R$ 3.898,21). Era, de longe, o console mais caro de sua época, chegando a custar mais de três vezes o valor de um Mega Drive ou de um Super Nintendo - algo surreal mesmo com o console sendo anunciado como 24-bits, contra 16-bits dos modelos da Sega e da Nintendo, e oferecendo um poder muito superior. Ele foi superado no quesito "console mais caro de todos os tempos" apenas pelo 3DO, lançado em 1993 por US$ 699 (equivalente a US$ 1.193,95, hoje).
No pacote inicial vendido nos EUA, o videogame era acompanhado de dois controles e os compradores poderiam escolher entre dois jogos: "Baseball Stars Professional" ou "NAM-1975". Os controles, por sua vez, não negavam as raízes do videogame: eram cópias fiéis dos encontrados nos arcades Neo Geo. O aparelho também foi o primeiro a usar um cartão de memória para salvar o progresso dos jogos.
Jogos a preço de ouro
Com a febre dos games de luta nos anos 1990, é seguro dizer que o Neo Geo foi o sistema que mais teve jogos do tipo. Apesar de contar apenas com jogos destinados ao arcade da SNK, diversas séries populares do estilo, como "Fatal Fury", "Samurai Shodown" e "The King of Fighters". Além deles, o console também contou com games de ação, como "Metal Slug"; esporte, como "Super Sidekicks"; e shooters, como "Aero Fighters".
Os donos do console, porém, encontrariam uma tremenda dificuldade em ampliar sua biblioteca: no caso dos cartuchos do AES, cada jogo custava em média US$ 200 à época - portanto, mais do que um Super Nintendo ou um Mega Drive. Corrigido, esse valor médio corresponde a US$ 362,44 (R$ 1.199,46, em conversão direta).
Cada cartucho vendido, entretanto, representava um bom lucro para a SNK, uma vez que não havia a necessidade de fazer qualquer adaptação nos games de arcade para rodarem no AES.
Uma alternativa mais barata
Pouco mais de três anos após o lançamento público do Neo Geo AES, a SNK lançou o Neo Geo CD no Japão em setembro de 1994 - ele chegaria aos EUA apenas em janeiro de 1996. O custo menor era o principal atrativo do sistema: US$ 399, no mercado norte-americano (US$ 627 hoje, equivalentes a R$ 2.074).
Além do console ser mais barato, os jogos em CD também chegavam ao mercado por preços muito mais convidativos, variando entre US$ 50 e US$ 80 (em valores atualizados, US$ 78 e US$ 125 - ou R$ 258 e R$ 413, respectivamente).
O lado ruim ao adotar o CD era que o Neo Geo, pela primeira vez, se afastava da experiência dos arcades: por ter um drive de 1x, os tempos de carregamento eram enormes e tornavam o ato de jogar no console um verdadeiro exercício de paciência.
Item de colecionador
O Neo Geo foi um console bastante longevo: mesmo com a SNK parando de produzir novas unidades em 1997, ele ganhou jogos até 2004, quando "Samurai Shodown V Special" se tornou o último game oficial lançado para a plataforma.
Por ser um produto de nicho desde sua criação, ele acabou se tornando um item cobiçado por colecionadores e, claro, o preço acompanhou essa demanda. Hoje, é comum encontrar unidades do Neo Geo AES sendo vendidas no Brasil por valores entre R$ 1.500 e R$ 2.000 - valores que podem ser substancialmente maiores dependendo do estado de conservação e a presença de itens como caixa original. Já a versão CD é mais barata, sendo encontrada entre R$ 500 e R$ 1.000. Assim como era no início dos anos 1990, os jogos de AES saem caro: enquanto games com alta tiragem podem ser encontrados por preços entre R$ 300 e R$ 500, jogos mais raros atingem preços que superam os milhares de reais.
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