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Criador do Mario critica tendências seguidas por "Fortnite" e "Overwatch"

Shigeru Miyamoto, criador do Mario, Donkey Kong e da série The Legend of Zelda - Casey Curry/Invision/AP
Shigeru Miyamoto, criador do Mario, Donkey Kong e da série The Legend of Zelda Imagem: Casey Curry/Invision/AP

Yuji Nakamura e Yuki Furukawa

Bloomberg

22/08/2018 18h17

O famoso designer de videogames que criou Mario e Donkey Kong tem um conselho para a indústria de game da atualidade: parem de cobrar ninharias aos usuários.

Shigeru Miyamoto, de 65 anos, disse que a Nintendo está explorando maneiras diferentes de cobrar pelos jogos, evitando o modelo de gratuidade para jogar que se tornou uma fonte de dinheiro no setor dos jogos, avaliado em US$ 140 bilhões. Em vez disso, ele convocou seus pares a oferecer títulos a preços fixos sem cobrar demais dos jogadores, o que criará negócios mais sustentáveis no longo prazo.

"Temos a sorte de ter um mercado gigantesco, então nosso raciocínio é que, se conseguirmos fornecer jogos a preços razoáveis para o maior número possível de pessoas, teremos grandes lucros", disse Miyamoto na CEDEC (Computer Entertainment Developers Conference), nesta quarta-feira (22), em Yokohama, no Japão.

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A crítica de Miyamoto chega em um momento em que o modelo de gratuidade para jogar - que inclui caixas de recompensas (as loot boxes) e microtransações - gera lucros recorde.

Em vez de cobrar uma taxa única, cada vez mais as editoras distribuem gratuitamente ou vendem os jogos a preços reduzidos para depois incentivar os jogadores a comprar continuamente produtos dentro do jogo, como roupas virtuais, ou incentivá-los a apostar dinheiro para tentar ganhar itens raros. Este modelo de receita é especialmente comum nos jogos para dispositivos móveis e para computadores pessoais.

Os defensores do modelo de gratuidade para jogar afirmam que ele aumenta a longevidade de títulos individuais e cria negócios mais previsíveis, o que atrai investidores e aumenta o emprego. Mas os detratores afirmam que isso prejudica a criatividade na criação de jogos e estimula o comportamento de apostar, o que levou legisladores na Bélgica e na Holanda a proibir as caixas de recompensas neste ano.

"Não posso dizer que nosso modelo de custo fixo tenha realmente sido um sucesso", disse Miyamoto, franco como sempre. "Mas vamos continuar fomentando-o até que ele se consolide. Desse modo, todos poderão desenvolver jogos em um ambiente confortável. Concentrando-nos em levar os jogos ao maior número possível de pessoas, podemos continuar impulsionando o setor de jogos para dispositivos móveis."

Os comentários chegam quase dois anos depois que a Nintendo lançou o "Super Mario Run", o primeiro jogo para smartphones desenvolvido internamente pela empresa. O título cobrava uma taxa fixa, que muitos usuários consideraram excessivamente cara para a quantidade de conteúdo fornecido. A empresa então adotou o modelo de gratuidade para jogar com os dois títulos seguintes. Um desses jogos, "Animal Crossing: Pocket Camp", foi criticado por se concentrar exageradamente nos lucros em detrimento da diversão do jogo.

Miyamoto também disse que os desenvolvedores de jogos deveriam extrair lições da indústria musical, que continua tentando se recuperar depois que os consumidores aprenderam a consumir música de graça através do compartilhamento de arquivos MP3 e também com o YouTube e os serviços de streaming. Ele disse que os serviços por assinatura deveriam desempenhar um papel maior no setor dos jogos, mas alertou que é fundamental desenvolver uma cultura de pagamento por um bom software.