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Opinião: "Diablo" para celulares foi passo certo dado da forma errada

Diablo Immortal - Reprodução
Diablo Immortal Imagem: Reprodução

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/11/2018 04h00

A comunidade de "Diablo" é, em doses similares, apaixonada e crítica. E isso tem dois efeitos imediatos sempre que a Blizzard mostra novidades sobre a série: por um lado há o "hype", a expectativa que geralmente se traduz em excelentes números de vendas.

Por outro, no entanto, qualquer coisa que não saia exatamente como os fãs querem é um motivo para críticas nos mais variados formatos e pesos. Quer um exemplo? Quando as primeiras imagens de "Diablo III" foram divulgadas, no início desta década, foi enorme a quantidade de crítica pelo visual "excessivamente colorido" do jogo.

É aí que chegamos ao anúncio feito pela produtora na última Blizzcon, realizada na virada do mês de outubro para novembro. Após divulgar teasers de que teria novidades da série, a Blizzard acabou apresentando "Diablo Immortal", game para celulares com forte pegada multiplayer.

Qualquer pessoa que aprecia a série teve uma pontinha de esperança de que a produtora anunciaria "Diablo IV". Em uma comunidade tipicamente passional, não há nada de errado em se sentir frustrado por não ter uma expectativa cumprida.

A questão é: até que ponto a forte reação negativa da comunidade -- que, inclusive, surpreendeu a própria Blizzard -- foi porque a empresa não mostrou o game que ela queria ou porque a série terá uma versão para celulares?

A dúvida é parcialmente respondida ao vermos comentários nos trailers do jogo publicados no YouTube, nos quais fãs alegam que "É assim que Diablo morre?" e que "Estamos testemunhando a queda da Blizzard".

Em suma: a Blizzard, sem dúvida, errou ao não entender que criar uma expectativa junto ao público de "Diablo" sem entregar qualquer produto que não seja um jogo para PC ou consoles é uma certeza de reação negativa.

Por outro lado, considerar que uma versão para celulares significa a "morte" de uma franquia apenas expõe o preconceito que a ala mais tradicional tem em relação aos jogos para celulares. E, no final das contas, se mostra uma reação desproporcional ao fato em si.

Mina de ouro

O que a maioria dos gamers mais tradicionais desconhece - ou finge desconhecer - é a importância dos jogos mobile para o mercado de games como um todo.

Colocando isso em números, podemos citar um estudo feito pela consultoria Newzoo em abril deste ano, mostrando que a previsão era de que, sozinho, o segmento de jogos para dispositivos móveis seria responsável por mais da metade do faturamento da indústria de games como um todo.

Nos últimos dez anos, esse segmento cresceu, em termos percentuais, pelo menos dois dígitos ano a ano. Para 2018, estima-se que ele irá faturar US$ 70,3 bilhões, mais do que o dobro do mercado de PCs (US$ 32,9 bi) e de consoles (US$ 34,6 bi) quando analisados separadamente.

E aqui, uma boa notícia para os gamers mais aflitos: o crescimento desse mercado não significa, em nenhum momento, que há canibalização em relação aos segmentos de PC e consoles. Pelo contrário: essas plataformas têm crescido em um ritmo constante ano a ano.

Diante desse filão de mercado, é natural que as produtoras tentem colocar seus pés de alguma forma nesse segmento. E, se for com um game persistente e gratuito para jogar (a Blizzard ainda não divulgou esse detalhe sobre o jogo, mas é bastante provável que ele siga essa fórmula), melhor ainda.

Prova disso foram os resultados da Niantic com "Pokémon GO", que em pouco mais de dois anos após seu lançamento já obteve uma receita superior a US$ 2 bilhões, sendo que, por dia, o app fatura em torno de US$ 2 milhões.

É muito mais produtivo, portanto, enxergar de forma positiva a chegada de uma franquia tradicional como "Diablo" ao mercado de games mobile, especialmente se você for fã da franquia.

E é bem provável que mesmo aqueles que não venham a jogar o game sejam beneficiados indiretamente, uma vez que o seu sucesso garantiria um fôlego financeiro adicional para a Blizzard produzir um novo "Diablo" da série principal - e para as plataformas mais tradicionais.

A Blizzard errou no formato do anúncio de "Diablo Immortal", mas os números e a perspectiva de crescimento do mercado de jogos mobile mostram que a decisão de entrar nesse segmento foi um tremendo acerto.