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Free Fire: por que 100 mi baixaram o "battle royale" mais pop para celular

Apesar de ter gráficos mais simples do que "PUBG" e "Fortnite", "Free Fire" tem dinâmica similar e é mais fácil de jogar - Divulgação
Apesar de ter gráficos mais simples do que "PUBG" e "Fortnite", "Free Fire" tem dinâmica similar e é mais fácil de jogar Imagem: Divulgação

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/12/2018 04h00

Um breve "passeio" por sites de streaming é suficiente para ver que um jogo tem chamado cada vez mais a atenção dos brasileiros que assistem às transmissões ao vivo de games: "Free Fire".

"Free Fire" foi lançado no final do ano passado para "surfar" na onda dos battle royales. O diferencial é que, enquanto "PUBG" e "Fortnite" apostavam em PC e consoles, o game da 111dots Studio buscava aquela parcela do público que utiliza o celular para jogar. E não é pouca gente que faz isso: segundo dados de consultorias como a Newzoo, quem usa essa plataforma corresponderia a 50% do total de gamers em 2018.

Mesmo quando os dois gigantes do segmento lançaram suas versões para dispositivos móveis, "Free Fire" manteve sua base fiel de fãs - e foi além, chegando a ocupar o posto de game mais baixado da Google Play Store e eleito por voto popular como o melhor jogo do ano da plataforma. Considerando a versão para Android, "Free Fire" já contabiliza mais de 100 milhões de downloads.

Free Fire no Google Play - Reprodução - Reprodução
Jogo já superou os 100 milhões de downloads e chegou a ocupar o topo da loja dos celulares Android; próxima moda pode ser 'Brawl Stars', jogo de ação em arena
Imagem: Reprodução

Sem pesar no celular

Uma das justificativas para tamanho sucesso está na concepção do jogo: ao contrário das versões mobile de "PUBG" e "Fortnite", "Free Fire" não exige um celular de ponta para ser jogado.

Casal jogador de Free Fire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bruna e seu namorado, Lucas, se conheceram nas partidas do jogo; fã do game, ela diz que não pretende parar de jogar tão cedo
Imagem: Arquivo pessoal

É um jogo muito acessível e isso faz com que muitas pessoas joguem. Eu prefiro jogar pelo celular e o fato de ele não exigir muito do aparelho foi o que me chamou atenção. Ele é simples de ser jogado e a Garena ouve bastante as solicitações dos jogadores

Bruna de Carvalho Haurani, de 21 anos

Fã do game, ela diz que nas férias chega a jogar entre cinco e seis horas por dia. "Jogo faz mais de um ano e não pretendo parar tão cedo. Foi no 'Free Fire', inclusive, que conheci o meu namorado. Estamos juntos há nove meses e jogamos juntos quase todo dia, apesar de ele me fazer perder alguns pontinhos de vez enquanto", brinca.

Haurani também conta que já tentou jogar "PUBG" e "Fortnite". "O 'PUBG' eu achei complicado e o 'Fortnite' não rodou no meu celular, um iPhone 7", diz.

Cenário fértil

Além de cativar jogadores, partidas do game também têm sido cada vez mais frequente em sites de streaming. A questão é, nesse quesito, ele frequentemente tem superado pesos-pesados como "PUBG", considerando o número de espectadores simultâneos de transmissões feitas no Brasil.

"Meu canal sempre foi focado em jogos de PC, como 'GTA' e 'PUBG'. Quando 'PUBG" saiu para celulares, eu passei a jogar essa versão e, inclusive, o meu canal era parceiro oficial da produtora do jogo. O problema é que eu percebia que muitos que me assistiam falavam que não conseguiam instalar o jogo porque seus celulares não eram compatíveis", explica Rodolfo "Rodox" Constantino, de 30 anos e dono do Rodox Play, canal com versões no YouTube e no Streamcraft que, juntas, chegam a quase 180 mil inscritos.

"Ele ganhou espaço não só porque qualquer pessoa com um celular e uma internet 'mais ou menos' consegue jogar, mas também porque ele é simples, não tem comandos difíceis. E também tem recursos, como a 'mira padrão', que facilita acertar os inimigos", pondera Heloisy Bello, de 22 anos, dona do canal Uma NOOB in games.

O resultado mais direto disso é que canais brasileiros que transmitem partidas e falam sobre o game têm tido um crescimento acima da média. "Eu comecei com o meu canal em abril deste ano, mas não jogando 'Free Fire'. Uma amiga me apresentou o game e, em pouco mais de três meses, o número de inscritos foi de cerca de cinco mil para mais de 90 mil", conta Heloisy.

Já Rodox compara o ritmo de crescimento de quando fazia transmissões de "PUBG" com o que obtém com "Free Fire". "Antes eu ganhava cerca de 50 a 100 seguidores por dia, mas com 'Free Fire' esse número saltou para algo entre 200 e 500".

Outro que passou por isso foi Gideão de Trindade, de 23 anos e responsável pelo canal Gidee Msd no YouTube e no Streamcraft. Ele conta que o jogo foi uma forma de se manter após perder o emprego. "Eu sempre quis ser youtuber de jogos, mas, por estar com dificuldades financeiras no momento, comecei a trabalhar aos 18 e tive que deixar o videogame de lado. Depois que perdi esse emprego, fiquei pensando sobre o que fazer, já que a única coisa que eu acreditava ser bom em fazer era vídeos, detonados de jogos, essas coisas".

Foi aí que ele começou a jogar "Free Fire" e, como ele mesmo diz, ficou "muito bom no jogo". "Eu tinha um canal com 300 inscritos que eu postava vídeos com música e imagens das minhas partidas do jogo. Depois de um jogador conhecido do cenário de 'Free Fire' me mencionar em uma 'live', o canal passou a ganhar de dois a três mil inscritos por dia". Hoje, ele conta com mais de 235 mil seguidores.

Moda passageira?

Por mais que a indústria de games seja cíclica, é difícil imaginar um declínio abrupto de "Free Fire". Especialmente se considerarmos que, para isso, seria necessário a criação de um game do tipo leve o suficiente e que ofereça recursos melhores do que os do jogo da Garena.

Em uma indústria - e, também, em um estilo de jogo - que busca cada vez mais o realismo, atender o público que busca um game leve e simples de jogar é algo que não parece estar na prioridade das desenvolvedoras.

"É uma febre comparável à da versão de PC do 'PUBG'", aponta Rodox. Ainda assim, o streamer já traça planos para sobreviver quando "Free Fire" perder fôlego. "Ainda tem uns meses para aproveitar, mas sempre tem jogo novo saindo. Um que eu aposto para o futuro, apesar de não ser do mesmo estilo, é o 'Brawl Stars', da Supercell, mesma empresa do 'Clash Royale'", diz.

Quem também já pensa em um "plano B" é Gidee. "O meu objetivo é que meu canal se torne cada vez mais gamer, não apenas de 'Free Fire'. Até porque eu sei que o jogo vai entrar em declínio uma hora. Até lá, temos que aproveitar", diz.