No More Heroes

OTÁVIO MOULIN
Colaboração para o UOL

No mercado dos videogames, a expectativa em torno de um lançamento é criada a partir da maneira como este é apresentado ao consumidor, seja através da imprensa ou do material de divulgação, e a figura do idealizador do jogo, geralmente, não tem um papel determinante no processo, permanecendo, na maioria das vezes, no anonimato.

Claro que fãs sempre estão interessados nos próximos anúncios de nomes como Shigeru Miyamoto, grande mente criativa da Nintendo, ou de Hideo Kojima, o pai da série "Metal Gear". Porém, este é um fenômeno relativamente raro, levando em consideração o que acontece no mundo da música ou do cinema, onde os nomes de determinados artistas ou realizadores já são suficientes para chamar a atenção do público.

"No More Heroes" chega para ajudar este amadurecimento do setor de videogames, já que as expectativas foram criadas não propriamente pelo que o jogo viria a ser, mas pelo potencial de seu excêntrico idealizador, Goichi Suda (ou Suda 51). Apesar de ter realizado apenas um punhado de jogos, e que não foram o que podemos chamar de campeões de vendas, Suda se tornou ídolo graças a seu estilo narrativo frenético e inovador, e às inúmeras referências ao universo pop - em uma analogia rasteira, ele é o Quentin Tarantino dos games.

Em seu novo trabalho, fica claro logo de cara que ele não irá agradar à grande maioria do público do Wii, formada por jogadores causais, já que sua irreverência e inovação serão vistas apenas como um desconexo festival de bizarrices.

Mundo bizarro

O protagonista de "No More Heroes" é Travis Touchdown, um nerd sem grana que mora em um quarto de motel rodeado por bugigangas colecionáveis ligadas ao mundo do anime e até da luta livre (uma das obsessões de Suda). Após arrematar uma espada laser em um leilão online, ele resolve virar um assassino profissional ao matar um sujeito albino chamado Helter Skelter e descobrir que ele era o 11º maior matador dos EUA. Para subir no ranking - e evitar ser alvo de outros desafiadores -, ele passa a explorar a cidade de Santa Destroy, na Califórnia, ganhando dinheiro, aprendendo novas técnicas, colecionando itens e encontrando seus dez novos alvos.

Mas não só referências a Star Wars ou aos Beatles estão presentes: Suda utiliza décadas e décadas do pop mundial como munição para sua metralhadora giratória, das mais reconhecíveis, como "De Volta para o Futuro", Dragon Ball Z, Radiohead e Sex Pistols, às mais obscuras, como Santo, lendário lutador mexicano de luta livre, Sylvia Kristel, atriz da série erótica "Emmanuelle", e "El Topo", cultuado filme do artista chileno Alejandro Jodorowsky.

E, apesar do volume, elas não são jogadas a esmo, mas sim inseridas das maneiras mais inusitadas possíveis, em uma história que apresenta alguns dos personagens mais estranhos dos últimos tempos, como um cientista maluco que se veste como roqueiro punk, um policial corrupto viciado em karaokê e uma velhinha que controla um canhão disfarçado de carrinho de compras. Isso sem contar em missões e minigames que envolvem salvar gatinhos indefesos, cortar grama ou recolher lixo e combates que sempre resultam em jatos de sangue exagerados ao melhor estilo dos antigos filmes japoneses de ninjas e samurais.

Explorando Santa Destroy

A cidade de Santa Destroy, apesar de, a princípio, sugerir que funciona como um gigante cenário como em "Grand Theft Auto", na verdade é apenas uma espécie de central que leva aos diversos modos de jogo e aos personagens que auxiliam Travis em suas missões, dentre elas a Dra. Naomi, que o ajuda com equipamentos, e o mestre Thunder Ryu, que ensina novos golpes ao protagonista.

Infelizmente a cidade é apresentada de maneira muito pobre e limitada, com texturas simplórias e pouca vida. Há um sério problema com a taxa de quadros e outros pontos questionáveis, como paredes invisíveis e colisões equivocadas.

Com um visual feio, a parte de exploração sofre ainda mais diante da obrigação de participar dos minigames para arrecadar dinheiro, que apesar de provocarem risadas no início, acabam se mostrando repetitivos e sem maior apelo.

Entrando em ação

Se andar pela cidade não é lá muito emocionante, a coisa muda de figura quando Travis entra em combate. Apesar dos visuais não melhorarem muito, o sistema de luta compensa pela engenhosidade, forçando o jogador a saber não só atacar, mas também a defender e esquivar nos momentos certos.

Os controles básicos são bem tradicionais, desferidos ao pressionar botões do Wii Remote, já que diante da maluquice da trama era de se esperar um festival de malabarismos. Mas os movimentos do controle também estão presentes na hora de ficar em guarda com a espada, finalizar os inimigos com golpes especiais e recarregar a bateria da arma - que aliás, funciona de maneira muito suspeita.

Como os controles foram bem pensados, oferecendo uma grande gama de opções, tudo fica ainda melhor quando se percebe a variedade de inimigos e seu desafiador nível de dificuldade, chegando ao ápice nos inusitados encontros com os chefes, muitos deles inesquecíveis de tão engraçados - muito em função da hilária dublagem dos personagens.