007: From Russia With Love

da Redação

Depois de tantos episódios originais do agente secreto mais famoso do cinema para videogames, a Electronic Arts resolveu se basear num filme da série para uma nova empreitada. Mas, em vez de olhar para os filmes recentes, voltou seus olhos para o passado da longa filmografia - no caso, bem para o passado: 1963 para ser preciso. "From Russia with Love" é baseado no segundo filme da franquia, no Brasil traduzido como "007 Contra Moscou", trazendo o rosto dos atores originais, inclusive o do ator escocês Sean Connery, o primeiro intérprete de James Bond.

Apesar dos esforços da Electronic Arts, que produziu alguns bons jogos do agente 007 - e outros nem tanto - o melhor game com o personagem continua sendo "GondenEye 007", feito pela Rare e considerado um dos melhores jogos do Nintendo 64. Para ser franco, "From Russia with Love" está mais para a mediocridade de um "Agent Under Fire" que para o competente "Everything or Nothing", apesar de pegar emprestadas dele algumas idéias interessantes.

Licença para editar

O sistema de jogo é bastante similar ao dos antecessores, isto é, um jogo de ação com ênfase nos tiroteios e visão de terceira pessoa, somando-se a isso algumas aventuras variadas, como perseguições automobilísticas e fases com barcos e jetpacks, um sistema de jatos que faz o personagem voar.

Os melhores momentos do jogo vêm das cenas tiradas diretamente do filme, como o confronto contra os russos num acampamento cigano. O game apenas usa o fio condutor do longa-metragem original, cortando cenas ou inventando partes originais, exatamente os momentos de menor inspiração. Os diálogos também foram reescritos conforme o novo roteiro - a título de curiosidade, no filme o personagem não diz sua famosa frase: "Meu nome é Bond, James Bond".

Não se sabe se esse foi o propósito da Electronic Arts, mas "From Russia with Love" é voltado para o público casual, por sua dificuldade moderada. Mesmo nas opções mais difíceis - são três no total: de Operative a 00 Agent, escolhidas no início de cada fase - os jogadores com um pouco mais de experiência poderão terminar sem muito trabalho.

O que acaba tornando o jogo fácil é que, apesar de a mecânica oferecer diversas opções, o modo mais simples acaba sendo o mais eficiente. Isto é, basta usar o comando de travar a mira no inimigo e atirar até matá-lo. Se ficar se movimentando para os lados, melhor ainda, pois poderá desviar do ataque dos oponentes.

Bom de briga

Essa é a maneira mais fácil, mas há uma mecânica bastante criativa, ainda que reaproveitada de "Everything or Nothing": ao travar a mira em um inimigo, é possível usar um botão para entrar em modo de Focus, isto é, a visão passa a ser quase em primeira pessoa e o inimigo fica marcado com alguns pontos estratégicos.

Um deles é o centro do oponente, que atingido garante uma pontuação de movimento especial. Além disso, se o inimigo estiver carregando uma granada ou um rádio, é possível acertá-los e produzir diversos efeitos. Sem rádio, eles não podem chamar reforços e o explosivo, bom, manda tudo para os ares. Acertar na cabeça, apesar de não render nenhum bônus, é fatal. Alguns adversários ainda podem usar um colete à prova de balas e, nesse caso, o Focus serve para mostrar as tiras que prendem o equipamento. Acertando neles, o colete se desfaz.

Outro método para neutralizar rapidamente o inimigo, e também ganhar pontos de bônus, é usar a furtividade. Há um botão que faz Bond andar sorrateiramente e, chegando perto sem ser percebido e ativando o botão de tiro, faz com que o oponente fique no chão. Mas, como não se trata de um "Splinter Cell" ou um "Metal Gear Solid" não há nenhum contratempo se o agente for visto pelos inimigos. Assim como seus "colegas de profissão", Bond pode andar com as costas na parede e olhar em volta ao chegar nos cantos, além de atirar com uma certa segurança dessa posição.

O terceiro jeito especial de matar são os combos. Eles acontecem quando você chega perto durante o tiroteio e a tela mostra um botão para ser pressionado. Feito isso, Bond usa ataques corporais para acabar com eles. E, como um milagre, os outros inimigos ficam apenas assistindo ao companheiro sendo massacrado.

Todos esses ataques são bem bacanas, mas, como dito anteriormente é mais fácil e seguro usar o famoso "atirar e correr". Claro que você não vai ganhar tantos pontos bônus, mas terá mais chances de estar vivo no final da fase. A programação de inteligência dos inimigos se resume a atirar e ir para cima do protagonista, quando for avistado.

Vivendo várias vezes

"From Russia with Love" também traz um componente de exploração: cada fase esconde documentos secretos que somam pontos de pesquisa, usados para melhorar armas e coletes. Mas não é nada muito complicado; esses itens apenas não estão no meio do caminho, sendo relativamente fáceis de serem encontrados. A tela de status ainda mostra quantos desses itens há no estágio.

Cada fase também possui quatro desafios fixos: matar uma quantidade de inimigos, terminar dentro do limite de tempo, fazer um "Bond Moment" e completar o estágio na dificuldade 00 Agent. Felizmente, não é necessário cumprir todos esses objetivos numa única jogada.

O "Bond Moment" é uma missão alternativa singular para cada estágio e descrita na tela de status. Às vezes é preciso explodir um carro, em outras, matar determinados tipos de adversários. Essas cenas, quando feitas com sucesso, fazem aparecer o logotipo da série. Durante as fases, o jogador terá de realizar missões primárias, mas o roteiro é totalmente linear.

A cada determinado número de desafios realizados, fases bônus ficam disponíveis, para conseguir ainda mais pontos. Esses estágios não são obrigatórios e, talvez por isso, sejam um pouco mais difíceis. As fases a pé são as principais, embora existam estágios com perseguições automobilísticas, tal como dissemos no início do texto. Mas os controles e o funcionamento dessas etapas costumam ser simples, ainda que o manejo soe um pouco estranho se comparado ao de jogos de corrida de verdade, por exemplo.

Os controles funcionam corretamente e o sistema de mira é bastante eficiente, marcando o oponente mais próximo. Mas os comandos começam a embaralhar um pouco quando os inimigos estão muito perto, pois a mira é desfeita caso eles saiam de sua vista, ou quando se quer marcar um objeto - um barril explosivo, por exemplo. Nesse caso, o jeito é deixar a mira ativa e trocar com o direcional direito, ficando por um tempo à mercê dos ataques.

O modo multiplayer está apenas para fazer presença: há somente modalidades com tela dividida e a mecânica é extremamente simples. Como a mira é automática e muito eficiente, quase sempre vence quem marca o oponente primeiro. As chances de contra-atacar ou desviar dos tiros são mínimas, e as opções de partidas são as mesmas vistas em qualquer modalidade multiplayer.

Somente para seus olhos

Na parte visual fica destacada a reprodução dos rostos dos atores originais nos modelos poligonais: estão lá Sean Connery, a bond girl Daniela Bianchi e Pedro Armendáriz, por exemplo. Há até uma personagem exclusiva para o game, Eva, interpretada por Maria Menounos, que fez uma ponta no filme "Quarteto Fantástico". Mas o restante da tela não teve o mesmo capricho: os cenários, por exemplo, parecem simples demais, apesar de algumas fases serem bastante belos.

Por outro lado, os efeitos visuais, como os de fogo e fumaça são excelentes, e ficam até estranhos em um ambiente tão limitado. A taxa de quadros tem maior variação na versão para PlayStation 2, enquanto no Xbox e GameCube fica mais estável. A equipe também teve o cuidado de reproduzir todos os maneirismos do ator escocês, como, por exemplo, o seu jeito de segurar a arma, próximo à cintura. Todas as animações parecem bem naturais.

A trilha musical vem diretamente dos filmes. Quem já assistiu a algum episódio reconhecerá de cara a famosa composição e a lendária seqüência de abertura. Os efeitos sonoros foram bem gravados e marcam presença na ação.

A dublagem tinha tudo para ser perfeita, com o próprio Sean Connery reinterpretando seu mitológico personagem, mas sua voz soa muito velha para o papel e, acima de tudo, muito burocrática e aborrecida. Ninguém duvida do talento de Sir Connery, mas pelo jeito ele não achou que valesse dublar com mais interesse. Ao menos, os outros dubladores trabalharam com mais garra e expõe ainda mais a apatia do protagonista.

Nunca mais outra vez

"James Bond 007: From Russia with Love" traz alguns bons momentos, principalmente as seqüências que foram retiradas do filme original, um dos mais marcantes de toda a cinessérie, ainda mais para fãs nostálgicos. Pela sua pouca dificuldade, é mais voltado para o público menos acostumado aos jogos, mas entusiastas também poderão ter algumas horas de desafio, ainda que por pouco tempo.