Bomberman: Act Zero

Os mascotes estão morrendo. Existem aqueles que são eternos, como Mario e Sonic, e até há espaço para alguns novatos, como as duplas Jack & Daxter e Ratchet & Clank, mas não há como negar que os personagens carismáticos perderam força nas gerações atuais de videogames.

Criado pela Hudson, no começo da década de 80, Bomberman é um desses heróis que deixaram saudades e ainda hoje possui fiéis seguidores. A idéia do jogo é simples e bem original: o mascote deve usar sua agilidade para ser o único sobrevivente de um labirinto. Para se sagrar vencedor, Bomberman precisa colocar explosivos estrategicamente prevendo a movimentação ou encurralando os adversários. As fases escondem também itens secretos que rendem bombas extras a poderes especiais.

Mascote do mal

Talvez pelo fato do personagem mais conhecido dos consoles da Microsoft ser o encouraçado e armado até os dentes Master Chief, de "Halo", "Act Zero" adota uma abordagem totalmente diferente. Esqueça a carinha simpática de Bomberman com seu capacete branco e luvinhas rosadas. Esse jogo exclusivo para Xbox 360 tem visual dark, robôs no lugar de mascotes e cenários 3D, mas mantém a mecânica básica do quebra-cabeça de ação e estratégia. Segundo a produtora, esse estilo tem muito mais a ver com o personagem.

Foi criado um enredo para explicar a mudança: a ação acontece em um mundo pós-apocalíptico no qual humanos são aprisionados em instalações subterrâneas e treinados como soldados. Dotado de uma armadura cibernética, a meta do jogador é sobreviver a 99 fases e, assim, alcançar a liberdade na superfície. O enredo bizarro para explicar o mesmo objetivo do game original já é o suficiente para afastar qualquer admirador de Bomberman, mas esse é o menor dos problemas de "Act Zero".

Fuga impossível

Direto ao assunto, o jogador deve completar as 99 etapas de "Act Zero" com uma única vida. Isso mesmo: nada de "saves" ou robôs extras. Cometa um deslize na terceira ou na penúltima etapa e o destino será o mesmo: recomeçar tudo do zero. Nesse momento de raiva, o jogador pode aproveitar para mudar o sexo de Bomberman e escolher outra das oito cores de armadura, únicas opções de personalização. As fases em si não são difíceis, mas completar 99 estágios em uma única tacada deixa qualquer um de pavio curto. Cuidado para não estourar.

O modo "First-person bomber", ou simplesmente "FPB", é a grande novidade. A idéia é temperar a série com mais ação, o que, em tese, combinaria mais com essa versão de "Bomberman". Apesar do nome, não se trata de uma visão em primeira pessoa. A câmera baixa acompanha o jogador pelas costas. O resultado é que o campo de visão fica limitado e é mais difícil de visualizar as bombas. Com o jogador correndo freneticamente de um lado para o outro, é preciso passar pela frustração de ajustar a câmera constantemente com o análogo direito. Mais maçante e complicado, nesse modo Bomberman ganha uma barra de energia e pode sobreviver mesmo se atingido.

Felizmente, "Act Zero" oferece também a modalidade padrão, na qual o jogador contempla todo o cenário com uma visão aérea e que não traz barra de energia: uma vez atingido por uma bomba, "you are dead". No final das contas, até mesmo novatos da série vão descartar a novidade e ficar no Bomberman tradicional, onde a estratégia que fez a fama da série fala mais alto.

Seja qual for a modalidade escolhida, "Act Zero" mantém a tradição dos itens especiais que são encontrados aleatoriamente pelos labirintos ao detonar os blocos certos. No geral, são os mesmos de versões antigas de "Bomberman" e dão habilidades como: aumentar o alcance das chamas; poder colocar mais bombas ao mesmo tempo; ou ainda atravessar blocos destrutíveis; entre outras. Nas batalhas entre dois ou mais jogadores, os itens dão um fator de imprevisibilidade e graça à ação, mas, por mera preguiça e descaso com os consumidores, os produtores não se deram ao trabalho de incluir uma opção multiplayer offline. Na Xbox Live, até oito combatem online, no entanto.

Na rede é outra bomba

"Act Zero" oferece o pacote básico de grande parte dos títulos para Xbox 360. O jogador pode comparar seu desempenho em sua modalidade preferida com outros na rede online. Pode também optar por partidas online sem compromisso - que não contam pontos para o ranking - ou ainda criar sua própria sala com direito a separar algumas vagas para amigos de sua lista. É raro, no entanto, encontrar salas com mais de três pessoas simultâneas, principalmente no Brasil, já que só são listadas salas com conexão para partida online que estão dentro do aceitável. Com poucos jogadores, as batalhas online se tornam enfadonhas, tanto no aspecto da diversão como no estímulo visual.

De fato, os gráficos são lamentáveis. Mesmo em TVs de alta definição, "Act Zero" está longe de ser exemplo da nova geração de consoles. A modelagem dos personagens, texturas e efeitos especiais poderia ser reproduzidos no primeiro Xbox. O estilo "dark" deixa o conjunto visual muito uniforme e quem conhece o universo do mascote sentirá falta do colorido e graça original. Logotipo "Dolby Digital" estampado na embalagem também é uma afronta. Os efeitos sonoros das explosões são medianos e há uma voz feminina robótica nas passagens de fases e coleta de itens. Fora isso, a música é bem genérica e passa despercebida.

Se não bastasse a falta de estímulo visual e sonoro, 42 das 50 conquistas que rendem pontos ao seu gamertag na Xbox Live são classificadas como secretas. Ou seja, não é permitido ao jogador saber o que deve ser feito. Se for paciente, tente a sorte fazendo qualquer coisa.