Doom

da Redação

"Doom" não foi o primeiro jogo de tiro em primeira pessoa a ser criado, mas talvez o mais influente da categoria, quem praticamente moldou e formatou o gênero, levando-o a ser um dos mais populares da atualidade, principalmente nos PCs. Agora, esse verdadeiro clássico, datado de 1993, está de volta para os donos de Xbox 360.

As razões da notoriedade de "Doom" são várias. Numa época em que os gráficos 3D ainda começavam a engatinhar, o exímio programador John Carmack conseguiu fazer um sistema fantástico, capaz de processar um visual 3D com muitos detalhes, e, ainda assim, rápido o suficiente para a maioria das configurações de PC. Tudo isso com a excelente arte de Adrian Carmack e um sistema de jogo empolgante, criado principalmente por John Romero.

Onde os tiros começaram

"Doom" é um jogo de tiro em primeira pessoa e uma evolução a partir de "Wolfenstein 3D", outro marco do gênero, lançado um ano antes pela própria produtora id Software. Diferente do estilo como é hoje, não é possível mexer a visão para cima ou para baixo, ou mesmo pular. Porém, a simplicidade pára por aí, pois os mapas do game são um verdadeiro labirinto, e até mesmo trivialidades como chegar à saída pode ser um tormento, quanto mais achar todas as passagens escondidas no game.

A história do game, registrado apenas no manual do game original, conta a história de um marine espacial que enfrenta criaturas do inferno - e também humanos transformados em zumbis -, fruto de uma experiência malsucedida de cientistas, que queriam teletransportar objetos entre Phobos e Deimos, luas de Marte, mas, pelo jeito, confundiu o segundo satélite natural com o demônio em si. Resultado: as portas do inferno se abriram em Phobos e sobrou para você toda a encrenca.

O game é exatamente igual ao original, mostrando um labirinto em três dimensões, mas, claro, dadas as limitações da época, as texturas ficam quadriculadas quando vistas muito de perto. Os itens, barris e monstros são feitos de gráficos 2D, estilo papelão, e, sendo assim, eles sempre estão de frente para você. Mais uma vez, isso foi uma limitação imposta pela baixa configuração dos PCs de antigamente, mas que nada interfere na diversão do game. Infelizmente, mesmo usando alta resolução e tela widescreen, o game não ganha muitas vantagens.

Onde digito "IDDQD"?

A maior qualidade de "Doom" é como ele equilibra os momentos de ação pura com momentos de exploração. O game ainda possui a seleção de armas mais icônicas do gênero, como a serra elétrica, a espingarda, o lança-foguetes e, é claro, fulminante BFG 9000, ainda hoje uma das armas de maior impacto na história do tiro em primeira pessoa. Ainda assim, em fases mais avançadas, o número de inimigos chega a ser desesperador, o que eleva bastante a dificuldade do game, escolhida entre cinco nível quando se começa um novo jogo.

A parte de exploração também não é nada fácil mais para frente. Muitas portas do game estão trancadas com chaves eletrônicas, que podem ser azul, amarela ou vermelha, e, geralmente, elas são necessárias para alcançar a saída das fases. Mais que isso, o game esconde uma infinidade de passagens secretas e encontrá-las todas faz parte de uma das conquistas na edição para a Live Arcade.

Os mapas são bem complexos, para nenhum jogo atual botar defeito, mas, felizmente há um mapa topográfico para o jogador consultar e tentar não se perder no emaranhado de corredores, elevadores e escadas, além de dar dicas sobre passagens secretas - as linhas amarelas representam portas e locais que se abrem.

O game inclui as 27 fases originais, divididas em três episódios, sendo que três deles, o nono de capa parte, é secreto. Mas também traz um quarto capítulo, que narra a volta do marine à Terra em mais nove fases, um pacote adicional incluso na extensão "The Ultimate Doom", lançado originalmente em 1995. Para ficar perfeito, só faltou a tela de console para digitar os códigos de trapaça como no PC.

A origem do deathmatch

Os controles foram bem adaptados ao joypad do Xbox 360, com boa sensibilidade para o comando da visão. Se há algo para reclamar é que poderia ter aproveitado os botões que sobraram para ativar diretamente as armas, e não ficar circulando na ordem da lista. Talvez a sensibilidade para girar a visão não seja rápida o suficiente para as partidas multiplayer em deathmatch, mas, pelo menos, todos estão em igualdade de condições.

Aliás, as partidas com múltiplos jogadores em rede local ou modem - quando a internet ainda era uma realidade um pouco distante - foi uma das principais inovações de "Doom" e outro de seu aspecto moldador do gênero. A edição para Xbox 360 traz modalidade com tela dividida ou através da Xbox Live, para até quatro pessoas em deathmatch - note que o jogo foi o primeiro a cunhar o termo - ou duas pessoas em modo cooperativo.

O número acanhado de jogadores, para os padrões de hoje, permite que o game tenha bom desempenho, se todos os participantes tiverem boas conexões entre si. Mas mesmo contra adversários com "ping" altos, a lentidão pode até incomodar, mas não é nada impraticável. Talvez, secretamente, os jogadores até almejem esse "lag", pois o deslocamento dos personagens é muito veloz, se acionado o botão de correr, com o gatilho esquerdo.

Mas outros problemas impedem que o modo multiplayer seja divertido, ao menos em alguns mapas. Há alguns muito grandes, e, por conta disso, os confrontos podem demorar a ocorrer, ainda mais com apenas quatro jogadores em sua capacidade máxima. Outro fator é que algumas armas, como o lançador de foguetes, é extremamente potente, e não dá chance aos adversários.

Um verdadeiro clássico

"Doom" mostra que envelheceu bem com o tempo. Por mais que seja uma tecnologia de 13 anos atrás, não deixa de surpreender, ainda mais com os recursos da época. E o título em si é um primor de design de jogo, superior em desafio e experiência que muitos games modernos, já que, o mais importante num game são suas idéias. É certo que o modo multiplayer em deathmatch poderia ser um pouco mais equilibrado, mas, se você é fã de jogos de tiro em primeira pessoa, terá muito a destrinchar com esse clássico, e ainda saber as origens do gênero. Também é uma ótima oportunidade para quem não conhece o estilo começar com um verdadeiro game histórico.