Facebreaker

Pancadaria para todos

Com sua saída repentina da Microsoft para se tornar presidente da EA Sports, selo esportivo da Electronic Arts, Peter Moore levou consigo seu estilo agressivo e descontraído para o novo emprego, implementando uma série de novidades e mudanças. Uma delas foi a criação da linha Freestyle, composta por jogos esportivos com menor foco no realismo e voltados para o público casual, o que está em ascenção no momento.

"Facebreaker" é o primeiro título da Freestyle. É um jogo de boxe cartunesco e exagerado, com nítidas influências do clássico "Mike Tyson's Punch-Out!!" e de "Ready 2 Rumble Boxing" - pelo qual Moore não esconde sua admiração em entrevistas, já que este fora um dos carros-chefes do lançamento do Dreamcast, um de seus primeiros grandes projetos. Pena que seu novo game não esteja à altura de nenhum dos dois.

Briga descontrolada

Na verdade, chamar "Facebreaker" de um jogo de boxe é um tanto quanto exagero. Nem ao menos ele funciona como um jogo de luta tradicional, com golpes, contra-golpes, defesas e movimentos especiais. Bem, ele possui tudo isso, mas nada funciona como se espera.

Os controles são muito simples: você tem dois botões de ataque, um para agarrar e outro para desferir um golpe especial, que ganha potência de acordo com um medidor no canto da tela. Há também um botão de bloqueio e a possibilidade de esquivar ou aparar os acertos inimigos. Parece tudo certo falando assim, mas na realidade, você acaba pressionando o que der na cabeça rapidamente para ver no que pode acontecer, na esperança de vencer alguma luta.

No modo de torneio principal, o Brawl for it All, mesmo a dificuldade mais baixa consegue ser implacável. Embora certos oponentes tenham pontos fracos que você pode explorar - alguns são vulneráveis a golpes no abdômen, outros são mais suscetíveis a agarrões, por exemplo - todos parecem saber o que o jogador está pensando. Por mais rápido que você seja, sempre terá uma ocasião frustrante em que o computador irá se recuperar de algum combo de maneira miraculosa ou emendar várias seqüências de golpes, não importando que botões são pressionados para defender ou esquivar.

Velocidade contra força bruta

Algumas lutas simplesmente são desanimadoras. Há momentos em que parece não ser possível vencer, diante de tanto descontrole da inteligência artificial e da falta de balanceamento dos ataques, uma vez que não há regra clara sobre qual golpe vence qual. É uma experiência tão tortuosa que nem de longe pode ser chamada de casual, mesmo que a mecânica não conte com comandos complicados. A inteligência artificial mostra-se agressiva demais para um estilo de jogo que não pede isso, ou ao menos não deveria.

No modo multiplayer as coisas ficam mais justas, uma vez que você encontra oponentes com reflexos humanos no corner oposto. É um começo divertido, com lutas mais cadenciadas e mais surpresas, mas logo tudo fica enfadonho diante da tal mecânica simples e desbalanceada.

Customizando rostos

Além do torneio, há apenas modos para lutas simples, um outro chamado Couch Royale com desafios para colecionar troféus. Fora isto você pode explorar o sistema de criação de personagens que utiliza o motor da EA Sports chamado Photo GameFace, o grande chamariz do título.

Ali é possível importar sua própria imagem utilizando uma câmera no videogame ou baixar fotos de personalidades pela rede, com resultados imprevisíveis - enquanto alguns acabam idênticos, outros são totalmente diferentes do esperado. No pacote já estão incluídos o próprio Peter Moore e algumas celebridades norte-americanas de quinta categoria, como a socialite Kim Kardashian, mas na rede já circulam figuras como Hillary Clinton ou Arnold Schwarzenegger.

Voodoo e a magia negra

Caso não queira usar ninguém como referência, há a liberdade para customizar o rosto do seu avatar da maneira que quisar, com algumas variáveis no restante do corpo, ainda que os atributos estejam vinculados a um dos personagens oficiais do game. É divertido, mas não é tão revolucionário quanto o marketing da EA gostaria que acreditássemos e, no fim das contas, o modo não passa um demo tecnológico que pouco adiciona no conjunto final.

Colorido vibrante

Ao menos a apresentação de "Facebreaker" é bastante agradável. O design de personagens é inspirado, ainda que utilize alguns arquétipos manjados, como um gordinho à lá Jack Black metido a ninja ou um espanhol metido a sedutor. Os lutadores são grandes, com um bom número de detalhes e se destacam nos cenários, igualmente coloridos e marcantes, ainda que não tenham o carisma de figuras clássicas do passado como Glass Joe ou Super Macho Man, do velho "Punch-Out!!". A grande diferença é que, graças aos avanços tecnológicos, os rostos dos pugilistas ficam deformados de acordo com a quantidade de pancadas que vão levando.

O áudio não chama tanta atenção, fazendo apenas o básico dentro de um jogo de luta. Há apenas efeitos sonoros de golpes repetidos à exaustão e alguns esparsos trechos de dublagens dos personagens, mas nada realmente marcante. A trilha sonora segue o padrão dos jogos da Electronic Arts, com várias faixas de bandas da moda, ainda que com uma seleção mais alternativa do que o de costume.