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Barato, Beenoculus é alternativa brasileira para realidade virtual

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

19/01/2015 15h56

Com presença cada vez maior em feiras de tecnologia, os óculos de realidade virtual em breve estarão nas mãos (ou no rosto, para ser mais exato) do público, oferecendo uma nova maneira de consumir jogos, informação e entretenimento. Mas apesar da tecnologia fascinante, o maior desafio da realidade virtual está no preço dos aparelhos, que em geral, exigem computadores potentes para rodar seus jogos e aplicativos.

Foi pensando nesse empecilho que nasceu o brasileiro Beenoculus, acessório que combina um visor de realidade virtual com o smartphone do usuário. Feito por um grupo de 10 desenvolvedores de Curitiba (PR), entre eles 5 sócios que investiram no projeto, o visor é um projeto de baixo custo, que promete "democratizar a realidade virtual no Brasil", explicou o chefe de marketing da Beenoculus, Rawlinson Peter ao UOL Jogos. Para isso, apostam no preço acessível: os óculos estão em pré-venda por R$ 100, com entrega prevista para começar em março.

Segundo o executivo, existem 47 milhões de smartphones no Brasil, sendo cerca de 12 milhões aparelhos "top de linha". "Sabemos também que 40% dos usuários de smartphone jogam nos aparelhos", explicou. "Algumas pessoas podem torcer o nariz para o Beenoculus por rodar seus apps direto do celular mas o Gear VR, da Samsung, exige o Note 4, o Rift exige que você use um computador. O Beenoculus usa o smartphone que você já tem".

O aparelho foi apresentado na CES, feira de tecnologia que aconteceu na semana passada em Las Vegas, nos EUA e arrancou elogios de várias empresas envolvidas com realidade virtual. "Já estamos negociando a distribuição nos EUA e no México", revelou Rawlinson. A meta é ousada: vender 1 milhão de Beenoculus em 2 anos.

Mas como funciona? UOL Jogos testou

Observado sozinho, o Beenoculus pode ser descrito mais como um estojo para o celular, acompanhado por um sofisticado sistema de lentes, do que como uma máquina de realidade virtual. Você abre a tampa do aparelho, acopla o celular lá dentro (o aparelho conta com molduras para cada formato, que precisa ser definida na hora da compra) e coloca o visor no rosto, ajustando a distância entre os olhos e o grau das lentes manualmente.

  • Pablo Raphael/UOL

    UOL Jogos experimentou o Beenoculus em São Paulo, logo depois da CES 2015. Os aparelhos testados eram protótipos quase idênticos ao modelo final, exceto por alguns detalhes de acabamento. A impressão inicial foi muito boa, ainda mais pela faixa de preço do produto.

Funções como giroscópio e acelerômetro, assim como a tela que exibe as imagens da realidade virtual são todas do celular. Por isso, os desenvolvedores recomendam o uso de modelos de ponta, como iPhone 6 e Galaxy S4, por exemplo. Em breve, o aparelho terá suporte também para Windows Phone.

A tampa frontal é presa com quatro imãs, que mantém o celular seguro lá dentro. A tampa suporta 2,5 kg, peso bem maior do que o de qualquer smartphone. Um detalhe importante: o Beenoculus não vem com fones de ouvido, nem tem um orifício para encaixar um fone no celular.

"Recomendamos usar um fone de ouvido bluetooth, mas se preferir, o usuário pode fazer um furo no Beenoculus para encaixar um fone com fio".

Honestamente, não parece uma coisa tão simples assim furar a carcaça de plástico para instalar um fone, mas talvez os usuários mais acostumados com 'casemod' ou com vocação para Professor Pardal discordem. Eu preferiria que esse orifício já estivesse presente no aparelho, me dando a opção de usar os fones do celular ou outro modelo compatível.

Depois de colocado no rosto e com as faixas que prendem o visor na cabeça devidamente ajustadas, a magia acontece: a imagem da tela do iPhone 6 se transforma em um mundo virtual, que pode ser explorado livremente. Leva-se poucos segundos para o cérebro ser enganado pela realidade digital. Em uma das demonstrações técnicas experimentadas, o usuário é levado em um passeio de montanha-russa, que começa com um puxar de alavanca. Basta olhar para a alavanca para ela se mover, mas é inevitável erguer o braço, apertar e puxar a peça - mesmo que totalmente desnecessário, isso é algo que você faz por instinto.

O passeio pela montanha-russa convence: você sente arrepios, tem a sensação de altura, de despencar e fica até um pouco tonto no final. Durante o passeio, você pode olhar para cima, para trás, para os lados. O celular acompanha o movimento da cabeça e exibe a imagem ao redor do usuário, criando a ilusão do mundo virtual.

E QUEM USA ÓCULOS?

Divulgação
O Beenoculus conta com um sistema de ajuste de foco para quem usa óculos, mas em nosso teste, não conseguimos acertar o grau. Por sorte, o visor é espaçoso e é possível ficar com os óculos no rosto.

Outras demos feitas pela equipe do Beenoculus mostram aplicações variadas para a tecnologia de realidade virtual: um tour por dentro do ouvido humano (ao som de um belo solo de guitarra) nos ensinou os nomes dos ossos que compõem o ouvido e o funcionamento da audição. Outro tour, este em fotos 360º, exibiu pontos turísticos de Curitiba, como o Jardim Botânico e a Rua das Flores.

Para fechar a demonstração, uma atração curiosa, parecida com um "barco viking" de parques de diversão, fazia loopings em alta velocidade em meio aos prédios de uma cidade com cara de desenho animado. A sensação de enjoo foi inevitável, o que mostra a imersão provocada pelo aparelho. Afinal, eu estava sentado num sofá, mas meu corpo reagiu ao "passeio" como se fosse real.

Todas as demos eram controladas com o olhar. Bastava fixar a visão em objetos interativos (alavancas, pontos de interesse, setas) para navegar, acionar carrinhos de trem e por aí vai. Não é a mesma coisa que jogar com um controle, mas é algo que se combinado ao joystick tradicional, pode render resultados interessantes.

A sensação de enjoo durante os testes feitos por UOL Jogos foi constante, ainda que suave (ninguém vomitou ou passou mal para valer). Segundo os desenvolvedores, é preciso dar um tempo para o corpo se acostumar. Em todo caso, o Beenoculus não parece um aparelho feito para experiências de longa duração. "Acreditamos que os jogos para realidade virtual serão mais curtos, mas intensos", disse Rawlinson.

KIT DE DESENVOLVIMENTO

  • Pablo Raphael/UOL

    Os desenvolvedores podem adquirir o kit do Beenoculus por R$ 500. A versão para desenvolvedor inclui fones de ouvido, todos os encaixes para modelos diferentes de celular e duas tampas: uma fechada e uma com abertura na frente, para projetos envolvendo realidade aumentada.

E os jogos?

"Já existem 40 estúdios desenvolvendo aplicativos para o Beenoculus", contou Rawlinson ao UOL Jogos. "São apps educativos, de turismo, para exibir fotos 360º e também jogos". A lista de jogos inclui títulos como "Orinthalian", onde o jogador explora um cenário místico e medieval e "Flight Simulator", que oferece voos na cabine de um avião. A Beenoculus planeja soltar um game de terror compatível com o acessório ainda este ano.

Os jogos compatíveis com o Beenoculus podem ser baixados via AppStore (iPhone) e Google Play (Android), mas a empresa planeja criar uma loja própria, onde o usuário encontrará os jogos e aplicativos com mais facilidade.