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Maior jogo brasileiro do ano, "Chroma Squad" é simulador de "Power Rangers"

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

30/04/2015 11h00

O estúdio brasiliense responsável pelo mais aguardado game brasileiro de 2015 precisou fechar suas portas uma vez para encontrar o caminho do sucesso. 

Às vésperas da estreia de "Chroma Squad", segundo grande projeto da Behold Studios, o CEO Saulo Camarotti lembra das dificuldades de seus primeiros anos na indústria. "Não deu muito certo", conta. "Fazíamos trabalhos para terceiros na área de games. Mas não era da nossa natureza vender projetos, participar desse meio corporativo".

Ao UOL Jogos, Saulo revela que a empresa chegou a encerrar suas atividades. "Fechamos. E só depois eu decidi recomeçar com uma pegada mais autoral, mais artística. Fomos crescendo, e hoje somos em 12 - temos até uma indie house", diz. 

Reconhecidos mundialmente, a Behold Studios lança nesta quinta-feira (30) para PC seu simulador de gravações de séries de ação japonesas. "Chroma Squad" transforma o jogador em um diretor de 'tokusatsu' - aqueles shows de TV como "Flashman", "Changeman" e "Power Rangers".

Até o final do ano, PlayStation 4, PS Vita, Xbox One, celulares e tablets também receberão versões do game.

  • Cabe ao jogador gerenciar todos os aspectos da produção de um 'tokusatsu'

Ideias diferentes

"Acho que nosso maior diferencial é o fato de termos uma linha criativa bem solta e inovadora", afirma Saulo. "Gostamos de brincar com a metalinguagem, com nostalgia. Sempre fazemos jogos inesperados, e isso atrai o público".

"Knights of Pen & Paper", que em 2012 alçou a Behold ao sucesso mundial, é uma prova da criatividade do time. O jogo é um RPG sobre jogadores de RPGs de mesa, que enfrentam inimigos imaginários nos porões de suas casas.

"'Knights' foi muito bem recebido. Ganhamos prêmios importantes como o do Indie Game Festival 2013, e recebemos mais de 30 nomeações em outros eventos. Ele também serviu para alavancar o estúdio financeiramente", conta.

"No fim das contas, fazemos jogos em gêneros conhecidos, mas com temas que viram a experiência de cabeça pra baixo", revela com orgulho Saulo. "Fazemos isso também no 'Chroma Squad'".

ASSISTA AO TRAILER DE "CHROMA SQUAD"

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Um jogo nada convencional

Jogadores gerenciam todos os aspectos da produção de sua série de TV em "Chroma Squad", desde a aparelhagem do estúdio até as coreografias de batalha. Mas mais do que um simulador, o game é também um RPG de estratégia durante as lutas, e até mesmo uma experiência rítmica durante os enfrentamentos de 'Megazords'.

A 'REAL' DO KICKSTARTER

  • "Dos US$ 100 mil que arrecadamos com a campanha no Kickstarter, só recebemos em conta uns R$ 100 mil", conta Saulo. O designer revela que impostos americanos e brasileiros, taxas do Kickstarter e mais acabam cortando grande parte do dinheiro da campanha. "Essa grana foi apenas um quinto do nosso orçamento. Mas a campanha serviu para criar uma comunidade muito boa de fãs e nos dar um ótimo feedback para o desenvolvimento", conta.

"Brincamos muito com a realidade no 'Chroma'", diz Saulo. "Isso vem muito do nosso despojamento pessoal. Apesar de termos uma estrutura empresarial para manter, com folhas de pagamento e tudo mais, somos sempre brincalhões e gostamos de uma zoeira".

O bom humor e a criatividade da ideia por trás do game foram suficientes para atrair a atenção até mesmo da Saban, detentora dos direitos dos "Power Rangers". "Eles acompanharam o projeto inteiro", afirma o designer. "Nossa preocupação principal era que eles não nos obrigassem a mudar o visual".

"No final das contas deu tudo certo. Agora temos um subtítulo que diz que fomos inspirados por 'Power Rangers' - o que não deixa de ser verdade -, e eles jogaram a final e não mudaram nada, não deram nenhum palpite. Eles vão divulgar o game, e isso provavelmente vai ser bom para nós".

  • Jogadores devem até mesmo montar os robôs gigantes de seus times de heróis

Feito no Brasil para o mundo

O próprio Saulo revela que 96% das vendas totais de "Knights of Pen & Paper" vieram de fora do Brasil. "A cultura de jogos independentes ainda tá crescendo no Brasil, assim como lá fora. Tem gente que não faz a menor ideia do que é um indie game", explica.

"Mas estamos começando a falar mais com nosso público no Brasil. Com o tempo as coisas vão mudar", diz. "A questão é que não fazemos nossos jogos só para o Brasil. 'Chroma' é uma brincadeira com séries japonesas que fizeram sucesso nos EUA com um humor brasileiro. É um jogo voltado totalmente para o mercado internacional".

Enquanto o PC recebe sua versão de "Chroma Squad", várias outras plataformas ainda esperam para serem agraciadas - e Saulo garante que é nisso que o time da Behold trabalhará ao longo do resto do ano. "Mas já temos um projeto novo que estamos começando, e devemos anunciar em breve", provoca.