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Em um mundo com smartphones, volta de Tamagotchi não faz sentido algum

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Rodrigo Lara

Do Gamehall

10/10/2017 12h10

No início do ano, a Bandai relançou o Tamagotchi no Japão. Para quem não viveu a febre do brinquedo, cabe uma explicação: também chamado de bichinho de estimação virtual, o aparelho - e seus diversos clones - era uma espécie de ovo com uma tela monocromática na qual aparecia a representação de um monstrinho.

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O dono do brinquedo, então, precisava dedicar parte do seu tempo a cuidar da criatura, o que incluía alimentá-la, brincar com ela e cercá-la de cuidados. Caso o seu dono falhasse em dar a atenção necessária ao bichinho, ele acabaria morrendo.

Parece meio bobo - e realmente é -, mas o brinquedo ficou popular a ponto de ter alcançado a marca de 76 milhões de unidades vendidas em 2010.

Ao contrário do Tamagotchi, o mundo mudou

Essa reedição do brinquedo, que agora chegou aos Estados Unidos, traz algumas diferenças em relação ao original, em especial naquilo que diz respeito à forma. Ele encolheu consideravelmente - a carcaça é 60% menor e a tela, 40% - e, no país norte-americano, ele custa US$ 14,99 - pouco mais de R$ 47.

Seu modo de operação, porém, continua o mesmo: a interação utiliza três botões físicos e o bichinho demanda o mesmo nível de atenção de 20 anos atrás. E aí é que está um dos problemas.

Ao contrário do que ocorria no final dos anos 1990, há a sensação de que temos menos tempo livre para nos dedicarmos a algo, digamos, inútil. E boa parte desse tempo livre já tem um dono: os smartphones.

Tamagotchi - Novo - Reprodução - Reprodução
Você não precisa de mais uma coisa para carregar no bolso, mas isso não deve impedir a alta procura pelos novos Tamagotchi
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Seja navegando em sites ou redes sociais ou, ainda, jogando games casuais, os celulares têm recursos suficientes para consumir qualquer resquício de tempo livre de uma pessoa. E, claro, de formas muito mais interessantes do que cuidar de um bichinho virtual.

Com a lacuna de tempo entre trabalho e atividades culturais e de lazer e básicas - como comer e dormir - já tendo um novo dono, é bastante improvável que alguém queira dividir ainda mais sua atenção e ainda fazer isso carregando um gadget a mais. E isso se torna mais crítico se considerarmos que celulares têm aplicativos que suprem a "necessidade" de cuidar de um pet: a própria Bandai possui uma versão paga do Tamagotchi para celulares e também há o "Pou", app gratuito com premissa similar, mas muito mais aprofundado e que já foi baixado mais de 500 milhões de vezes apenas no Google Play.

Pou - Reprodução - Reprodução
Os próprios smartphones possuem aplicativos para quem quer cuidar de um bichinho virtual; além do "Pou", a própria Bandai tem uma versão de Tamagotchi para a plataforma
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Vai vender muito

Não faz sentido ter um Tamagotchi hoje em dia, mas o aparelho deverá vender muito nos EUA. Se essa afirmação parece um contrassenso, basta uma palavra para fazê-la ter sentido: nostalgia.

Prova disso foi seu relançamento no Japão, em abril deste ano: por algum tempo após ele chegar às lojas, o aparelho era difícil de ser encontrado.

Em uma entrevista ao site Polygon, a diretora de marca da Bandai, Tara Badie, disse que a ideia é fazer com que as pessoas "redescubram sua infância". "Nós vamos atrás da nostalgia. Fizemos quantidades limitadas para ter certeza que ele será comprado por quem viveu aquela época, não para se tornar um produto de massa para crianças de hoje".

É um caso que lembra - ainda que guardadas as proporções - o que ocorreu com a versão miniatura do Nintendinho. Quando a Nintendo lançou o videogame, na segunda metade de 2016, era uma tarefa complicadíssima encontrá-lo à venda.

Racionalmente, é algo difícil de se explicar. Ainda no exemplo do NES Classic Edition, pagava-se caro para ter um videogame com uma biblioteca limitada - em boa parte composta por jogos de peso histórico, mas quase injogáveis hoje em dia - e um controle que deixa sua mão doendo depois de algumas horas de jogo.

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Relançamento de brinquedos e videogames que fizeram fama nos anos 1980 e 1990 se apoiam na nostalgia e no poder aquisitivo atual de seu público original
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Ainda assim, você e eu gostaríamos de ter um. E a sensação se repetirá em relação ao Tamagotchi e a outros eletrônicos retrô que porventura vierem a ser lançados - nem preciso incluir aqui o Super NES Classic Edition e o novo Mega Drive, não é mesmo?

Comprar um Tamagotchi, ou as reedições de NES, Super NES e Mega Drive talvez seja uma forma de lembrarmos da infância, mas, além disso, há uma explicação mais realista. Boa parte daqueles que viveram o auge desses brinquedos compõem, hoje, fazem parte do mercado de trabalho.

Isso significa que, ganhando bem ou mal, não há mais a dependência da mãe ou do pai para se ter um videogame ou um gadget. E gastar o seu suado dinheiro em algo que relembra a infância acaba sendo uma espécie de nova emancipação. 

Diante disso, vale repetir: não há qualquer sentido em ter um Tamagotchi - ou qualquer um dos aparelhos citados - hoje em dia. Mas é bem provável que nós vamos querer ter um caso ele venha para o Brasil.

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