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Existe idade certa para começar a jogar videogame? Especialista dá dicas

Qual é a melhor maneira de introduzir os videogames na vida da criança? - Reprodução
Qual é a melhor maneira de introduzir os videogames na vida da criança? Imagem: Reprodução

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

16/03/2017 10h00

Em tempos nos quais smartphones - quando não tablets ou videogames - tornaram-se peças indispensáveis em nossas vidas, é cada vez mais difícil controlar o acesso das crianças a estes dispositivos.

Se trinta anos atrás a principal preocupação dos pais neste sentido era se videogame estragava ou não a TV, hoje em dia a questão ficou mais complexa: com que idade devo deixar meu filho jogar videogame? E quando devo comprar um celular para ele?

O UOL Jogos conversou com o Dr. Alberto Helito, pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas - além de jogador de "Destiny" e proprietário de um Nintendo 3DS - sobre essas e outras dúvidas que afligem os pais:

Dr. Alberto Helito (games) - Reprodução - Reprodução
Dr. Alberto Helito: "Jogo todo dia"
Imagem: Reprodução

Qual é a idade mais apropriada para uma criança começar a jogar?

O contexto é um pouco mais amplo e abrange as mídias digitais como um todo: como todo mundo tem um smartphone ou tablet hoje em dia, a criança acaba tendo acesso a eles mais cedo.

Pesquisas nos Estados Unidos indicam que qualquer uso de mídia digital antes dos dois anos de idade é inadequado. Antes disso, pode afetar o comportamento da criança, especialmente o sono, pois ver um desenho pode deixá-la excitada num grau prejudicial.

Uma exceção é a videoconferência, caso o pai ou a mãe esteja viajando, por exemplo.

A partir dos dois anos já é possível encontrar apps com objetivos neurológicos ou pedagógicos, mas mesmo assim recomenda-se apenas uma hora por dia de mídia digital até os cinco anos de idade.

Quais são os benefícios que jogar junto com os filhos pode proporcionar?

Os pais sempre me questionam no consultório sobre o que fazer para as crianças se desenvolverem, atingirem seu máximo potencial cognitivo, etc., às vezes culpando-se por problemas que nem existem.

Envolver a criança naquilo que os pais fazem ajuda ela a entender quem são os pais, seja essa atividade jogar videogame, futebol ou o que for.

Estamos em uma geração na qual os pais são gamers, mas os jogos ainda são estigmatizados. Quem não conhece do assunto logo pensa em jogos de azar, dependência, etc.

Só que não é bem assim: falando por experiência própria, tudo o que aprendi sobre inglês, por exemplo, foi jogando videogame. Já franquias como "LEGO" ajudam a desenvolver o raciocínio lógico e atraem adultos também.

Ao jogar junto com o filho, os pais têm a oportunidade também de fazer uma distinção clara do que é realidade e do que não é, explicando a diferença entre vida real ou fantasia. Por exemplo: pegar uma arma e atirar num bichinho; isso é de verdade ou de mentira? Se fizéssemos isso na vida real, o que aconteceria? Enfim, levar isso para a realidade da criança.

Como saber se o videogame está fazendo mais mal do que bem?

Olhando menos para o game e mais para outras coisas: sono, alimentação, atividade física, performance escolar e por aí vai. Se tem um "buraco" em uma delas, o game pode invadir essa parte da vida da criança e causar prejuízo.

No caso de crianças obesas, por exemplo, se o game está substituindo atividade física, é preciso limitar o acesso. Se a criança não passou de ano porque jogou demais e deixou de estudar, é o mesmo caso.

É preciso impor regras e limites, mas dá para fazer combinados, como propor ambientes dentro de casa que sejam livres de mídia digital - nada de celular na hora do almoço ou de TV no quarto, por exemplo.

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E o celular: qual é a idade e critério para ter um?

As crianças estão, precocemente, tomando para si recursos de adultos. E isso acontece cada vez mais cedo e traz consequências ruins. E não é só o celular: há as músicas com letras inadequadas e as cenas de sexo nas novelas, só para citar duas coisas.

Estamos aceitando isso e dizendo que "as crianças estão mais maduras".

Vejo com maus olhos essa questão de adiantar a maturidade e a independência.

Especificamente sobre o celular, crianças de quatro anos não têm que estar em lugar nenhum que os pais não saibam. Até pelo menos nove anos de idade, a criança pode ser controlada.

E quando os pais conseguem controlar exposição de conteúdo em casa, mas não na dos amigos?

É delicado. Essa é a cara nova de um problema antigo: como evitar que seu filho veja a Playboy na casa de outra criança se você não permite o mesmo na sua? O problema é que o mundo digital é muito invasivo.

Os pais dos amigos devem conversar entre si, mas isso nem sempre resolve o problema.

É preciso também ficar atento: com o passar do tempo você acaba conhecendo quem é quem na vida do seu filho e pode usar isso a seu favor. Uma conversa sobre o que o "Joãozinho" faz, por exemplo, pode servir de exemplo sobre o que fazer ou não.

O que não adianta é transformar a situação em tabu, pois a criança vai perceber que há algo naquilo que você está falando.