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"Não sabíamos o que estava fazendo", diz ator dos primeiros "Mortal Kombat"

Daniel Pesina interpretou personagens nos primeiros jogos da série "Mortal Kombat" - Rodrigo Lara/UOL
Daniel Pesina interpretou personagens nos primeiros jogos da série "Mortal Kombat" Imagem: Rodrigo Lara/UOL

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL

12/10/2018 18h39

"Mortal Kombat" foi um game que marcou época. Quando foi lançado, em outubro de 1992, o jogo foi mais do que uma boa novidade para o então efervescente gênero dos games de luta, introduzindo novas ideias e gerando polêmica com a sua violência.

No meio da produção do jogo estava o artista marcial Daniel Pesina. Ele não ajudou a programar o jogo, mas teve um papel muito importante: ele foi o intérprete dos personagens Johnny Cage, Scorpion, Sub-Zero, Reptile, Smoke e Noob Saibot nos dois primeiros games da série.

Era uma época na qual, para ter gráficos realistas, era necessário fazer um processo de digitalização de imagens gravadas em vídeo. Ou seja: se você jogou algum desses games com algum desses personagens, você "controlou" Pesina, ao menos indiretamente.

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O UOL Jogos conversou com o artista marcial durante a BGS 2018 e soube algumas curiosidades sobre o processo de produção do game. Pesina conta que sempre foi um nerd. "Eu colecionava quadrinhos e jogava 'Dungeons & Dragons'. Um dos caras que andava comigo era o John Tobias, um dos criadores de 'Mortal Kombat'", lembra.

O convite para participar de um jogo, na verdade, chegou até ele de maneira inusitada. "Eu estava terminando meu trabalho como dublê em 'Tartarugas Ninja 2' [filme de 1991] e ele chegou para mim: 'eu tenho uma ideia para um jogo. Você me ajudaria a vender essa ideia para a Midway [que viria a ser a produtora de 'Mortal Kombat']?'"

Pesina conta que Tobias arranjou um espaço para eles gravarem uns vídeos para apresentarem para a produtora. "Ouvimos um 'não' da Midway. Eles não gostaram da ideia de 'Mortal Kombat'".

Ele explica que, para a produtora, era mais interessante fazer um jogo que tivesse o astro do cinema Jean-Claude Van Damme como protagonista - aqui você lê essa história por completo.

No final das contas, Van Damme não aceitou a proposta para fazer um jogo e o plano de fazer "Mortal Kombat" seguiu em frente .

"Quando John [Tobias] veio até mim, nós não fazíamos a menor ideia de como fazer um jogo, não sabíamos o que estávamos fazendo. Nós gravamos por três ou quatro dias, oito horas por dia, apenas para aprender o que precisávamos fazer. Fomos para um estúdio, testamos movimentos, pensávamos no que iria funcionar ou não com outros personagens".

Na hora de gravar os movimentos dos personagens, o trabalho continuou sendo árduo. "O Johnny Cage foi o primeiro. Levamos três semanas, gravando oito horas por dia. Já no caso do Liu Kang, que foi o último, concluímos o trabalho em apenas seis horas".

Johnny Cage, aliás, é o personagem preferido de Pesina. "Ele é o pai de todos os personagens do jogo. Sem ele, não existiria 'Mortal Kombat'".

No início desse texto, falamos que o primeiro "Mortal Kombat" gerou muita controvérsia pela sua violência. Os litros de sangue e os famosos fatalities motivaram, inclusive, a criação do ERSB, o órgão de classificação etária para produtos de entretenimento nos Estados Unidos.

Sobre a frequente associação entre games e violência, Pesina é enfático. "Eu acho que restringir o acesso a games violentos de acordo com a idade é algo bom. O que eu não concordo é quando culpam os games por episódios violentos. Essa associação é totalmente mentirosa", diz.

Para ele, apontar o dedo para os games após episódios de violência, como ataques a tiros, é uma "saída fácil". "Essa é uma desculpa usada, normalmente, por políticos. Seria trabalho deles resolverem essa questão, mas eles usam os games como bode expiatório. Eles fingem que sabem o que precisa ser feito, fingem que estão fazendo algo para melhorar essas questões, mas, na verdade, não estão fazendo nada", critica.