The Getaway: Black Monday

da Redação

A equipe britânica da Sony começou com um objetivo louvável: misturar o charme de filmes como "Mentiras, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" com um game que não suja a tela com nenhum tipo de interface. Depois de anos de atraso e promessas de tecnologia quebradas, "The Getaway" provou ser muito menos do que o esperado, além de um título claramente inferior ao seu concorrente "Grand Theft Auto III". E apesar do tempo gasto na produção da "Black Monday", subtítulo da continuação, os piores defeitos do original voltam intactos e ganharam reforços.

A trama de "Black Monday" não tem ligação com o game original, mas se esforça mais uma vez tecer uma história de corrupção que se passa no submundo londrino dos dias atuais. Por isso mesmo, "Black Monday" coloca uma enorme importância nas cenas não-interativas que usa para avançar o enredo dos três protagonistas: um policial de passado turbulento, um boxeador criminoso e uma jovem ladra.

Faltou fumaça nos canos

Apesar de oferecer uma premissa interessante e capturar o mesmo clima dos filmes do diretor Guy Ritchie (de "Mentiras, Trapaças e Dois Canos Fumegantes"), a narrativa é bastante pobre: as cenas são muito longas e falham em focar o assunto em questão - e o inglês britânico denso de gírias faz do game algo quase incompreensível para qualquer estrangeiro - até mesmo americanos. A mudança de perspectiva entre os três personagens também confunde o jogador. Apesar de contar com um invejável sistema de sincronia labial, a tenacidade do Team Soho (nome da equipe britânica da Sony) em modelar faces idênticas às dos (excelentes) dubladores resulta em bonecos de aparência bizarra - incluindo um protagonista com uma cabeça aparentemente desproporcional ao corpo.

Essa obsessão técnica do grupo é responsável por muitos dos outros defeitos sérios de "Black Monday". A ausência de uma interface que mostre quantas balas e energia o personagem tem sobrando ainda gera dor de cabeça, assim como o método místico e ainda pouco claro de recuperar energia encostando o corpo em uma parede. A ausência de um cursor de mira só piora a situação, que só não é mais grave devido à virtual ausência de inteligência artificial dos inimigos e a capacidade de um dos personagens de prender bandidos com o toque de um botão. Criticar a pior parte do game, suas cenas de espionagem, é o suficiente para fazer alguém sentir que está chutando uma velhinha tendo um ataque cardíaco.

Você vai rolar e algemar muito

A ação de "Black Monday" se resume, quase em sua totalidade, em completar determinadas fases atravessando espaços apertados e de navegação confusa que é atrapalhada por um sistema de câmera que restringe o movimento do ponto de vista, intercalada por cenas de direção para chegar na próxima fase. O jogador é forçado a depender quase da burrice dos inimigos para contornar os problemas de controle nas fases à pé resultando no efeito oposto que o Team Soho se esforçou tanto para conseguir tirando a interface: uma imersão do jogador. Não se assuste se você passar boa parte do game rolando e algemando criminosos.

Uma vez atrás do volante, porém, o game não melhora muito. Os veículos estão mais resistentes do que no original para evitar uma frustração excessiva, mas ainda assim esses pequenos interlúdios são verdadeiros exercícios de paciência que conectam as demais fases do game. Apesar de contar com uma Londres virtual reproduzida com detalhes e realismo muito superior ao de "Grand Theft Auto", o jogador fica impossibilitado de explorar esse mundo - exceto nos passatempos que são completamente independentes do resto do game e são acessados diretamente pelo menu principal.