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PlayStation 2

Yakuza

15/09/2006

AKIRA SUZUKI
Colaboração para o UOL
Quando se fala em gangues e crime organizado como tema para games, talvez o mais lembrado seja a série "Grand Theft Auto", que já retratou máfias italianas e guetos negros. Com a repercussão gerada pelo tema - algumas vezes negativamente -, mais adulto, a produtora japonesa Sega também resolveu retratar os grupos criminosos de seu país, os yakuzas, um dos traços da cultura nipônica que mais fascinam os ocidentais.

O principal mérito de "Yakuza" é o seu enredo, que faz o jogador mergulhar fundo no complexo submundo das máfias japonesas. Isso vem em forma de um universo fascinantemente construído, apimentados por temas como a honra, ambição, amor, traição e obviamente muita violência.

Uma história de violência

A primeira vista, "Yakuza" pode parecer uma espécie de "Grand Theft Auto" oriental, mas sua construção é muito mais parecida com games como "Resident Evil" ou "Onimusha", por exemplo - tem até aqueles baús milagrosos que guardam uma quantidade enorme de itens e podem ser resgatados de qualquer exemplar do contêiner. É um típico jogo de ação e adventure, com foco nos combates corpo-a-corpo. A diferença é que o universo é baseado no Japão contemporâneo, sem traços de fantasia.

O protagonista do game é Kazuma Kiryu, um gângster temido pelos adversários e conhecido pelo apelido de "dragão de Dojima", em referência à sua força e a "família" a qual pertence. Mas sua vida muda radicalmente no dia que recebe o aval de seu chefe - "oyabun" na linguagem dos yakuzas - para iniciar uma nova gangue afiliada. É que seu melhor amigo, Akira Nishiki, mata o chefe de sua organização. Diante das circunstâncias - Nishiki tem uma irmã à beira da morte -, Kazuma acaba assumindo a culpa pelo assassinato. Dez anos depois, e expulso da máfia, ele é solto, mas seus problemas estão apenas começando.

Sua ex-gangue está em seu encalço e acontecimentos estranhos começam a surgir. No centro do furacão está uma garota que tem o segredo dos 10 bilhões de ienes roubados da organização criminosa. Disposto a proteger a menina e encarar seu passado, Kazuma decide enfrentar seus ex-companheiros.

De fato, o ponto alto do game é o enredo, que mergulha fundo na estrutura dos mafiosos orientais. É incerto até onde os fatos têm cumplicidade com a realidade, mas ao menos tudo parece ser autêntico. Estão ali os aspectos bem conhecidos desse mundo, como as tatuagens intrincadas, geralmente retratando dragões, que preenchem todo torso dos mafiosos. Há também os traços de lealdade e o fato que a traição ou a falha não são perdoadas - nesse caso, a pena é ter cortados algumas falanges dos dedos. Está aqui também a ambigüidade moral do mundo dos yakuzas, com algumas atitudes nada fáceis de compreender. As cenas não-interativas ocupam boa parte do jogo e não poderia ser diferente num jogo que tem uma história tão intrincada como "Yakuza".

Massacre no bairro japonês

Mas o título não é apenas enredo. As lutas ocupam boa parte do jogo em si e a Sega mais acerta do que erra. Os combates são essencialmente divertidos e quase sempre Kazuma confronta cinco ou seis inimigos ao mesmo tempo. O ex-yakuza conta com alguma variedade de golpes e seqüências, usando um estilo típico das brigas de rua.

O sistema é funcional e abrangente. A variedade de golpes pode não ser tão grande assim, mas é preciso variar os movimentos dependendo da situação, se quiser ser eficiente. Aqui, ficar esmurrando apenas um botão tem uma eficácia apenas limitada e é quase impossível se safar em combates mais duros.

A mecânica de lutas fica um pouco mais envenenada com a adoção de alguns elementos, como a barra "heat". Ela aumenta conforme desfere os golpes e quando atinge um determinado nível, é permitido usar golpes especiais, como bater a cabeça dos oponentes contra a parede ou jogá-los para um lago. Esses movimentos merecem até uma demonstração especial, o que é bacana, mas tem a desvantagem de perder os oponentes de vista.

Outro ponto que apimenta as lutas é que há uma série de armas "brancas" espalhadas pelo cenário. Há desde as tradicionais como espadas, facas, tacos de golfe e bastão de beisebol, e outras inusitadas, como mesas, bicicletas e ornamentos para jardim japonês. Cada um deles tem resistência - ou seja, dura apenas uma determinada quantidade de pancadas - e características próprias. Geralmente, as armas conferem vantagens, mas nem todas são assim.

Você contra o mundo

Há também um componente de evolução no personagem, como nos RPGs. À medida que derrota os inimigos e usa itens, Kazuma ganha experiência, que pode ser aplicado em três parâmetros distintos: espírito, técnica ou força física. O sistema lembra o de "Onimusha 3", por exemplo. Ao elevar esses quesitos, além de ficar mais forte, o personagem ganha amais golpes e habilidades. Há como aprender golpes especiais também: basta ter certo nível nos três parâmetros e conversar com um mestre de artes marciais.

A dificuldade está em lidar com vários inimigos ao mesmo tempo e o Kazuma não conta com golpes milagrosos que cobrem um raio amplo. Então, o posicionamento, a defesa e a esquiva são movimentos de grande importância. Felizmente, essas técnicas funcionam muito bem, ao contrário dos golpes, que podem atingir o vazio caso a mira não seja feita com cuidado. E errar os golpes pode ser extremamente perigoso. A dificuldade é equilibrada, oferecendo bom desafio para a maioria dos jogadores. Se você morrer muito, o game pergunta se quer abaixar o nível para "Easy", outro ponto de contato com alguns games japoneses como "Onimusha".

O problema é que, mesmo com tantos esforços para deixar os combates mais estimulantes, a enorme quantidade torna inevitável que se torne maçante mais cedo ou mais tarde. Isso é especialmente irritante quando você está andando pela cidade, onde, de repente, aparecem alguns gângsteres rivais para tirar satisfações, como nas batalhas de encontros aleatórios de muitos RPGs. Não é nada agradável ter a exploração interrompida por esses marginais e tampouco faz sentido no contexto da trama. Depois de inúmeros combates na rua, esses pés-rapados já deveriam saber que não são páreos para o protagonista, mas eles insistem em lutar. Tudo isso soa como uma tentativa barata de tentar aumentar o tempo de jogo. Além disso, o tempo de carregamento também contribui para a irritação.

Café só um pouco quente

Um dos aspectos mais impressionantes do game é a fidelidade com que foi reproduzido o ambiente onde acontece o game. Kamuro lembra bairros como Shinjuku, com uma vida noturna agitada, daqueles lugares que nunca dormem. Todas as características desse tipo de bairro foram copiadas, como as ruas principais cheias de néons, com ampla variedade de estabelecimentos, principalmente restaurantes e casas de entretenimento - desde as mais inocentes até as de diversão para adultos.

Mas o que dá vida aos ambientes são as pessoas se nela habitam. Além de bem povoado, quase todos os "bonecos" são diferentes entre si, tanto em aparência como em comportamento. Basta ver uma cena não-interativa para ficar impressionado com a quantidade de rostos, roupas e tipos físicos diferentes. Além de pessoas transitando pelas ruas, você pode avistar situações como a de senhores abordando garotas com roupas de colegial e suas indefectíveis meias largas ou um grupo de assalariados andando em bando. Sem falar em tipos suspeitos aqui e ali. Pena que essa variedade não tenha se estendido aos inimigos que você enfrenta, todos eles uniformizados com seus eternos ternos pretos.

O game é fortemente conduzido pelo roteiro. As missões do game são relativamente simples, praticamente não saindo do tradicional "vá do ponto A ao B", "encontre pessoa tal" ou "derrote esse chefe". Mas tem horas que o jogo dá um pouco mais de liberdade para o jogador, e é nessas horas que você pode explorar um pouco mais o bairro - quando não for interrompido pelos pés-de-chinelo, é claro.

Existem algumas missões alternativas, que também não aumentam o nível de complexidade, e uma variedade de minigames para jogar. Você pode tentar ganhar dinheiro nos cassinos - há roletas, 21 e o bacará para jogar - ou se aventurar em outros tipos de apostas. Tem também o UFO Catcher, um lugar para rebater bolinhas com um taco de beisebol e até uma espécie de clube da luta. Mas talvez um dos mais intrigantes seja o cabaré, onde você pode conversar com as "hostess" e até conseguir ir além. Essa parte funciona como um simulador de namoro: dependendo das respostas ou presentes que der, o nível de empatia pode subir ou descer. Mas não espere nada muito picante.

Tudo isso é opcional. Nada disso é extremamente relevante para ter algum impacto na qualidade do título, mas é um extra que ajuda a dar mais longevidade a "Yakuza" e, principalmente, complementa a sensação de verossimilhança com os bairros da vida real. Se há um porém é que, diante de mapas gigantescos que tem tamanho de quase uma cidade inteira, caso de "Grand Theft Auto", o bairro de Kamuro parece um ovo diante de tanta imensidão. Pode-se argumentar que a Sega preferiu valorizar a qualidade - objetivo mais que atingido - mas um mapa que leva, quando muito, uma hora para ter tudo explorado parece muito pouco para um game desse nível de produção.

O Japão é aqui

Visualmente, o jogo é agradável. Os cenários não são dos mais complexos, mas o projeto das fases foi bem estruturado, o resultado final ficou de alto padrão. Mais uma vez, o destaque fica para o povoamento das ruas do bairro de Kamuro. É impressionante o número de pessoas que aparecem ao mesmo tempo da tela, sem demonstrar quase nenhuma lentidão. E os manjados truques de superexposição de luzes, como as dos néons, e do borrão dos planos que não são os primários também ajudam a criar cenas mais críveis.

Porém, o destaque vai mesmo para os personagens. Se até mesmo os que fazem "pontas" são tão variados, que dirá os que estão no centro da trama. A Sega, como uma produtora japonesa, não cai nos estereótipos do gênero, e cria uma seleção de figuras realmente diferenciados, tanto em suas características físicas como em seu esqueleto moral, além de sua própria história de vida. E tudo isso define a essência dos personagens. Em termos técnicos, os rostos estão bem modelados, mas a animação corporal mostra algumas falhas em determinados movimentos.

Já a ala sonora não mostra o mesmo requinte. Apesar de trabalhar bem o ruído ambiente, como o de várias pessoas falando ao mesmo tempo, e o barulho dos socos e chutes, a trilha sonora e pouco marcante. Nos combates, há uma música mais enérgica com guitarras distorcidas, mas soa como um rock meio genérico. A dublagem é competente, com destaque para Darryl Kurrylo como Kazuma Kiryu, Michael Madsen como Futo Shimano e Mark Hamill como Goro Majima. Mas algumas falas foram prejudicadas para se adaptar à sincronia labial feita para os diálogos japoneses, que, infelizmente, não foram mantidos. Também não ajuda um personagem japonês falando com um sotaque típico de um rapper.

Seja um yakuza sem precisar se tatuar

O ponto alto de "Yakuza" é fazer o jogador mergulhar no fascinante submundo do crime e da cultura urbana no Japão. Isso é feito através de personagens bem delineados e fortes, uma história intrigante e ótimas cenas de combate, ainda que repetitivo em certos momentos. Além disso, reproduz com extrema fidelidade um dos principais cenários japoneses, o dos bairros de entretenimento. Tudo isso compensa as missões simples, o mapa pequeno e combates que podem acontecer em número excessivo, sem se preocupar em perder o dedo caso não tenha sucesso numa missão.

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    Yakuza (Playstation 2)

    122 imagens

    FICHA TÉCNICA
    Fabricante: Sega
    Lançamento: 05/09/2006
    Distribuidora: Sega
    Suporte: 1 jogador, cartão de memória
    RecomendadoAvaliação:
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