Sega Rally 2006

"Sega Rally" nasceu nos arcades, em 1995, numa época em que a Sega lançava um clássico atrás do outro, principalmente nos fliperamas. No mesmo ano, foi convertido para o Saturn, sendo um dos melhores jogos da biblioteca do finado console de 32 bits. Até então, dizia-se que jogo de rali não vendia.

O grande diferencial do game produzido por Tetsuya Mizuguchi, que depois viria a produzir títulos como "Space Channel 5", "Rez", "Meteos" e "Lumines" era o fato de a tração mudar para cada tipo de terreno, isso numa época que a programação de física ainda não tinha tanta importância quanto hoje.

Enfim, depois de mais de uma década, chega a nova versão de "Sega Rally", sem a mão de Mizuguchi, que agora trabalha numa companhia própria. A sensação é que a edição de 2006 parou no tempo, tentando viver só de nostalgia. Essa impressão é reforçada ainda mais pelo disco extra, que veio apenas na primeira leva da edição japonesa, e mostra por que o original é um clássico e o atual, mais um jogo de corrida.

Derrapando na pista da evolução

"Sega Rally 2006" não leva o nome à toa, pois os controles são bem parecidos com o original. Como um game de rali, em que na maioria das vezes as pistas têm pouca aderência, as curvas, principalmente as mais fechadas, precisam ser feitas deslizando os pneus. Um estilo bem diferente de um "Gran Turismo", por exemplo.

Logo nas primeiras voltas, já é possível perceber que o estilo é igual ao primeiro "Sega Rally". Basta girar o volante com mais intensidade para a traseira começar derrapar. Sendo assim, conhecer a pista previamente é muito importante, pois se aparecer uma curva para outra direção, é preciso compensar a inclinação.

O modo arcade conta com três séries de quatro pistas cada um. Assim como o número de carros, 13, é bem menor que seus concorrentes, que trazem mais circuitos e muito mais modelos de veículos. É mais uma prova que a edição de 2006 não evoluiu muito em dez anos de atividade.

Carreira desconstruída

A novidade agora é um modo de carreira, mas que não traz avanços muito mais significativos que o modo de arcade. Tudo que o jogador precisa fazer é escolher participar ou não das competições de um calendário, ganhando dinheiro em cada uma delas, para comprar melhores equipamentos para seu carro.

Mas não espere encontrar aquela enorme variedade de peças - tudo é muito básico. Algumas provas necessitam que os carros estejam preparados para uma classe superior, e os "upgrades" não são exatamente baratos. Quer dizer, se não conseguir um bom desempenho nas provas abertas a todos os participantes, fica difícil participar dos eventos mais restritos.

Por mais que se assemelhe à realidade - afinal provas automobilísticas tem data certa para acontecer - é uma limitação de liberdade que não faz sentido em um jogo. Não custava nada o jogador poder escolher as provas, assim, quem tem menos experiência poderia repetir provas mais simples para conseguir dinheiro. Existe também a possibilidade de trocar de pneu, cuja escolha é feita pelo tipo de terreno.

O grande problema dessa modalidade é que, depois de algum tempo, as pistas começam a se repetir, apesar de o jogo tentar variar o estilo de competição, entre provas Race, corrida em pista única com sete outros competidores; Rally, cuja disputa acontece pelo tempo total de várias pistas; Time Attack, uma corrida contra o tempo; e Versus, uma competição contra um único adversário.

Além das duas modalidades descritas, ainda há o Time Attack, que permite repetir cada uma das pistas liberadas no modo de carreira. Mas ficou faltando uma modalidade online, presente em "Sega Rally 2" para Dreamcast e até mesmo na versão para Saturn, através de um acessório especial.

O que era bom, se foi...

Os comandos são os triviais de um game de corrida, com acelerador, freio, breque de mão e trocas de marchas, caso a opção seja pela transmissão manual. Mas o game não é do tipo que exige controles precisos, e sim saber lidar com as derrapagens, principalmente em curvas mais fechadas ou as em seqüência. A emoção caiu, já que a sensação de velocidade é menor na edição de 2006, pelo menos com os carros menos potentes.

As pistas também não são muito atrativas, com desenhos pouco inspirados. Enfim, são corridas pouco empolgantes e curtas. Além disso, o game não faz questão de esconder os "pop-ups": conjuntos inteiros do cenário aparecem do nada na maior cara-de-pau. Isso é uma limitação técnica do PlayStation 2, mas hoje em dia há muitas maneiras para esconder ou minimizar esse problema.

Além disso, toda a construção da tela é bastante simples, com pouca variação de textura e cenários bastante pobres. Numa época em que os jogos de corrida atingiram um grau de evolução muito grande, a Sega precisaria rever seus conceitos antes de lançar uma continuação de um clássico. Ao menos, o fluxo de tela ocorre de maneira suave, a 60 quadros por segundo. Mas isso já acontecia no original de arcade de 1995.

O modelo dos carros, baseados em veículos reais - tem até um Ford Focus - estão com um bom nível de detalhes e até contrastam um pouco com a simplicidade dos cenários. Até existe um sistema de danos, mas é apenas cosmético, isto é, nada que interfira nos comandos. O resultado são alguns amassados na lataria e vidros quebrados, sem muitos detalhes.

A trilha musical combina com a ação, com composições agitadas. Os efeitos sonoros, se não se sobressaem, também não deixam de cumprir seu papel. Mas a maior característica do game é mesmo a voz do navegador, que indica a direção e a intensidade da próxima curva. Mas o melhor mesmo é já conhecer a pista. Com um tom moderado, não é das vozes mais irritantes e, se for o caso, é possível desligar o recurso.

Clássico maculado

"Sega Rally 2006" é mais uma série clássica que a Sega parece estragar - já fez isso com "Shadow the Hedgehog". Seu pecado maior é ter parado no tempo, enquanto os games de corrida progrediram vertiginosamente, e o que foi excelente há uma década, já não funciona mais no mundo de hoje. Basta ver como não houve tanta evolução desde "Sega Rally" original para o arcade para a edição de 2006.