Jogos de tiro com pistola existem desde os primórdios do videogame e, apesar de terem perdido o sabor de novidade há muitos anos, volta e meia algumas produtoras resolvem apostar fichas no gênero, principalmente aquelas que trabalham também com fliperama, plataforma na qual esse tipo de jogo sempre fez mais sucesso. A Namco é uma dessas empresas, com forte atuação no mercado japonês, e resolveu trazer o novo capítulo de sua tradicional série, "Time Crisis", para o Playstation 3, com direito a uma nova versão da pistola Guncon e vários extras exclusivos.
Dois jogos em umNa verdade, chamar de extras as novidades de "Time Crisis 4" no PS3 seria simplificar bastante. A Namco, além de converter a versão lançada para fliperamas em 2006, um tradicional "rail shooter" (requer apenas que o jogador atire nos inimigos, passando por caminhos pré-determinados), também criou um modo inteiramente novo, chamado Complete Mission. Ele funciona como um jogo de tiro em primeira pessoa tradicional, oferecendo a possibilidade de controlar inteiramente a movimentação e a câmera, escolhendo por onde andar e atirar.
A forma que a produtora encontrou para integrar estes dois modos na história também foi interessante. No modo principal, o Arcade, um ou dois jogadores escolhem entre Giorgio Bruno e Evan Bernard, agentes de uma organização global anti-terrorista que viajam para a Califórnia com a missão de impedir que a organização criminosa W.O.L.F. contrabandeie uma nova arma biológica para os EUA.
A ação começa em um aeroporto fechado e os dois heróis são logo apresentados à nova ameaça: uma raça de insetos apelidados de Terror Bites, que destroem tudo o que encontram pela frente. Ali eles também conhecem o Capitão Rush, protagonista do modo Complete Mission, que surge na história para tapar os buracos da trama que o modo principal deixa em aberto.
Correndo contra o tempoO Arcade Mode não foge à fórmula da franquia, com os inimigos sempre se escondendo dos tiros e um cronômetro que pressiona o jogador a despachá-los o mais rápido possível - ou morrer tentando. É preciso apertar um botão para se expor e conseguir uma visão de tiro. E à sua frente geralmente se encontram vários inimigos, que pipocam de todos os lados, com diferentes métodos de ataque. Há trechos ainda mais perigosos, onde é necessário rotacionar entre várias telas para atingir oponentes que se aproximam por diferentes direções.
O arsenal à disposição é eficaz, composto por uma pistola com tiros infinitos e armas de maior calibre com munição limitada: uma metralhadora, uma escopeta e um lançador de granadas - que podem se alternar à escolha do jogador, em qualquer momento do jogo. Durante os tiroteios, surgem soldados inimigos com roupas douradas que dão mais munição, mas que geralmente estão acompanhados por vários guarda-costas, e locais específicos que dão bônus ao jogador que estiver utilizando a arma mais adequada para aquela situação.
À medida em que se explora o modo por repetidas vezes, aperfeiçoando sua mira e memorizando o posicionamento dos inimigos, é possível ganhar novos continues para chegar até o final. Mas eles não são tão necessário: o jogo não é dos mais difíceis e já que a posição dos inimigos se mantém inalterada, é só uma questão de saber como e onde irão atacar e medir bem seus reflexos, o que colabora para a curta vida do modo.
Explorando um novo modoO que salva "Time Crisis 4" de uma morte prematura é o Complete Mission, no qual é possível controlar o Capitão Rush com a Guncon 3, que vem equipada com dois direcionais analógicos e seis botões (na verdade oito, se levarmos em consideração que existem comandos que exigem o pressionamento dos direcionais). E acredite: todos eles são utilizados.
Rush anda, mexe a cabeça, pula, agacha e utiliza mais armas que seus dois companheiros, com direito a uma faca e granadas, para atravessar 15 estágios. Ao contrário do Arcade, não há um círculo de mira na tela que indique a posição dos inimigos, deixando a experiência mais realista e emocionante. Ele também tem direito a fazer coisas mais interessantes, já que recebe objetivos específicos durante as missões. No fim das contas, nada muito complexo, mas só a possibilidade de escolher como atacar os inimigos já aumenta bastante a profundidade.
Além dos modos principais, há ainda alguns minigames que testam o reflexo e a precisão do jogador e missões extras, as chamadas Crisis Missions, que são habilitadas com após o fim do modo Arcade.
Questões tecnológicasComo explicado anteriormente, "Time Crisis 4" vem acompanhado de uma pistola Guncon 3, que não é vendida separadamente, o que torna a experiência para dois jogadores um tanto quanto decepcionante, já que o segundo jogador terá que comprar outro game para ter a pistola ou encarar tudo com o controle tradicional, o que tira boa parte da diversão.
Não que o novo modelo da pistola da Namco seja uma grande maravilha da tecnologia: para ter espaço ter para tantos botões novos, ela ganhou um suporte lateral fixo que não só a deixou mais pesada e desbalanceada como a restringiu para destros. Resta ao esquecido canhoto se acostumar ou tentar ajustar os comandos na tela de opções e tentar deixar tudo menos frustrante.
A pistola é laranja e de um plástico de resistente, mas seus botões nem sempre são confiáveis, pois por vezes agarram ou falham em captar alguns comandos. Já a precisão depende do posicionamento adequado de dois sensores infravermelhos, que devem ser colocados na borda da televisão, a exemplo do Wii. Os dois são ligados a uma porta USB enquanto a Guncon 3 ocupa outra, tornando o jogador refém de um emaranhado de fios.
Aproximando-se mais dos fliperamas, a Namco também oferece a opção de instalar conteúdo do jogo no disco rígido para diminuir o tempo de carregamento entre as fases. É uma instalação um tanto quanto demorada e que ocupa quase 3GB do HD - o que faz pensar se realmente é necessária para exibir, no geral, sons e gráficos meramente burocráticos, dentro do padrão estabelecido pela série, com seus personagens caricatos, texturas simples e barulhos de tiros geralmente genéricos.
CONSIDERAÇÕES
"Time Crisis 4" tenta dar ao velho e ainda divertido jogo de tiro com pistola um merecido toque de profundidade ao criar um modo inspirado nos games em primeira pessoa. E consegue um resultado satisfatório. Mas com o desengonçado design da pistola e sem apresentar maiores atrativos no ponto de vista visual ou sonoro, se restringe a jogadores mais antigos, que cresceram no auge dos fliperamas e curtem jogar repetidas vezes o mesmo título somente para aumentar seu placar.