Dead Head Fred

Embora muitos games sejam povoados por criaturas estranhas e sejam pródigos em situações bizarras, "Dead Head Fred" consegue ficar um nível acima do costumeiro. Afinal, não é todo dia que aparece um jogo cujo personagem principal é capaz de trocar o crânio. E essa é apenas uma das esquisitices do título da Vicious Cycle, que deve ser aplaudida por trazer um game original para o PSP, enquanto muitos trilham o caminho fácil dos remakes e continuações.

O título é saudável mistura de ação de plataformas, combates e adventure, permeado de quebra-cabeças. O estilo de jogo pode não ser exatamente original, mas o que brilha é a deliciosa mistura humor e horror, que lembra obras do diretor Tim Burton (como "Marte Ataca!") ou a clássica série "Tales from the Crypt".

Novo Frankenstein

Fred Neuman era um detetive de Hope Falls, uma cidade devastada por um acidente nuclear, que a tornou um antro de zumbis e criaturas mutantes. Mas o protagonista acaba decapitado por ir a fundo demais na investigação contra o poderoso Ulysses Pitt, um gangster disfarçado de filantropo. Ele é ressuscitado por um cientista maluco, mas não por completo. Sem o crânio original, o jeito foi colocar o cérebro e os olhos numa espécie de garrafão, recheado com gin de três anos. Agora, ele está atrás de vingança e, claro, de seu rosto como veio ao mundo.

Mas a cabeça provisória de Fred não chega a ser de todo ruim, pois é capaz de regenerar a energia com o passar do tempo. Melhor, a nova constituição de seu corpo lhe permite trocar o crânio e, com isso, ter diversas habilidades distintas. Esse sistema é a parte visceral do jogo, principalmente no diz respeito à resolução de quebra-cabeças, mas também é largamente utilizada nos combates.

Games de horror costumam ter uma mansão como cenário e isso não é diferente em "Dead Head Fred". A exploração começa num casarão, e, ao menos nessas partes iniciais, o game é bastante linear, aproveitando, também, para ensinar as principais funcionalidades. Mas, mais para frente, o jogador ganha mais liberdade para vasculhar todos os cantos da Hope Falls.

Use a cabeça. Mesmo!

A chave para resolver os quebra-cabeças está na utilização do crânio correto, pois sada um deles possui uma série de funções específicas. A cabeça de pedra, por exemplo, permite Fred mergulhar em líquidos, sem precisar se preocupar com a respiração. Também tem grande força, podendo quebrar certos objetos e obstáculos, mas, por outro lado, não é veloz nem pula muito bem. Já o rosto de defunto é maleável e pode sugar e armazenar gases e fluidos. Enchendo de hélio, o personagem plana, e a água serve para apagar o fogo, por exemplo.

Com o tempo, novas cabeças são acrescentadas à coleção, podendo também ser melhoradas, adicionando ainda mais funções. Algumas vezes, você pode roubar o crânio dos inimigos. Aliás, os combates também exigem inteligência, pois existem modelos mais eficientes contra certos oponentes e não adianta muito apenas bater indiscriminadamente. Para lutar com eficiência é preciso usar de contra-ataques e de golpes de finalização.

O primeiro acontece quando, durante a defesa, o oponente usa certos ataques (é preciso, também, ter a cabeça correta). Com isso, ao aparecer a indicação do botão na tela, é só apertar o correspondente e ter sucesso no minigame, que é bastante simples. Já os golpes de finalização, aplicados contra um adversário grogue, faz arrancar a cabeça, no melhor estilo "Mortal Kombat". Mesmo com essas variações, as partes de combates tendem a ficar repetitivas.

Bem-vindo a Hope Falls

O game também tem seções de ação de plataformas, que exigem alguma habilidade com saltos. No começo as coisas são simples, mas começam a complicar com a evolução do enredo. Os controles, ao menos, funcionam bem, tirando a fato que, em algumas situações, a câmera não funciona direito.

A melhor parte fica para a exploração e as partes de quebra-cabeças, bastante inventivos e com dificuldade equilibrada: mesclam alguns enigmas simples com alguns mais complicados, mas sem extremos. A passagem para certos lugares depende de novas aquisições, e essa parte lembra o esquema de "Metroid". Ou seja, é um jeito de deixar o jogador intrigado com aquela porta que não abre, por exemplo, para só mais para frente desvendar o enigma.

Desenvolvido exclusivamente para o PSP, "Dead Head Fred" sabe usar muito bem os recursos do PSP. É um jogo com respostas rápidas e adaptado ao direcional analógico do portátil, que tem menos precisão que um controle de PlayStation 2, por exemplo. O controle da câmera é feito em conjunto com o botão R, uma boa sacada. A tela tenta ser o mais livre possível de medidores, que só aparecem quando estritamente necessários.

Humor na telinha

Assim, quase toda tela é aproveitada para mostrar a excelente direção de arte do jogo. Nem tanto pelos cenários, que são bonitos, mas principalmente pelos excêntricos personagens principais. Fred tem olhos e cérebro que ficam flutuando dentro do garrafão, enquanto Pitt exala aquela imponência de um Rei do Crime (vilão do universo Marvel). Seu comparsa lembra um certo ditador germânico, mas atrofiado de um lado do corpo.

São esses caras que dão show nas cenas não-interativas, abrilhantadas pela ótima dublagem de John C. McGinley, o dr. Cox da série "Scrubs". Ele dá cor irresistível ao protagonista, misturando humor e sarcasmo. A boa trilha sonora também segue o mesmo tom sombrio, mas sem ser fúnebre demais.