Apesar da escassez de jogos originais e criativos, o PSP é um verdadeiro reduto para alguns dos remakes de melhor qualidade do mercado. Releituras como Mega Man: Maverick Hunter X e Castlevania: The Dracula X Chronicles não deixam em dúvidas sobre como o poder de hardware e as características multimídia do aparelho são perfeitas para turbinar experiências já memoráveis.
Um dos tipos de remakes mais comuns no PSP são as adaptações de jogos do primeiro PlayStation, que por vezes aparecem em formato original, apenas adaptados ao portátil, por vezes se dão ao trabalho de retornarem com quitutes adicionais. Este último é exatamente o caso de Star Ocean: Second Evolution, versão levemente melhorada de Star Ocean: The Second Story, um dos melhores - e menos conhecidos - RPGs do PlayStation.
A segunda história pela segunda vezA aventura original foi lançada em 1998 e é fruto da Enix antes da fusão com a Squaresoft. Continuação direta do primeiro Star Ocean, de 1996 para Super Famicom (que só saiu no Japão), a história trata de um planeta fictício parecido com a Terra no qual vai parar por engano o jovem Claude C. Kenni. Lá encontra com Rena Lanford, uma moça praticante de magia que decide ajudá-lo a encontrar um caminho para casa.
O fato é consequência de um evento que traz monstros ao planeta e ameaça destrui-lo por completo. Cabe à dupla e uma série de amigos encontrar uma maneira de solucionar o problema, o que os leva ao clichê mor dos RPGs: uma jornada fantástica por vários continentes - e até outras dimensões - com o objetivo de salvar o mundo.
O enredo clichê, porém, esconde uma experiência de jogo das mais profundas já vistas na era 32-bits e até mesmo hoje em dia no PSP. Marcas registradas da antiga Enix são patentes: o estilo anime dos personagens, a lista quase infindável de itens (úteis e até inúteis), a possibilidade de ensinar habilidades das mais diversas aos seus heróis. Paradigmas que hoje afloram em produções de outros estúdios, como a Atlus, Nippon Ichi e Vanillaware.
A jornada é absolutamente extensa, exigindo no mínimo 40 horas de dedicação para se alcançar o final básico, deixando de lado boa parte das missões paralelas - que, claro, rendem itens e poderes de alto nível. A quantidade de heróis para seu grupo também é de raro exagero: doze do original e mais alguns extras, exclusivos do PSP.
Entre outras perfumarias únicas daqui, contamos com dublagem competente para diversos diálogos e um calabouço adicional com chefões novos. Não são novidades que chegam a conferir ar de novo ao título - como tanto queria o produtor Yoshinori Yamagishi - mas instigantes o bastante para animar até veteranos a jogarem novamente.
Certas coisas não mudam... muitoO sistema de batalhas permanece inalterado e acaba se mostrando um sistema à prova do tempo. Ainda que sejam perceptíveis certas limitações e até uma falta de praticidade, ainda hoje, 11 anos depois, o misto de ação, estratégia e turnos é uma alternativa agradável e divertida às tradicionais batalhas por turno que até hoje imperam nos RPGs de videogame.
Os gráficos permanecem também intocados, apenas adaptados aqui para a ampla tela widescreen do portátil. Contudo, tanta tecnologia trouxe também um problema: a resolução de tela é um bocadinho maior do que a do game original. Resultado, os sprites de cenários e personagens parecem um pouco borrados demais por conta do filtro usado para maquiar o estouro de pixels. Tipo de detalhe que só deve ser pego pelos veteranos.
Por fim, a trilha sonora de Motoi Sakuraba continua marcante, apresentando a toda uma nova geração de fãs de RPG um estilo razoavelmente diverso daquele tão consolidado por Nobuo Uematsu na série Final Fantasy. Diferente, mas cativante e de qualidade.
CONSIDERAÇÕES
Star Ocean: Second Evolution não é um dos remakes mais empenhados já vistos no mercado. As adições são poucas, mas ainda assim bacanas. O verdadeiro brilho do game reside na qualidade que ele já tinha há mais de uma década e mesmo hoje continua a reluzir como mais uma alternativa ao saturado mercado de RPGs.