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26/10/2006 - 13h01

Entrevista: Gregório "DeathGun" Marinheiro

da Redação

Divulgação

Gregório 'DeathGun' Marinheiro, medalha de prata no WCG 2006

Gregório 'DeathGun' Marinheiro, medalha de prata no WCG 2006

O confronto final de "Warhammer 40,000: Winter Assault", durante o World Cyber Games 2006, competição de esporte eletrônico que aconteceu de 18 a 22 de outubro em Monza, na Itália, colocou em lados opostos dois jogadores de estilos distintos: o coreano Kyung Hyun Ryoo, cujos dedos percorriam insanamente o mouse e o teclado, e o brasileiro Gregório Xavier Marinheiro, 22, conhecido como "ToT|DeathGun", que jogava com a calma de quem parecia estar conferindo a caixa de e-mails.

Na melhor de três, o ouro acabou nas mãos do coreano - o país tem grande tradição nos jogos de estratégia em tempo real -, que venceu por 2 a 1, mas a disputa foi acirrada. DeathGun levou para João Pessoa, na Paraíba, a única medalha do Brasil na competição, que rendeu ao país o 10º lugar no ranking geral, além de US$ 10 mil.

O dinheiro será de extrema importância para o ciberatleta, que recebe apenas 70 euros mensais, referentes a um patrocínio de seu clã, e que deixou os estudos e o trabalho para dedicar-se à carreira de jogador profissional. O primeiro gasto de Deathgun será com as passagens de avião entre João Pessoa e São Paulo (ida e volta), que não foram cobertas pelo patrocinador do torneio e quase o deixaram de fora do World Cyber Games 2006.

Deathgun pensou seriamente em interromper a carreira de ciberatleta no ano passado, quando foi eliminado logo na primeira fase do WCG 2005, em Cingapura. "Eu realmente esperava perder apenas para o campeão e ficar com o segundo lugar, e isso na época me deixou muito frustrado e com a decepção entalada na garganta até hoje", disse. Agora, ele já pensa em se mudar para o exterior, para treinar e disputar outras competições.

Confira entrevista exclusiva com Deathgun:

UOL Jogos - Mesmo após conquistar a vaga para o mundial, com as despesas de viagem à Itália pagas pelo patrocinador, você teve dificuldades disputar a competição. Fale sobre isso.

Deathgun -
A organização não cobria os custos da minha viagem até São Paulo, para pegar o vôo internacional, então eu tive que me virar: arrumei um vôo de última hora, que ainda não paguei, deixando para ver até a hora que voltasse. Foi tudo na pressa mesmo.

Eu só vim porque meu pai insistiu, dizendo para eu comprar a passagem de qualquer maneira, que nós resolveríamos depois. Se não fosse isso, não teria nem me dado ao trabalho de comprar a passagem e ligaria para a organização avisando que não poderia viajar para a final mundial.

UOL Jogos - Por que desta vez seu desempenho foi tão diferente?

Deathgun -
O que fez a diferença foi a experiência, um pouco mais de humildade e de sorte, com certeza.

UOL Jogos - Quais as diferenças entre seu estilo de jogo e o dos coreanos?

Deathgun -
Eu sou até rápido, em comparação à média dos jogadores, mas o ritmo dos coreanos é muito frenético, então qualquer um que jogue ao lado deles fica parecendo uma lesma.

UOL Jogos - Com essa conquista, como fica a sua carreira de ciberatleta?

Deathgun -
O 2º lugar em um campeonato mundial, sem dúvidas, influencia nas decisões sobre o meu futuro. Mas, no Brasil, é difícil, pois o atleta não tem para onde correr e falta dinheiro. Então, se for para acontecer algo, será fora do país, mas ainda preciso pensar à respeito.

Já pensei em parar dezenas de vezes, mas sempre aparece um torneio e o que eu gosto de fazer é competir, então acabo postergando essa minha "aposentadoria".

UOL Jogos - Quais as principais dificuldades para um ciberatleta no Brasil?

Deathgun -
Falta de incentivo. Como não há patrocínio, não há como jogar: você precisa trabalhar oito horas por dia e estudar à noite. É simplesmente impossível.

A qualidade da conexão é outro problema: enfrentei problemas com isso durante os seis primeiros meses do ano e aí fica difícil jogar. Se a qualidade da conexão no Brasil, como um todo, já é péssima, no Nordeste é pior ainda, com uma falta de opções gritante. Você fica praticamente de mãos atadas, sem poder fazer nada. Quem decide se você será ou não competitivo nos torneios que participa são as empresas de telefonia do Brasil.

UOL Jogos - E porque, então, o bom resultado, diante de tais condições?

Deathgun -
Eu não sei lhe dizer, me pergunto isso todos os dias. Não sei como podemos ganhar das pessoas que têm internet praticamente de graça em cada lugar do país, que é levado a sério no onde mora pelo trabalho que faz.

É provável que seja porque, na hora do aperto, o brasileiro saiba se virar melhor que os demais jogadores. Não há outra explicação. O brasileiro tem tudo contra: é como se fosse participar de uma corrida carregando 50 quilos nas costas.

UOL Jogos - E o que você vai fazer com o dinheiro?

Deathgun -
Em primeiro lugar, vou pagar a passagem [risos]. Depois, vou pensar no que fazer com o dinheiro. Há um tempo atrás, pensei em vir à Europa para jogar; agora, vou levar mais a sério essa proposta. Mas, antes, preciso ver com a minha família a situação, pois ainda tenho negócios não-acabados por lá e não posso abandonar tudo de uma vez.
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